No universo, o que quer a gente veja
É feito de vontade e representação.
O que ele é e o que a gente quer que seja
Eis todo o âmago da questão.
Schopenhauer estava certo
É a nossa visão que nos desgasta
Pondo longe o que está perto
E o que está perto a gente afasta.
Pedacinho de mundo
Que gira em volta do meu umbigo
Cada vez mais lá pro fundo
Vou levando você comigo.
Desenganar-me nunca pude
E me enganei mais de uma vez.
Não importa: até mesmo Deus se ilude
Com a mágica que Ele fez.
Nós pensamos que Deus se achava
Em cima de uma torre de argila.
Nos enganamos porque ele estava
Nos ajudando a construí-la.
Hoje já não quero mais me entender
Nem saber porque estou aqui.
Pois no dia em que isso acontecer
É que, de fato, eu já morri.
Nada mesmo me convence
Que ser ou não ser é a questão,
Se nada no mundo nos pertence,
Porque sofrer por uma ilusão?
Sonhei com um tesouro enterrado
Num lugar que era assim, assim,
Percorri o mundo atrás do danado
E ele estava dentro de mim.
Só descobri isso agora
Prisioneiro do vírus chinês,
Tudo que existe lá fora
Foi nossa mente que fez.
Nas voltas doidas deste planeta
Não existe plano a ser seguido.
A gente vive seguindo uma seta,
Mas anda mesmo é sem sentido.
O homem é como a mariposa a voar
Em volta da luz girando a esmo.
Pensando que está indo a algum lugar
Sem nunca sair de si mesmo.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/03/2020
Alterado em 29/03/2020