RETRATO DA SOGRA – HOMENAGEM Á MULHER
Quem quiser me chamar de puxa saco, chame que eu não me importo. O que é verdade tem que ser dito. Gosto da minha sogra como se ela fosse a minha própria mãe. Não estou blefando nem fazendo jogo de cena para agradar minha mulher. Ela sabe que estou sendo sincero.
Gostar da sogra pode parecer estranho para muita gente. Aliás, não sei por que essas nossas segundas mães adquiriram essa fama de britadeiras de casamentos dos filhos. A minha, ao contrário, tem sido mais uma fada madrinha, guardando nossos caminhos, do que uma bruxa malvada que vive lançando maus sortilégios sobre a nossa vida conjugal.
Também, nossa história está longe de ser banal. Minha atual sogra já foi antes minha cunhada; a filha dela, que hoje é minha mulher, era minha sobrinha. Ou melhor, sobrinha da minha falecida esposa, que era irmã da minha atual sogra. Pode parecer meio confuso tudo isso, mas é assim mesmo que as coisas são. Depois que a minha primeira esposa faleceu eu me casei com a sobrinha dela. Minha atual sogra, que então era minha cunhada, já era, naquela época, uma grande amiga da minha família.
Meu casamento com a primeira esposa durou vinte e cinco anos e eu achei tão bom que não quis trocar de comunidade. Fui logo me ajeitando com a única mulher disponível dentro da família. Por sinal, essa foi uma das melhores escolhas que eu já fiz na vida. Vai fazer vinte anos que estamos juntos agora, eu e a minha ex-sobrinha, e em perfeita paz com a minha antiga cunhada que agora é minha sogra.
Para provar que isto não é apenas uma estória que eu inventei para homenagear duas das mais importantes mulheres da minha vida (as outras três são minhas filhas e minha neta) quero dizer que um dia desses ganhei um prêmio numa festiva do Lions Clube de Bertioga. Sabem por quê? Porque eu era o único genro naquele salão que tinha uma fotografia da sogra na carteira. O desafio era esse: quem carrega uma foto da sogra na carteira? Evidentemente que ninguém tinha. Só eu.
Bem, para ser honesto, devo confessar que eu também não tinha. Na verdade eu trapaceei. Minha sogra estava conosco e me passou uma foto dela por baixo da mesa. O prêmio era um belo vaso de flores que, eu, claro, dei para ela. Afinal, o simples fato de ter levado minha sogra num evento desses já justifica tudo que eu disse. Claro, não cheguei ao ponto de carregar a foto da minha sogra na minha carteira, mas isso não é preciso. Ela tem lugar cativo no meu coração. Aliás, tenho certeza que ela prefere essa alternativa. Carteiras podem ser perdidas ou roubadas. Corações também. Mas como o meu eu já dei para a filha dela, esse perigo ela não corre. Fica tudo em família.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 06/03/2020
Alterado em 06/03/2020