João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


A POLÍTICA E SUAS METÁFORAS

 

Metáforas são pequenas estórias que contém um ensinamento. O escritor e filósofo grego Esopo era mestre em criá-las, usando as leis da natureza e o comportamento dos animais como tema. Ele conta que um morcego e uma perereca, descontentes com suas formas físicas, pediram a Deus para transformá-los em um rapaz e uma moça, e que os fizesse apaixonados um pelo outro. Deus atendeu o pedido.  O Criador achou que talvez esse fosse um bom arranjo, pois morcegos e pererecas são inimigos naturais e quando se encontram um acaba no bucho do outro.  

Transformados em dois belos jovens, decidiram ir a um motel para sua primeira noite de amor. (Este acréscimo fui eu que fiz). Mas eis que no melhor da hora, uma mosca entrou no quarto e começou a zoar em volta dos dois. A garota, imediatamente, esticou sua enorme língua e abocanhou a bichinha. Nesse momento o encanto se dissipou e ela voltou a ser uma perereca.  E o rapaz, transmutado novamente em morcego, saltou vorazmente em cima dela, devorando-a literalmente.

Pela manhã, a camareira que arrumava os quartos encontrou os restos da perereca em cima da cama e quase desmaiou quando viu um morcego bem gordinho voejando em volta do quarto procurando uma saída. (Isso também é acréscimo meu).

Há várias lições de moral nesta estória. Primeiro: precisamos aceitar a forma que a natureza nos deu. Segundo: não devemos ficar desejando ser o que não somos. Terceiro: temos que aprender a escolher com sabedoria os nossos parceiros. Quarto: não adianta querer disfarçar o que somos: nossa natureza sempre nos denunciará.

Essa fábula cai certinha para os nossos políticos. Bolsonaro é um militar que trocou a farda pelo terno, mas continua a ser o que é. Retrógado e reacionário, seu sonho é voltar aos tempos da ditadura militar. Além disso escolhe muito mal seus parceiros. Já trocou a maioria dos seu ministério, brigou com um monte de aliados, mudou de partido diversas vezes e agora se associou aos políticos que vivia chamando de corruptos. 

Ele foi eleito porque o povo estava cansado de ser espoliado por um governo de esquerda, populista, demagógico e corrupto. Esse povo se encantou com as promessas de um militar travestido de parlamentar, que prometia acabar com a corrupção e mudar um modelo político e administrativo viciado e inepto. O encanto desapareceu porque ele não consegue disfarçar o que é: um demagogo fanfarrão com um discurso conservador, mas que, para angariar votos, não tem vergonha de apelar para medidas populistas, dignas de qualquer esquerdista de araque.

Como o Lula, por exemplo, que se diz de esquerda, mas quando foi presidente entregou o país aos banqueiros, empresários de obras públicas, coronéis da velha política e vigaristas corporativistas. Acrescento mais uma moral nessa história: eles são os morcegos e nós as pererecas que vivem sendo devoradas por eles.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/02/2022
Alterado em 13/02/2022


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