João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


FAKE NEWS- JAMAIS SIMPLESMENTE ACREDITE:TESTE

 
Agora os nossos governantes estão brigando por causa das chamadas "fake news". Como se elas não fossem parte do processo que todos eles usam para enganar os eleitores durante as campanhas eleitorais. Informação é uma coisa extremamente perigosa. Como diz o velho adágio jornalístico " careless talk cost lives", frase que pode ser traduzida livremente como "fofocas podem matar."
É verdade. Às vezes alguém coloca uma mensagem na mídia oficial, ou na rede social. Ela é recepcionada pela mente das pessoas a quem é dirigida, mas nem sempre é devidamente processada pelos filtros da racionalidade e acaba virando crença, valor, critério de julgamento, etc.

E essa crença, valor ou critério, muitas vezes, pode contaminar o cérebro da pessoa por muitos e muitos anos. Um exemplo: algum dia, alguém propagou a informação de que havia raças que eram superiores às outras. Houve quem acreditasse nisso e trabalhou essa informação, justificando-a e dando-lhe amparo filosófico. E desse processo nasceu a crença da superioridade das raças. Essa crença tem contaminado o meio ambiente social e político da humanidade há milênios e já foi responsável por mais mortes no seio dela do que a maioria das epidemias  e os cataclismos naturais que a irresponsabilidade e o egoísmo  da nossa moderna civilização já causou. (1)  
                                             
Crenças religiosas tomadas ao pé da letra e invocadas como justificativa para ações políticas também podem ser analisadas desse modo. Guerras e atentados em nome da religião já mataram mais pessoas do que a radiação das bombas atômicas detonadas no globo terrestre, somadas a todos os atentados aos ecos sistemas do planeta. E as chamadas fake news estão causando esse estrago todo na paz social que este país tanto precisa ter, principalmente nesta hora.       

Pensamentos e ações úteis e eficientes para o progresso do ser humano e sua civilização são como os produtos que saem das nossas linhas de produção. Se a matéria prima for boa já temos meio caminho andado para que o resultado final seja bom. Mas matéria prima de boa qualidade não é tudo. É preciso saber processá-la.    
Em todo lote de informação que entra em nossa usina de elaboração de pensamentos existe um tanto de boa e má qualidade. É impossível escolher, num mercado contaminado de ideologias, interesses e crenças já formadas, como esse em que vivemos hoje, uma informação pura, natural, isenta de qualquer meta-mensagem destinada a fazer proselitismo. Daí a necessidade de saber processá-la bem, para que ela não entre como lixo e saia da nossa cabeça como outro lixo, às vezes mais contaminado ainda do que a matéria prima que lhe serviu de base.
Em virtude da multiplicação das redes sociais, esse processo hoje está mais difundido e sofisticado do que há alguns anos atrás. Os chamados “formadores de opinião”, que antes se encontravam nos púlpitos das igrejas, nas cátedras das universidades e nos veículos de comunicação da mídia impressa, falada e televisada, se multiplicaram graças aos modernos meios de comunicação. São raras as pessoas, na atualidade, que não participam de alguma rede social e não são influenciadas por algum formador de opinião desconhecido que posta notícias e opiniões a ele repassadas sem passar por nenhum filtro de confirmação ou prova de veracidade. E dessa forma o lixo entra e o lixo sai da nossa usina mental com uma quantidade e uma velocidade tão grande que o processo de elaboração sadia do processo de comunicação fica cada vez mais difícil. É o que está acontecendo agora com esse imblóglio que atormenta os meios políticos do nosso país. Quem pode afirmar, seriamente, que algum lado está com a razão?
 
