EMBARGANDO A MORTE
Desde que nascem, para todo ser humano,
Uma sentença de morte já vem prolatada.
Mas a gente não sabe nem o dia ou o ano,
Que essa pena capital deve ser executada.
Mas eu, se Deus não fizer muita questão,
De mandar executar logo essa minha pena,
Pretendo fazer um embargo de declaração,
Pois na verdade não entendi esse esquema.
Afinal, se vou morrer e depois reencarnar,
Tudo para melhorar a minha nota na vida,
Porque, nesta mesma, eu não posso tentar
Dar uma acertada na minha folha corrida?
Pois esse negócio de reencarnações várias
Parece uma pedagogia muito burocrática;
Exigir que tantas vidas sejam necessárias
Para aprender o que devia ser uma prática.
Se Deus fizesse toda essa coisa bem feita,
Não precisava se dar a esse baita trabalho
De fazer primeiro uma criatura imperfeita,
Para depois corrigir aos poucos, no malho.
Mas é assim que Deus vai nos moldando:
Nos jogando na terra sem muito requinte,
Depois, pouco a pouco seguir cinzelando,
Como se Ele fosse um Leonardo da Vinci.
Para mim essa estratégia é muito esquisita,
Porque tudo podia ser feito de uma vez só.
É triste estar aqui, agora tão cheio de vida,
E daqui a pouco me tornar um monte de pó.
Principalmente quando a vida é boa e bela,
É uma barrra saber que estamos morrendo.
Perceber que a alma é uma espécie de vela,
Que alguém só está apagando e acendendo.
Porque a Deus confesso com todo respeito:
De morrer, posso jurar que não tenho medo;
Mas eu trocaria as luzes a que tenho direito,
Por uma apenas que não apagasse tão cedo.
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João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/06/2019
Alterado em 15/06/2019