NÓS SOMOS O QUE FALAMOS
Nós não nos apercebemos disso, mas a nossa linguagem verbal está sempre denunciando o que se passa em nossa mente. Especialmente quando não estamos “administrando” os nossos discursos, ou seja, quando estamos falando o que não sentimos. É que o nosso cérebro, para formar as palavras com que articulamos a nossa comunicação verbal, se vale de códigos neurolinguísticos, que são registrados como estímulos sensoriais. Esses estímulos podem ser visuais, auditivos ou cinestésicos, conforme seja a atividade sensorial que está comandando a comunicação.
Uma colega com quem trabalhei, advogada de grande competência, sempre usava a palavra brilhante para se referir a alguém cujo trabalho a agradasse. Para aqueles que não a agradasse nem desagradasse, dizia que não fedia nem cheirava. Quando a coisa era tão ruim a ponto de arrancar dela uma expressão de desgosto, dizia que o sujeito era simplesmente tenebroso. Alguém que demorava para entender o que ela dizia era lento; pessoas que não saiam do sério eram mornas e aquelas que não se emocionavam facilmente eram frias, e assim por diante.
Esse simbolismo verbal nos dá bem uma imagem da forma pela qual representamos as coisas em nossa mente. Às vezes falamos em “clarear as coisas” quando elas parecem estar complicadas, ou que “estamos exagerando a dimensão de um problema”, que estamos “subestimando” alguma coisa, ou “distorcendo”, ou que determinada coisa está pesando em nossa consciência, ou que tal medida aliviou a nossa barra. Chamamos à essas construções verbais metáforas, mas na verdade elas são é imagens muito aproximadas, quase fotografias do que se está passando em nossa mente. Pois o que é um sujeito brilhante senão aquele que nos aparece sob o foco de uma intensa luz? É uma estrela, alguém que brilha, que tem fulgor, que chama atenção. O que é um sujeito tenebroso senão alguém que aparece sob o foco de uma espessa treva? E alguém que não fede nem cheira não é alguém cuja presença sequer é notada? A pessoa lenta não é aquela que faz tudo devagar? Pessoas mornas não são aquelas que nunca passam de uma determinada temperatura e as frias não são aquelas que nunca se emocionam, ou seja, nunca “esquentam”?
Então não é que as metáforas, as analogias e os adjetivos usados por uma pessoa correspondem á realidade da imagem que ela está formando no seu cérebro? A linguagem verbal de uma pessoa é o espelho da sua mente. Há palavras apropriadas para cada tipo de imagem. Palavras como observação, aparecimento, revelação, amostra, foco, iluminação, raio, luz, névoa, claridade, escuridão, cor, etc, com seus verbos e cognatos são apropriadas para indicar imagens visuais. Outras palavras como audição, sonoridade, ruído, música, silêncio, surdez, afinação, pergunta, resposta, com seus verbos e cognatos são próprias da submodalidade auditiva, enquanto que palavras como sentimento, aspereza, dureza, extensão, maleabilidade, flexibilidade, quente, molhado, frio, liquido, sólido, etc. com seus verbos e cognatos são representativas da cinestesia.
A forma como uma pessoa usa suas metáforas, analogias e comparações geralmente denunciam como a mente dela organiza as informações para ela se comunicar com o mundo. Uma pessoa muito auditiva, ao conversar com alguém sobre um produto que lhe está sendo demonstrado vai querer ouvir determinadas informações sobre ele; o visual gostará de ver como ele é e o cinestésico vai desejar tocar, testar, provar etc. Assim, como disse um renomado filósofo linguista, nós somos a nossa linguagem.
Observe como as pessoas usam os adjetivos. E como eles constroem suas metáforas e analogias. Isso pode ser uma porta aberta para você entrar no mundo dela, se quiser. Ou para ficar do lado de fora se achar que não vale a pena a conquista. Mas tenha certeza de uma coisa: depois que a mente de uma pessoa registra informação a nosso respeito, ela nunca mais será apagada. Então, se lhe interessa saber o que as pessoas pensam de você, tente descobrir o que elas veem, ouvem ou sentem a seu respeito. Se for coisa boa, agradável, mantenha assim. Se não for e a amizade dela lhe interessa, é só mudar, porque tudo são informações. Aliás, quando nós mudamos de ideia a respeito de alguma coisa, não foi a coisa, em si, que mudou, mas a forma como nós a registramos em nossa mente. Para o cérebro, tudo é informação. Se ela nos trás problema, ou solução, está na forma como a julgamos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/10/2020