No universo, o que quer a gente veja
É feito de vontade e representação.
O que ele é e o que a gente quer que seja
Eis todo o âmago da questão.
Schopenhauer estava certo.
É a nossa visão que nos desgasta,
Pondo longe o que está perto
E o que está perto a gente afasta.
Pedacinho de mundo,
Que gira em volta do meu umbigo:
Cada vez mais lá pro fundo,
Vou levando você comigo!
Desenganar-me nunca pude,
E enganei-me mais de uma vez.
Não importa: até mesmo Deus se ilude
Com a mágica que Ele fez.
Nós pensamos que Deus se achava
Em cima de uma torre de argila.
Nos enganamos porque ele estava
Nos ajudando a construí-la.
Hoje já não quero mais me entender
Nem saber por que estou aqui.
Pois no dia em que isso acontecer
É que, de fato, eu já morri.
Nada mesmo me convence
Que ser ou não ser é a questão,
Se nada no mundo nos pertence,
Porque sofrer por uma ilusão?
Sonhei com um tesouro enterrado
Num lugar que era assim, assim,
Percorri o mundo atrás do danado
E ele estava dentro de mim.
Só descobri isso agora
Prisioneiro do vírus chinês,
Tudo que existe lá fora
Foi a minha mente que fez.
Nas voltas doidas deste planeta
Não existe plano a ser seguido.
A gente vive seguindo uma seta,
Mas anda mesmo é sem sentido.
Na crença de um outro mundo
A ilusão da continuidade.
Sabendo porém, que no fundo,
Que essa é só mais uma vaidade.
O homem é como a mariposa a voar
Em volta da luz girando a esmo.
Pensa que está indo a algum lugar,
Mas nunca sai é de si mesmo.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/04/2021
Alterado em 04/04/2021