OS IDIOTAS FUNDAMENTAIS
O poeta Vladimir Maiacovski (1893- 1930) foi a voz da Revolução Russa. Ele acreditou, lutou e morreu por ela. Empregou todo o seu inegável talento na composição de verdadeiras obras primas poéticas que incendiaram os corações dos revolucionários e encantaram todos os que o liam, fossem eles adeptos dos ideais comunistas ou não. Ele viveu de fato o movimento. Como artista da palavra criou, a partir da sua obra, uma espécie de nova literatura soviética para contrastar com os velhos padrões das letras russas, dominadas por grandes nomes como Dostoievsky, Tolstoi, Gorki, Essenin e outros, que eram considerados representantes da velha política tzarista. Em sua trajetória, como poeta, jornalista, escritor e ativista político, Maiacovsky conheceu a prisão, envolveu-se em lutas e participou ativamente dos combates para a implantação do império soviético. Mas as contradições das facções em luta o levaram a tirar a própria vida num momento de desespero.
Maiacovsky se suicidou por não aguentar a decepção com o regime que ele tanto lutou para implementar. A política tem dessas coisas. Ela é feita por pessoas e elas não são coerentes. Hitler tinha razão. A coerência, em política, é um vício mortal. Thomas Jefferson, por exemplo, um dos pais da democracia americana e apóstolo das liberdades individuais (Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida, a liberdade e a busca da felicidade (...) escreveu ele no preâmbulo da Declaração de Independência dos Estados Unidos) era dono de centenas de escravos e recusou-se a reconhecer vários filhos que fez em suas escravas. Danton, Robespierre, Marat e outros revolucionários franceses, que espalharam pelo mundo os ideais da Revolução Francesa, sustentada nos três famosos pilares – liberdade, igualdade e fraternidade- mandaram cortar centenas de cabeças de seus desafetos e adversários e acabaram, eles também, guilhotinados.
Marx estava certo: a história das sociedades humanas é a história das ações que o homem faz para ganhar a vida. E nisso está implícito o poder. Por isso, todos os conflitos humanos têm como pano de fundo o exercício do poder. Poder sobre a prole, poder sobre a terra, poder sobre os recursos naturais, sobre as pessoas, enfim, sobre tudo que representa riqueza e bem estar.
Para manter ou ganhar o poder, o homem faz qualquer coisa. Não importa o que disse antes nem o que fez. Importa o que faz na hora em que precisa. Isso é política. Certo é o que dá o resultado que se pretende atingir.
É isso que os lulafrênicos e os bolsonopatas ainda não entenderam. Não há mártires em política. Ninguém se imola por ideologia. A não ser aqueles que brigam na rua em defesa de um deles. Bolsonaro se refere a eles como “idiotas úteis”, mas o termo também vale para os seus seguidores. Eles são o que Nelson Rodrigues chamava de “idiotas fundamentais”.