    O sofisma da composição
 
Esse é um dos grandes problemas da nossa vida moderna. Porque os nossos softwares processadores de informação são os valores que adquirimos ao longo da nossa vida. E esses valores são conseqüências diretas das crenças que assumimos como verdadeiras ou falsas. E a única forma de analisar a veracidade de uma crença é perguntar que tipo de bem essa crença faz para o ambiente em que vivemos. Que tipo de bem fará para nós acreditarmos nisso ou não. 
Crenças são úteis ou inúteis. São boas ou nocivas. Sadias ou perniciosas. Dão resultados bons ou ruins para a vida das pessoas e da sociedade. Fazem bem ou fazem mal. Crença não é religião. Crença é uma informação processada que nos induz a ver uma coisa de determinada forma.  Geralmente ela é resultado de um sofisma de composição, ou seja, a gente vê a coisa de um determinado modo e essa visão é a verdade para nós. Torna-se um valor segundo o qual julgamos tudo o mais, pois então tomamos a parte pelo todo e o que é verdade para nós deve ser verdade para todo mundo. E mesmo que sejamos tolerantes a ponto de aceitar que outras pessoas possam ter crenças diferentes, não é sempre que estamos dispostos a acolher a verdade da crença alheia porque isso implicaria em enfraquecer, ou até mesmo renunciar à verdade da nossa.(2)

Religião é uma forma de exercitar uma crença. Quem mata alguém por causa da sua religião não está matando por crer em alguma coisa boa que a sua religião veicula. Mata para fazer valer sua forma de acreditar. Ele quer impor a sua verdade sobre a verdade alheia. Política também nada mais é que produto desse sofisma que a psicologia moderna chama de Gestalt. A política é a aplicação do sofisma de composição na necessidade de um ser humano mostrar poder. Assim como as crenças não são resultado de experiências
 científicas, nem de manifestações de alguma divindade, mas sim resultados de deduções do pensamento humano, a política é apenas a manifestação do ego humano na sua necessidade de deixar a sua marca no mundo. É resultado do pensamento e todo fruto do pensamento em que a dedução foi o único processador, está contaminado por julgamentos viciados.
Inclusive este que eu estou produzindo. Veja se tem alguma coisa de útil nele, e serve para o que você precisa. Se achar que não tem, esqueça. Ninguém precisa acreditar em nada do que lhe dizem ou mostram. Acredite se quiser e se achar que vai lhe fazer bem. Teste a informação que está recebendo. Veja que utilidade pode ter acreditar no que lhe dizem, mostram ou fazem você sentir. Jamais simplesmente acredite.
Uma última consideração: considerando a atual situação política pela qual o país está passando, ficar em cima do muro não constitui covardia ou omissão. É simplesmente a atitude mais prudente.É bom não esquecer que quem está sentado em cima do muro pode ver os dois lados. Mas quem está de um dos lados só consegue ver aquele em que está. E o ignorante não é quem nunca leu nenhum livro, mas sim aquele que só lê um único livro. 
 
[1] Essa crença foi responsável pela instituição da escravidão humana e também responde pela maioria das guerras de dominação que a história da raça humana registra. E foi também responsável por outra crença que muito tem influenciado a história dos povos, que é a ideia de que Deus tem preferências e “faz escolhas” entre indivíduos e povos, para representá-lo na terra. No fundo, ambas as crenças têm a mesma raiz e já foi geratriz de muitos conflitos no mundo.  Na imagem, o filósofo e escritor Houston Stewart Chamberlain, que foi um dos principais teóricos do nazismo, servindo de inspiração para Adolph Hitler nas suas concepções acerca da pureza e da supremacia da raça germânica.
[2] O sofisma da composição é uma espécie de vício de pensamento no qual a nossa mente foca um aspecto de um conjunto em detrimento de todo o resto desse conjunto. A figura acima é um exemplo do sofisma da composição, O desenho mostra um homem tocando saxofone ou um rosto de mulher? Isso, em psicologia, é uma gestalt, ou seja, uma imagem na qual o nosso sentido visual "informa" á nossa mente, em princípio, aquilo que a nossa mente quer ver. E a mente sempre formata suas gestalts, ou seja, suas representações da realidade segundo suas crenças, valores, desejos etc.. Nas ciências sociais, o sofisma da composição designa um raciocínio falso onde o todo é "julgado" pelo que se vê em uma de suas partes.

 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/05/2020
Alterado em 29/05/2020


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