DIARRÉIA INTELECTUAL
O que uma ideologia espúria, fundamentada no ódio racial pode fazer todos nós sabemos. Há vários exemplos desses na História. E pelo visto, ainda não conseguimos superar essas sandices intelectuais. Ainda morremos e matamos por idiotices como essas. Acabamos de ter um claro exemplo dessa diarréia intelectual no infeliz pronunciamento do Secretário de Cultura do governo Bolsonaro, que citou, textualmente, parte do discurso do sinistro ministro de propaganda de Hitler ao assumir o comando da cultura da cultura alemã. Nessa ocasião, Joseph Goebbels, ao discursar para diretores de teatro alemães disse que “ a arte alemã da próxima década seria heroica, ferreamente romântica, objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada". Segundo Roberto Alvim, o homem que o Bolsonaro colocou na pasta da cultura por indicação do seu guru Olavo de Carvalho, “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada."
Não acredito em reencarnação e tenho minhas dúvidas quanto ao fato de o espírito de uma pessoa morta poder encarnar em uma pessoa viva. Mas se até Bolsonaro, um evangélico neo-pentecostal, reacionário, ultra direitista e simpatizante da ditadura, se sentiu incomodado com a “incorporação” do espírito “goebelliano” no seu secretário de cultura e imediatamente o exonerou, é porque nem ele conseguiu digerir o surto nazista do seu comandado.
Tudo bem. O presidente agiu certo ao exonerar Roberto Alvim. Mas isso não afasta a nossa preocupação com a ideologia praticada pelo governo Bolsonaro. A manifestação do nosso Goebbels tupiniquim não parece estar despregada de um contexto maior que impregna o atual governo, principalmente na área da cultura. Não foi apenas um deslize retórico de um sectário do bolsonarismo. Pronunciamentos de outros participantes desse governo, como a Ministra Damares Alves, já mostraram que o pensamento desse governo se encaminha nesse sentido. Há uma clara disposição do governo bolsonarista em “ encaixotar” a cultura brasileira num molde ideológico de autoritarismo que lembra, de fato, o modelo nazista. Não foi, em nossa opinião, apenas um deslize semântico do secretário que o levou a plagiar o ministro da propaganda de Hitler. Existe sim, um fermento ideológico nesse governo que incentiva reações nesse sentido. E ele transparece mais claramente nos campos da educação e da cultura, pois nestes, como bem viu Marx, está a “super-estrutura”, ou seja, a base do pensamento que forma o espírito de um povo. A manipulação consciente e dirigida dessa base foi a grande realização de Goebbel, como ministro da propaganda de Hitler. Através dessa manipulação ele promoveu uma autêntica lavagem cerebral no povo alemão, fazendo com que ele, coletivamente aderisse ao nazismo e fechasse os olhos, a mente e o coração para todas as atrocidades cometidas por esse odioso regime.
Eu sou otimista e acredito que toda notícia ruim tem o seu lado bom. O lado bom dessa diarréia intelectual que tomou conta do nosso país é que isso talvez sirva para abrir os olhos do nosso povo e nós possamos ver para onde estamos sendo encaminhados.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/01/2020