Cordeirinho inocente
Nessa cruz sobre o altar,
Quem fez de ti o presente
Que é preciso entregar
Á uma divindade incoerente?
Ela nunca ficará saciada
De tanto sangue vertente?
Por que Ela terá deixado
Que sua obra se perdesse
Pelas mãos de um renegado
Como se poder não tivesse
Para evitar tal resultado?
E depois quis consertar tudo
Fazendo de ti o Sacrificado?
Cordeirinho, não estranhas
Essa filosofia tão grosseira
Que exige as tuas banhas
A queimar numa fogueira
Para garantir novo começo?
Quem disse que eu queria
Ser resgatado a esse preço?
Cordeiro do sacrifício
E se não fosse a Divindade
Que te deu esse ofício
De morrer pela humanidade?
Não é Ele o Pai da Luz?
Por que havia de querer-te
Pendurado nessa cruz?
Cordeirinho inocente,
Perdoa minha heresia
Mas desde antigamente
Já houve quem vendia
O teu sangue nos mercados.
Não é de hoje que tua vida
Vem pagando meus pecados!
Cordeirinho inocente
Homem sem mácula e sem vício,
Se eu não fosse tão descrente
Agradeceria teu sacrifício.
Mas quem defende tais postulados
São os mesmos que te vendem
Nos púlpitos consagrados.
Cordeirinho inocente
Ao ver teu corpo exangue
Como crer nessa gente
Que tira lucro do teu sangue?
Que fez de ti mero agente
Somente para vender quimeras
A um povo tão carente?
Cordeirinho inocente
Ao te ver assim tão mutilado
Penso na dor que ora sentes
Por estares sendo assim usado.
Se falasses tu dirias certamente:
− Hei! Vamos acabar com essa farsa:
Já cansei de ser a teta dessa gente.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/04/2020
Alterado em 11/04/2020