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A expressão "o meio é a mensagem", significa que não é exatamente o conteúdo da mensagem que confere importância à informação, mas sim o meio pelo qual ela foi emitida. No caso, se estamos tratando de comunicação entre pessoas, o meio é a pessoa de onde a mensagem veio. Essa expressão foi usada pelo filósofo canadense Marshall McLuhan em seu livro “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem”. [1] Nessa importante obra, que revolucionou o conhecimento humano sobre os meios de comunicação, o autor mostra que o meio no qual a mensagem é elaborada é um elemento importante da comunicação e não somente um canal, ou um veículo de transmissão. Essa foi a grande novidade de sua obra, pois até então era comum o estudo do efeito do meio quanto ao conteúdo, mas não se atentava para as diferenças que cada suporte midiático (jornal, rádio, televisão, cinema, etc.) acrescentava à informação. Isso porque cada meio de difusão tem as suas características próprias, e consequentemente gera os seus efeitos específicos. Em termos de PNL, isso significa que a informação adquire substanciais diferenças em seu significado conforme seja ela transmitida por meios visuais, auditivos ou cinestésicos. Isso vale também para a forma de recepção conforme sejam elas feitas por audição, visão ou cinestesia. O que implica também na valoração que cada pessoa dará à elas. McLuhan chamou a atenção para o fato de que, mais importante que o conteúdo da comunicação, propriamente dito, era o veículo através do qual ela era transmitida. Assim, se são os meios que influenciam a mensagem, são estes que devem ser analisados em primeiro lugar e não o que ela contém em seu bojo. É uma aplicação, no campo da comunicação, do conceito do determinismo tecnológico, que já havia sido invocado por Karl Marx para explicar mudanças na estrutura organizacional das sociedades ao longo da sua história.[2] As principais constatações de McLuhan levantaram muitas questões sociológicas de grande interesse. Uma delas é a de que os efeitos das máquinas tecnológicas é promover a reestruturação do trabalho humano e associação das massas pela técnica da fragmentação, reconhecendo, pois com Marx, que a tecnologia empregada nos meios de produção determina as relações sociais, políticas e culturais que a sociedade experimenta em determinado momento histórico. E quanto à comunicação, propriamente considerada,“o poder transformador da mídia é a própria mídia”, pois a mensagem de qualquer meio ou tecnologia provoca uma mudança de escala, ritmo ou padrão, e esta, aplicada à vida humana, acaba sendo a principal determinante das transformações que ocorrem no meio social.[3] Outro conceito expresso por MacLuhan foi o de que o mundo em breve se transformaria em uma “aldeia global”. Essa “aldeia” seria um espaço de convergência da informação, criado pela evolução tecnológica, no qual a comunicação direta seria possível a qualquer distância. O que significa uma autêntica revolução nas comunicações, pois a formação de opinião, que até então estava muito condicionada à condições presenciais de emissor e receptor, seria essencialmente influenciada pelos modernos meios de comunicação. Com a invenção dos aparelhos celulares, dos computadores pessoais e da Internet o conceito se concretizou de uma forma que o próprio autor talvez nem ousasse prever.[4]
PNL e comunicação
No campo do comportamento humano esse conceito tornou-se uma noção de estrema relevância, porquanto passamos a dar importância mais à fonte de quem vem a informação e de quem a veicula, do que ao próprio conteúdo dela. Esse pressuposto, como é óbvio, teve grande repercussão no campo da psicologia da comunicação, dado o fato de que o homem, sendo, como é, um ser social, depende fundamentalmente da interação com seus pares para sobreviver na estrutura que ele criou, e esta fica profundamente prejudicada na ausência de uma boa comunicação. Assim, verifica-se que a expressão “o meio é a mensagem” embute também a ideia de que nós recebemos mensagens de formas diferentes e a sua compreensão depende de como elas nos são apresentadas. E a nossa forma de recepcioná-la também exerce grande influência no meio e na maneira com que a mensagem será transmitida pelo seu emissor. Destarte, quando uma pessoa está nos comunicando alguma coisa, muito mais útil será observarmos a postura do corpo dela, o movimento dos seus olhos, a expressão do seu rosto, o tom da sua voz, porque ela é o meio, e ela própria, a pessoa que nos fala, é