EMPLÁRIOS- OS SANTOS MALDITOS
Editora: Biblioteca 24x7
Ano: 2020
Preço: 50,00
SINOPSE
Os templários eram mesmos hereges, viciados e homossexuais? Quem foram de fato esses cavaleiros que, oitocentos anos depois de extinta a sua Irmandade, ainda provocam tanto interesse midiático e movimentam uma indústria de milhões de dólares? Porque incomodaram tanto a Igreja e as autoridades da época a ponto de o próprio Papa e vários reis se unirem em um complô para exterminá-los? A descoberta do Pergaminho de Chinon, documento que estava escondido na biblioteca do Vaticano, recentemente recenseado por uma pesquisadora, lançou novas luzes sobre o rumoroso processo que determinou a supressão dessa famosa Ordem de cavalaria. Eles teriam mesmo descoberto a América antes de Colombo? Existe ainda um tesouro templário a ser descoberto? O rosto do Santo Sudário é de Jesus ou de Jacques de Molay, o último grão mestre da Ordem? Os maçons são mesmo uma continuação dos templários? A Ordem do Templo ainda existe? O que era o misterioso ídolo Baphomet? Usando a fórmula do romance, o autor responde a essas perguntas, esclarecendo várias questões que envolvem um mistério que já dura oito séculos.
INTRODUÇÃO
Sobre este livro
Quando falei para um amigo meu que estava escrevendo um trabalho sobre os Cavaleiros Templários ele torceu o nariz e perguntou: mais um? De fato, há tantos livros sobre esse assunto que qualquer coisa que se escreva sobre esse tema será classificado, de início, como apenas mais um. Realmente, o caso dos Templários já tem mais de setecentos anos e foi explorado de todos os ângulos possíveis. Creio que o número de obras escritas sobre esse rumoroso processo já superou em muito a própria idade do fato. Eu mesmo li perto de uma trintena deles e confesso que quanto mais eu lia, mais confuso ficava em relação aos verdadeiros motivos que levaram Filipe, o Belo, rei da França, a conspirar para a abolição daquela Irmandade, e ainda mais, com a participação do Papa Clemente V, que embora recalcitrante, consentiu que tais coisas acontecessem com uma Ordem religiosa que tanto empenho fez para conservar o poder da Igreja Católica. E cada vez me convencia mais de que, em tudo isso, há um mistério que ainda falta muito para ser desvendado.
Em casos como esse vigora o velho preceito jornalístico que diz que quando um fato se torna lenda, é melhor esquecer o evento em si e imprimir as versões que se criam em torno dele. É bem o caso de vários acontecimentos e personagens históricos sobre os quais foram escritos crônicas e relatos que se tornaram lendários. A História está cheia deles. Passe o tempo que passar, sempre haverá algo mais a ser explorado.
Um dos problemas que encontramos quando se abordam fatos que aconteceram há muitos séculos atrás é a camada de metalinguagem que os encobrem. O termo metalinguagem, aqui designa as diversas interpretações, lendas, tradições e recontagens que os acontecimentos sofrem ao longo do tempo. A metalinguagem aposta sobre um fato não é como as camadas de pó que cobrem um objeto encontrado por um pesquisador nas ruínas de um sítio arqueológico. Geralmente o pó acumulado pelo tempo não modifica a essência de um caco de louça, um pergaminho, uma estátua, uma moeda, um esqueleto, evidências com as quais a arqueologia trabalha para recompor o passado. A metalinguagem, ao contrário, modifica a essência do fato, obscurecendo a sua originalidade e não raras vezes, subvertendo-o completamente. Isso porque ela é ferramenta feita de ideologias, interpretações forjadas, exegeses direcionadas e não raro, de uma boa dose de imaginação. É o caso da personalidade do Jesus histórico, por exemplo. Quem pode hoje, claramente e sem qualquer tipo de dúvida, afirmar quem, ou como realmente ele foi, e o que de fato fez ou disse?
