João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


 
                                         ROMANTISMO PEDAGÓGICO

Cerca de vinte e cinco por cento dos partos feitos pela Santa Casa de Mogi das Cruzes são realizados em adolescentes. A maioria tem menos de dezoito anos. Algumas ainda nem chegaram aos quinze. Esse é um grande problema de saúde pública, pois essas meninas ainda não têm um organismo preparado para uma maternidade sadia. Seus filhos geralmente nascem com alguma insuficiência que os leva a ficar muito tempo nas unidades de tratamento intensivo, com um alto custo para os cofres públicos. São estes bebês que fornecem a maior parte dos números que abastecem as estatísticas de mortalidade infantil. Meninas que se tornam mães muito cedo não estão preparadas para criar bem os seus filhos. A taxa de abandono é grande e a marginalidade alcança essas crianças com muita facilidade. São presas fáceis do chamado crime organizado. Sem amparo, sem educação, sem proteção do Estado, sem qualquer perspectiva de uma vida decente, acabam nos semáforos, nas ruas, fazendo de tudo para sobreviver. E quanto às jovens mães, a maioria abandona a escola e perde a chance de se educar, se profissionalizar e entrar pela porta da frente no mercado de trabalho. O que sobra para elas é o que ninguém desejaria para uma filha.
A mulher é dona do seu corpo e tem o direito de fazer com ele o que bem entender. Mas acho que as garotas de hoje deviam ter mais respeito pelos próprios corpos e  preservarem-se mais. Selecionar melhor seus parceiros e exigir deles maior responsabilidade. Uma mulher adulta, já resolvida na vida pode ser mãe solteira quando quiser e ninguém tem nada com isso. Mas uma menina que mal aprendeu a prover as próprias necessidades sozinha, não.  Ela gera um enorme problema social com sua gravidez precoce. Não sei se fizemos bem em banalizar o sexo. Hoje, um garoto conhece uma garota na balada e conversam, dançam, ficam por algumas horas. Se der química, é bem provável que terminem a noite numa cama de motel, ou na própria casa de um deles. Não há mais a ternura do namoro, nem a aproximação lenta e amplamente sugestiva dos pequenos avanços, realizados pouco a pouco, estrategicamente resistidos para aumentar o apelo à fantasia. As frestas estreitas, que se abriam pouco a pouco, desvendando o mundo infinito da imaginação, hoje são portas que se escancaram ao primeiro empurrão. 
Não sou saudosista mas acho que o romantismo pode ser pedagógico. Hoje, educadores de direita e de esquerda discutem (e divergem) sobre os conteúdos que devem ser inseridos nos currículos escolares do ensino fundamental e médio. Estão preocupados com as questões políticas que envolvem esse contexto. Até agora não ouvi ninguém falar do problema da gravidez precoce, que além de pesar no sistema previdenciário, reflete também na saúde e nas relações sociais e familiares. Parece até que esse problema não existe ou é de somenos importância. Está mais que na hora dos nossos políticos enxergarem que, além da política, existem outras coisas.  
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/01/2019
Alterado em 09/01/2019


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