João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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REVISITANDO A HISTÓRIA
 
Em setembro de 1968, o deputado Marcio Moreira Alves fez um discurso na Câmara dos Deputados protestando contra a invasão da Universidade de Brasília pela Polícia Militar. O seu discurso provocou a ira do governo militar, que pediu imediatamente sua prisão e a cassação de seu mandato. A Câmara e o STF recusaram ambos os pedidos e a negação serviu de estopim para a edição do AI-5, em dezembro daquele ano.  Eis o que disse o deputado naquele discurso:
“Todos reconhecem, ou dizem reconhecer, que a maioria das Forças Armadas não compactua com a cúpula militarista, que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por esse repúdio à violência.
No entanto, isso não basta. É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o Sete de Setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem juntos com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai e cada mãe se compenetrassem de que a presença de seus filhos nesse desfile é um auxílio aos carrascos que os espancam e metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.
Esse boicote pode passar também às moças, aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje no Brasil com que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa aqueles que vilipendiam a Nação. Que recusassem a aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam.
Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das Forças Armadas falando e agindo em seu nome. Creio senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, essa “democratura”, esse falso entendimento, pelo boicote,
Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos, que não compactuam com os desmandos dos seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Cratéus, que tiveram a coragem e a hombridade de publicamente se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário de seus superiores".
O governo militar podia cassar deputados, prender os opositores sem processo e torturá-los até a morte. Mas Bolsonaro e seus defensores, que sonham com a volta daquele regime, não admitem que seus apoiadores sejam presos e processados por atentarem contra o regime democrático. Como disse Edmundo Burke, um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la. E o Sete de Setembro vem aí.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 24/08/2021
Alterado em 24/08/2021


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