TEORIA DA CATÁSTROFE
A teoria da catástrofe, interessante estudo feito pelo matemático russo Vladimir Arnold e complementado por outros estudiosos da matéria nos dá uma boa margem para especulações. Ela diz, grosso modo, que num sistema complexo – entenda-se um sistema composto por muitas variáveis- a transição de um “mau estado” para um “bom estado” segue uma tendência impossível de evitar, que fatalmente leva a um ponto catastrófico. Quer dizer, se um sistema complexo está em desequilíbrio por força de uma variável qualquer que se descontrolou, ele tende normalmente a procurar um novo ponto de equilíbrio, forçando a sua posição para novo estado. Mas para chegar a esse ponto, definido na equação como “bom estado”, o “mau estado” piora até chegar em um ponto de ruptura, denominado “ponto da catástrofe”.
Isso ocorre porque a resistência do sistema aumenta à medida em que a mudança é forçada. Assim, o “mau estado” do sistema piora, até chegar no “ponto da catástrofe”, pelo qual ele deve passar obrigatoriamente para começar a buscar o seu novo ponto de equilíbrio, onde forçosamente, chegará a um estado melhor.
Mas, segundo essa teoria, o “mau estado” continua a crescer, durante certo tempo, mesmo depois do “´ponto de ruptura”, até chegar a um ponto em que ele começa a diminuir, até desaparecer completamente. Esse é o momento em que o sistema começa a entrar em um “bom estado”, que perdurará até que uma nova variável venha a criar outro motivo de desiquilíbrio. Para sistemas simples, é possível evoluir de um “mau estado para um “estado melhor”, sem precisar chegar a um ponto catastrófico. Mas para um sistema complexo é impossível evitar essa trajetória.
A teoria da catástrofe é um modelo matemático desenvolvido para o estudo e previsão de cataclismos naturais, mas pode-se especular com ela, aplicando-a aos campos da política e da economia, bem como em relação às nossas mazelas sociais. Principalmente em política, é possível perceber que quando “um mau estado” se instala nesse ordenamento, há uma tendência dele piorar até um “ponto de desequilíbrio” em que somente uma mudança radical nas variáveis que compõem a equação pode modificar a direção dessa tendência. É, mais ou menos, o motor que orienta a vontade popular na escolha dos seus governos, que ao sentir as péssimas condições do momento em que está vivendo, começa a ansiar por uma mudança de rumo, que no mais das vezes, obscurece as próprias convicções ideológicas e simpatias individuais que uma pessoa possa ter.
A curva da vontade política dos brasileiros parece seguir a tendência de uma equação tipo teoria da catástrofe. Afinal, não existe sistema mais complexo do que a vontade popular e as variáveis políticas que a manipulam. A eleição de Bolsonaro – com um discurso de conservador radical- foi um ponto de ruptura no “mau estado” que o PT criou, principalmente no governo da Dilma Roussef. Agora, o ponto de desequilíbrio parece vir do mau governo realizado por Bolsonaro. E ele tende, pelo menos até as próximas eleições, a aumentar até um ponto de catástrofe, que não dá para prever quais as consequencias que trará. Quais as variáveis que devem ser modificadas para que o “bom estado” volte a imperar, é difícil dizer. Mas o povo sempre acha que sabe, e pelo menos em princípio parece se inclinar por uma solução que já foi experimentada antes, e também se mostrou catastrófica para o país.
É que o sistema político, por depender exclusivamente da vontade humana, não responde como a natureza. Nesta, as variáveis são previsíveis porque segue sempre uma tendência lógica. Na cabeça das pessoas não. Já na vontade humana são os sentidos que fornecem o rumo. Por isso caminhamos de crise em crise, como se se estivéssemos em uma montanha russa. Que Deus nos guarde e guie.