CANTANDO NA CHUVA
A chuva cai lá fora
Com força e intensidade.
Já estava mesmo na hora
De chover nesta cidade.
Eu estou meio esturricado
Com esta estiagem.
Pareço arbusto de caatinga,
Enterrado na paisagem
De um chão amaldiçoado
Onde a vida nunca vinga.
Coração sem amor,
É como cama de viúva,
Onde falta o calor
De uma boa sacanagem.
Por isso vou sair na chuva,
Fazer alguma bobagem,
Passear novamente,
Sem pensar em nada
Como quando era criança
E seguia a corrente
Da alegre enxurrada,
Até onde a vista alcança.
Vou sair descalço,
Com a cabeça descoberta,
Como fazia antigamente.
Nos tempos de criança.
Quero dar um passo em falso
Mesmo que depois fique doente
Ou que a gripe seja certa.
A pior doença é a solidão,
Quarto vazio é um cadafalso
Onde se promove a execução
De toda a nossa esperança.
Quero andar a esmo,
Sem rumo e nem direção.
Quero regar a mim mesmo,
Como se fosse uma semente,
Que alguém jogou no chão.
Quem sabe eu veja tudo novo
Novo corpo, nova mente,
Quem sabe, novo coração.
Talvez assim eu quebre o ovo
E acabe nascendo novamente.
Quero a água em minha pele,
Quero seguir essa corrente,
Navegar nessa enxurrada.
Vou dançar na chuva também
Como fez o Gene Kelly.
Este desejo é muito antigo,
Não veio assim de repente
E não é uma coisa amalucada.
E quem sabe eu ache alguém
Que queira dançar comigo
Uma valsa na calçada,
Ao som de Singin’ in the Rain
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/05/2019