PELO FIM DAS TORCIDAS ORGANIZADAS
Torcida organizada é coisa tão antiga quanto corrida de cavalo. Sua origem mais remota vem da época de Roma, tendo chegado ao auge no tempo do Imperador Justiniano, quando elas se organizavam nos hipódromos e nos circos para apoiar corridas de bigas e lutas de gladiadores. Conta Gibbon (Declínio e Queda do Império Romano) que nas grandes metrópoles do Império, como Constantinopla e Antioquia, os aurigas (condutores das bigas) se vestiam de branco ou vermelho e os espectadores se organizavam para torcer para um ou outro. Com o tempo, essas torcidas começaram a se vestir com as cores do seu auriga, ou gladiador favorito, para ir ao circo e ao hipódromo. Não tardou muito para elas se identificarem com os partidos políticos que disputavam o poder. Nos tempos de Justiniano havia quatro facções, que refletiam os conflitos filosóficos, religiosos e políticos da época. Em conseqüência, começaram as brigas entre as torcidas fora dos estádios, que evoluíram para verdadeiras batalhas campais. Até as próprias autoridades entravam na briga para apoiar uma ou outra facção. Houve momentos que as lutas entre torcidas, em Constantinopla, se tornaram tão sérias que colocaram o próprio estado em risco.
Nos dias de Justianiano Roma já estava em franco declínio. Como bem observa Gibbon, os gregos inventaram o esporte para emular as virtudes que se adquirem numa boa educação física. Os jogos olímpicos eram uma forma de superação de limites. Em Roma era diferente. Os jogos do Circo eram patrocinados pelo próprio estado, como forma de deleite para um povo ocioso e servil. Também era usado como estímulo para emular as virtudes guerreiras que constituíam a principal característica do espírito romano.
As loucuras das facções do hipódromo bizantino têm sido apontada como um exemplo da corrupção dos costumes que levou a grandiosa civilização romana à ruína. O termo “bizantino” significa hoje coisa vazia, inútil, fútil. È o que parece estar acontecendo com a nossa civilização hoje. Quem olha para alguns desses indivíduos das torcidas organizadas mal consegue identificar neles um ser humano. E não pode deixar de pensar que estamos voltando aos tempos bizantinos, com seus gladiadores com espadas tintas de sangue, e turbas selvagens, com clavas nas mãos, prontas para romper as cabeças dos seus rivais.
Finalmente apareceu um juiz corajoso neste país, para dar um basta nessa excrescência do nosso futebol, que são as torcidas organizadas. Isso aconteceu no Pernambuco com as torcidas do Náutico, do Santa Cruz e do Sport, os três grandes clubes daquele estado. Medidas como essa deveriam ser tomadas no país inteiro para que o futebol voltasse a ser uma diversão familiar e não uma válvula de escape para um bando de delinqüentes e débeis mentais expressarem o que têm de pior em suas personalidades doentias.
Palmas para o juiz pernambucano. Que outros magistrados possam seguir o seu exemplo, dando aos brasileiros uma esperança de que este país ainda pode dar certo.