a mensagem. Isso significa que o que a pessoa diz, por si só, pode ser verificado empiricamente, mas a metalinguagem que ela acrescentou na sua comunicação da informação só pode ser pesquisada por meio da observação criteriosa de como ela usa o seu alfabeto neurolinguístico. E nesse fator está a conexão do estudo de MacLhuan com a PNL e a psicologia do comportamento. MacLuhan observa que partes do nosso sistema neurológico, formado pelo conjunto encéfalo-medula espinhal, constitui o chamado sistema nervoso central (SNC). É nesse conjunto que as informações relacionadas com os sentidos são capturadas, e é também a partir dele que as ordens para os músculos, glândulas e demais órgãos da nossa vitalidade são enviadas. Por isso, o SNC é uma porta de contato entre o homem e o mundo ao seu redor, permitindo a percepção de todo e qualquer estímulo, como também reagir a eles. Ele observa também a existência de uma limitação no processamento dos dados, tanto no âmbito da percepção quanto da reação. Este "defeito", segundo esse autor, é uma estratégia que o nosso sistema neurológico encontrou para poupar energia e não sobrecarregar o cérebro, permitindo, desta forma, que ele foque no seu trabalho de processamento das informações úteis, ao mesmo tempo em que descarta aquelas que são menos urgentes. Dado que o estudo de MacLuhan objetivava mais apontar a influência dos meios de comunicação na vida do homem moderno, do que as implicações psicológicas e sociológicas desse fenômeno, ele pouco se preocupou em estudar o próprio homem como meio da mensagem. Mas o seu trabalho deixou aberta uma enorme porta para esse estudo, o que acabou acontecendo com a Programação Neurolinguística. MacLuhan observa que quando um determinado conteúdo é passado através da escrita, a ele é adicionado informações quanto à caligrafia (se é esmerada ou desleixada) e quanto à formalidade verbal empregada (características do escritor). Se este conteúdo for passado por um meio radiofônico, são adicionadas informações auditivas (tom de voz, entonação, altura, extensividade etc.). E se, ainda, for por um meio de comunicação presencial, também são adicionadas informações quanto à postura física do emissor e outros elementos da sua linguagem corporal. E, segundo os pressupostos da PNL, neste último caso, é principalmente na linguagem não verbal do emissor que está a parte mais importante da mensagem e não na verbalização propriamente dita. É nesta constatação, verificável empiricamente, que está a ponte entre as teses de MacLuahn e a PNL.
(continua)
[1] Na imagem o filósofo e educador Herbert Marshall McLuhan ( 1911 — 1980) filósofo e educador canadense. Mestre e doutor em Filosofia pela Universidade de Cambridge. Seu trabalho foi considerado um dos pilares do estudo da teoria da comunicação, revolucionando praticamente toda a mídia falada, escrita e televisionada dos anos setenta. Seus trabalhos mais importantes são O meio é a mensagem, Guerra e Paz na Aldeia Global e Os meios de comunicação como extensões do homem.
[2] O determinismo tecnológico é um conceito criado por dois sociólogos americanos, Thorstein Veblen (1857-1929) e Robert Ezra Park(1964-1944) para defender a tese de que os dispositivos tecnológicos modificavam a estrutura e as funções da sociedade, muito mais do que qualquer outra realidade cultural, incluindo filosofia e religião.Esse conceito, nas obras de Marx está expresso na tese em que ele sustenta que o moinho de vento foi o responsável pela sociedade do suserano e vassalo, enquanto o tear a vapor gerou a sociedade do capitalista e o proletário. Marx via na forma pela qual a sociedade estabelece suas relações de produção um determinismo tecnológico que conforma a existência das classes sociais e promove a opressão histórica do capital sobre o trabalho.
[3] Marshal MacLuhan- Os Meios de Comunicação Como extensão do Homem- Ed. MacGraw- Hill-1964
[4]Essas manifestações do autor foram feitas no início dos anos sessenta. A se ver o extraordinário desenvolvimento dos meios de comunicação na atualidade, podemos creditar ao autor uma“aura” de profeta, ao prever o estabelecimento de uma verdadeira “aldeia global”, na qual o isolamento passa a ser uma opção individual e não uma realidade provocada pela distância, cultura, língua, raças e outras particularidades que separam as pessoas.
( DO LIVRO OS SENTIDOS DA COMUNICAÇÃO), NO PRELO PARA PUBLICAÇÃO)
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 19/07/2020
Alterado em 19/07/2020
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