É nesse mesmo patamar de dúvidas, mistérios e incertezas que situamos a história dos Cavaleiros Templários. O primeiro cronista a se referir a eles, William, arcebispo de Tiro, além de não gostar pessoalmente da Irmandade, escreveu as suas crônicas muitos anos depois do nascimento da Ordem, quando a própria organização templária já havia sido desviada dos objetivos para os quais fora criada. Seu julgamento a respeito já vem carregado de idiossincrasia e motivações pessoais que contaminam o seu testemunho. E depois dele, tudo o que se escreveu sobre essa Milícia de Cristo, como eram chamados os Irmãos do Templo, pode ser posto na mesma conta, pois cada autor, não sendo contemporâneo dos fatos, nem tendo participado deles, supre, com sua própria imaginação e opinião particular, as informações das quais não dispõe.
Aliás, é assim mesmo que se constrói a História. Com o registro de um fato e uma grande dose de imaginação sobre o que ele foi e o que significou. Por isso, Edmond e Jules Goncourt (Idées ET Sensations, Paris, 1866) dizem que a História é um romance que aconteceu e o romance é a história que pode ter acontecido.
Este livro é, pois, mais uma visão particular desse assunto já fartamente explorado. A novidade aqui, acreditamos, é a sua forma e o seu conteúdo, que abarcam não só os fatos, propriamente ditos, mas também o ambiente social, político e intelectual em que eles aconteceram. É uma história revisitada e temperada pelo sabor do romance. Nesta nossa visão semiótica do assunto, nós recriamos, ao nosso talante, os fatos, tais quais pensamos que possam ter acontecido. Quanto à base para essa recriação, ela foi erguida a partir das atas do processo movido pela Santa Inquisição contra a Ordem do Templo. Tivemos o cuidado de ler todos os termos do processo e quase tudo que se escreveu a respeito. E sobre esse emaranhado de fatos e interpretações, demos exercício à nossa imaginação. Colocamos tudo na moldura de uma época e temperamos com os ingredientes de mistério, simbolismo e tradição que sempre deram sabor a esse tema. É, como dissemos, mais um produto de imaginação em forma de um exercício semiótico.
Queremos deixar aqui o registro das obras e autores que serviram de guia e inspiração para esta composição: Malcon Barber (The Trial of Templars, 1978), Jules Michelet, (Le Procés de Templiers, 1995), Michael Baigent (O Templo e a Loja, 2013.), Jack White, (A Trilogia dos Templários, 2013), Edward Burman (Templários, Os Cavaleiros de Deus, 1986), Piers Paul Read. (Os Templários, 2001), Upton Ward. (The Templar Rules, 1989), Keith Laidler,(The Head of God 1988), Baigent, Leigh & Lincoln, (The Holy Blood and the Holy Grail, 1986),) Christopher Knigth e Robert Lomas, (O Segundo Messias); Bárbara Frale (Os Templários e os Templários e o Sudário de Cristo 2004, 2010). Além destes, dezenas de outras obras sobre o assunto foram lidas e consultadas, o que tornaria este prólogo demasiadamente longo se fossem todas citadas textualmente. Mas a todos os autores que, de alguma forma, contribuíram para a confecção deste nosso exercício literário, declaramos a nossa reverência, o nosso respeito e gratidão.
O que queremos deixar em relevo aqui é que a idealizada visão que se criou em torno dos Cavaleiros Templários teve sua razão de ser, não tanto pelos fatos em si, mas muito mais pelo ambiente e pela época em que eles aconteceram. E principalmente pela tradição que se criou em torno da sua saga. Se hoje ainda continuam despertando acalorados debates e inspirando uma farta literatura e uma variedade imensa de obras cinematográficas é porque o assunto ainda não se esgotou. E a cada vez que ele é referido numa dessas obras, novas especulações são suscitadas. Essa é uma característica dos grandes mistérios da humanidade. E para esse debate esperamos ter contribuído com esta nossa visão dos fatos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 21/03/2021