NOSSA MISERÁVEL ABUNDÂNCIA
Um quilo de carne bovina de segunda está custando quase 5% de um salário mínimo em alguns estados do Brasil. Isso nos leva a uma reflexão: de que adianta o Brasil ser o maior produtor mundial de carne se grande parte da sua população não consegue comprar um mísero quilo dela por mês? Isso sem contar aquela parte do povo (e não são poucos os brasileiros que estão inseridos nela) que não vê esse produto em sua mesa durante o ano inteiro.
Nos tempos da colônia, o Brasil já era um grande produtor de comodities: açúcar, café, algodão, minérios, madeira etc. Tudo produzido pelo braço escravo. A população do país também não podia comprar esses produtos, que eram destinados à exportação. Os produtores enriqueciam e iam gastar no exterior o dinheiro que ganhavam com a exploração das nossas terras, florestas e recursos naturais. Quase nada dessa riqueza produzida era investida aqui.
O que mudou desde então? Hoje os grandes pecuaristas enriquecem produzindo carne para exportação; os agricultores também. Nossa matriz econômica está centrada no agro negócio. Nossas matas são cortadas para serem transformadas em pastos e grandes plantações; nosso solo é utilizado até o esgotamento para produzir frutas e grãos que serão servidos em mesas estrangeiras. Madeireiros consomem nossas florestas para extrair madeira que sustentarão construções e mobiliário de outros países que não o nosso. Garimpeiros e empresas mineradoras poluem os nossos rios e contaminam o nosso solo para extrair minérios e metais preciosos que servirão de matérias primas para indústrias estrangeiras e alimentarão a ostentação de pessoas que sequer sabem onde fica o Brasil. Será que esses empresários e seus acionistas estão aplicando no nosso país todo o lucro dessa exploração predatória, ou investirão o seu dinheiro em paraísos fiscais como faz o ministro Paulo Guedes?
O governo brasileiro elegeu como modelo econômico os Estados Unidos da América. Seria ótimo se esse modelo pudesse ser copiado aqui. Mas para isso teríamos que voltar no tempo e corrigir alguns desvios históricos. Um deles é o sistema de colonização aplicado no Brasil. Nos Estados Unidos, os imigrantes foram para viver naquela terra e não apenas para explorá-la, como fizeram os portugueses no Brasil. O que produziam, investiam no próprio país. Com isso, geraram capital, criaram infraestrutura e promoveram desenvolvimento. Criaram um país e desenvolveram um espírito de nação. Quando chegou a hora de se libertarem da metrópole tinham muito pelo que lutar. O Brasil não. Até a nossa independência teve que ser feita por um príncipe português.
É questão de perguntar: somos mesmo um país livre ou ainda vivemos como uma colônia? Agora não de um país específico, mas de uma comunidade internacional, cujo único interesse é que continuemos produzindo matérias primas para vender a preços vis, e na contra partida comprar dela produtos industrializados?
Somos o celeiro do mundo. Mas a quem serve essa nossa miserável abundância?