Um avião caiu no deserto e somente três pessoas conseguiram escapar com vida. Depois de verificarem que nada sobrara do avião, que permitisse a eles esperar ali por socorro, resolveram caminhar pelo deserto à procura de algum povoado, de onde pudessem pedir ajuda.
E lá foram os três, cambaleando, pela areia escaldante. Dois deles estavam feridos e tinham muita dificuldade para caminhar. O único que estava são, procurava ampará-los em seus braços, e os três caminhavam, trôpegos, pelo imenso e tórrido areal, onde as únicas almas vivas pareciam ser as deles.
Caminharam muitos quilômetros, e à noite, já praticamente mortos de sede e cansaço, resolveram parar e dormir um pouco. Pela manhã, o indivíduo que estava são logo acordou, mas os seus dois companheiros permaneceram deitados, parecendo com pouca vontade de levantar. Ele então procurou acordá-los. Sacudiu-os com força, mas logo percebeu que ambos estavam em péssimas condições e já próximos do estado comatoso que precede a morte.
Desesperado, sem saber o que fazer, mais que depressa, ergueu os dois camaradas, amparou-os em seus ombros e recomeçou a caminhada. Mas ao fim de algumas horas, arrastando pelo deserto os dois companheiros, ele desabou no meio da areia escaldante, já conformado com a sorte que os esperava. Por fim, deitou-se na areia para esperar a chegada da morte..
Depois de algum tempo, que ele não sabia precisar quanto, acordou sentindo-se mais leve. Ergueu-se e viu, à distância, algo que parecia ser algumas palmeiras. Andou alguns metros, escalou o que parecia ser umas dunas e logo divisou, claramente, um oásis. Agradecendo a Deus pela linda visão, voltou correndo para junto dos companheiros e ajudou-os a se levantar, apoiando um deles em cada ombro.
– Força, amigos – parece que ali adiante existe um oásis. Lá está a nossa salvação.
E lá se foram eles, o primeiro praticamente arrastando os outros dois. Mas embora o oásis pudesse ser visto ao longe, ele parecia nunca chegar. Seria uma miragem? Pensou o sujeito, amparando os dois companheiros, cada vez mais pesados, nos seus ombros.
Finalmente, depois de algumas horas se arrastando sob o sol inclemente, ele chegou nas proximidades do oásis. Mas logo percebeu que ele estava cercado por uma enorme cerca de arame farpado, como se fosse uma espécie de campo de concentração. E na porta de entrada havia dois carrancudos guardas, armados com metralhadoras. Arrastando pela areia os dois companheiros, foi até os guardas, falou sobre o acidente e pediu ajuda.
– Aí dentro você encontrará toda ajuda que precisa. Só que os outros dois terão que ficar aqui, porque no oásis só se pode entrar andando com as próprias pernas, – disse um dos guardas.
– Mas eles não estão em condições de andar. Estão muito feridos – argumentou o indivíduo.
– Sinto muito, mas eles terão que ficar aqui – respondeu, impassível, o guarda.
– Então, por favor, cuide deles, enquanto vou lá dentro buscar um pouco de água e ver se consigo ajuda para eles.
– Isso também não é permitido – disse o guarda. Pois quem entra neste oásis, dele não pode sair levando absolutamente nada. É a lei. Se você quer entrar, entre, mas deixe seus amigos aí.
– Isso não vai me servir de nada – disse o indivíduo. – Se eu os deixar aí, eles morrerão. Por favor, ajude-nos– suplicou.
– Não podemos fazer nada, essa é a lei aqui – respondeu o guarda. Mas a uns dez quilômetros daqui, - continuou ele- em direção ao oriente, há outro oásis parecido com este, cujas leis são diferentes. Se quiser ir para lá, pode ir. Talvez lá você encontre o que precisa.
E lá se foi o sujeito, arrastando os dois amigos, pelo imenso areal escaldante, em direção ao outro oásis. Depois de três ou quatro horas, cambaleando pelo deserto implacável, arrastando os dois companheiros, eles chegaram à porta do oásis.
Algumas pessoas vieram correndo ao encontro deles. Trouxeram um cantil com água, um estojo de primeiros socorros e a duas macas para os dois feridos. Cuidaram deles. Só então, já recuperado, ele percebeu que todo seu esforço tinha sido em vão. Seus dois companheiros já estavam mortos. Ele começou a chorar e a maldizer as pessoas do oásis anterior. Se o tivessem ajudado, eles poderiam ter sido salvos.
Então um senhor, de longas barbas brancas, com um rosto e um olhar onde refletiam a extrema bondade, o consolou, dizendo:
– Não se lamente, meu caro. Agora vocês estão salvos de fato. Na verdade, todos, inclusive você, já estavam mortos quando chegaram naquele oásis. Lá era o lugar que vocês chamam de inferno. É onde costumam ficar aqueles que abandonam seus amigos. Aqui é o céu. Você, além de ganhá-lo para si próprio, também conseguiu trazer seus amigos para cá. Sejam muito bem-vindos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 20/07/2020