A ESGRÉGORA E O ENTRELAÇAMENTO CÓSMICO
Para qualquer teoria do conhecimento, o axioma deduzido por Alfred Korzybski, de que o mapa não é o território, é valido. Tudo que entra nos nossos sentidos (e por consequência, em nossa mente e coração) é uma parte insignificante do que existe no universo. Nossa sabedoria, nesse sentido, é quase nula e a parcela do real existente que é objeto do nosso conhecimento é tão pequena que somente a nossa imensa vaidade não nos deixa ter consciência disso.
Além disso, a nossa percepção da realidade é apenas uma visão particular dela.
Pior que isso, ainda, é a nossa dificuldade em perceber o que existe para além do mundo real. Para o nosso conhecimento, essa realidade é duvidosa porque não podemos detectá-la com os nossos sentidos, mas sabemos que ela existe porque sua existência projeta efeitos no mundo real.
A prova da existência de uma realidade além da que conhecemos em nossa dimensão está sendo provada nos laboratórios da física moderna, com os experimentos da chamada física quântica. O conceito da “não existência”, tão íntimo para os estudiosos da Cabala, é agora uma realidade observável e detectável pelos estudiosos da física atômica, que veem no fenômeno por eles chamado de “não localização espacial”, um paralelo daquilo que os cabalistas definem como a “existência negativa”, ou, num outro paralelo, aquilo que os cultores do espiritismo chamam de “mundo espiritual”.
Como diz o iminente cabalista Rabi Kook, “qualquer definição da realidade divina leva à apostasia”. Isso porque, toda definição de algo que não pode ser medido nem detectado pelos nossos sentidos, nem por qualquer aparelho criado para esse fim, seria restritiva, unilateral e conformadora. E o nosso cérebro foi dotado pelo Criador de uma qualidade que o faz dinâmico e desenvolvimentista. Isso é assim para que possamos entender amanhã o que não logramos compreender hoje. E como sabemos, o universo não é estático. Ele está em franco desenvolvimento. Ele aspira à infinitude. E toda existência busca atingir um estado de conhecimento cujo objetivo é o que ela desconhece.
Mas o que é conhecimento? O que os nossos sentidos captam no mundo da realidade objetiva tem de fato, uma existência real? Schopenhauer dizia que não. Sua ideia era a de que o mundo em que vivemos é resultado do nosso desejo e da representação mental que fazemos dele. É, de uma outra forma, a mesma coisa que Korzybsky disse: que o mapa que fazemos do mundo não corresponde ao território real. Em outras palavras, para Schopenhauer, o mundo é uma ilusão dos nossos sentidos e para Korzybsky há muito mais na realidade que os nossos sentidos não captam do que na pequena porção que eles trazem ao nosso conhecimento.
Novas experiência com o mundo atômico está dando provas fáticas dessa realidade. Há uma diferença essencial entre as descrições que a física clássica faz de um corpo material e o que a física quântica faz da composição da matéria. Na física clássica, os corpos são descritos pelas suas propriedades físicas, tais como peso, volume, temperatura, dimensão, textura etc. Na física quântica essas propriedades são secundárias. Aqui, o que importa são as informações do seu estado e o seu comportamento sistemático.
A física clássica vê o mundo como uma coleção de corpos materiais. Esses corpos são compostos por partículas e o cosmo inteiro é constituído por elas. Na física quântica corpos materiais e sistemas são parte de uma diferente realidade. Nela ocorrem fenômenos que contradizem o senso comum. Um deles é o da não localização espacial.
Para a física clássica, um corpo que não pode ser localizado no tempo e no espaço não existe. Assim, nada pode ser feito, nem pode ser considerado real se não for detectada a sua presença física. Isso quer dizer que não podemos mover um objeto sem tocar nele. Isso significa também que um objeto não pode influenciar outro á distância, pois a influência que um poderia ter sobre outro que está separado dele, distante, precisaria de um “meio” através do qual a comunicação deve passar.
Essa experiência permeia toda a nossa vida diária. Para provocarmos quelaquer movimento em um objeto é preciso tocar nele. Se ele está distante de nós temos que usar um “meio” para atingi-lo. Dessa forma, na mecânica clássica, um objeto só pode influenciar outro (ou seja, só pode haver comunicação entre um objeto e outro), quando eles ocupam um lugar na realidade espaço-temporal. Ou seja, a mecânica clássica, newtoniana, só pode operar na presença da localização.
Já para a física quântica a necessidade de uma presença física no espaço-tempo não é necessária. Os estudiosos dessa disciplina descobriram que uma partícula pode influenciar outra independente de ter uma localização no espaço-tempo observável. Quer dizer, uma partícula não precisa ter uma “existência real” para afetar outra cuja presença física pode ser detectada. Ou seja, que elas podem se comunicar sem um meio intermediário para fazer "ponte"entre elas. Não importa a distância que exista entre elas (até porque essa distância não pode ser medida), a comunicação ocorre porque elas são vistas como um sistema único. Quando uma mudança ocorre em uma partícula, a outra imediatamente “sente” a mudança. Esse fenômeno é chamado de EPR, derivado dos nomes dos cientistas que descobriram a sua ocorrência:(Einstein, Podolsky e Rozen). A ocorrência dessa propriedade das particulas em estado quântico foi observada também por cientistas franceses no fim do século vinte, contradizendo um dos fundamentos mais sensíveis da física clássica, o de que só podemos admitir realidade objetiva na presença da localização espaço-temporal.
Esse fenômeno é hoje chamado de entrelaçamento quântico. Isso ocorre quando um par de partículas são geradas ou interagem de modo que o estado quântico de cada uma não pode ser descrito separadamente mesmo que uma esteja muito distante da outra. Esse estado só pode ser descrito como um sistema. Num estado de entrelaçamento não se pode seccionar o sistema para estudar as partes separadamente. Sistemas entrelaçados são inseparáveis. O entrelaçamento ocorre onde há reciprocidade entre seus componentes, isto é, um transmite energia para o outro e vice-versa. (É, por analogia, o que a maçonaria entende por egrégora).
Pode-se dizer que o entrelaçamento quântico é algo sobrenatural. Existe porque suas influências na realidade observável podem ser detectadas e medidas. Mas ao mesmo tempo não existe porque sua “presença” na realidade objetiva não pode ser medida nem detectada. É o que espiritistas chamam de "fluído espiritual. Ou como o poder da prece, ou dos rituais, ou outros simbolismos que visam captar energias que as tradições religiosas ocidentais chamam de espirituais e os hindús de prânica. Em outras palavras é possível conhecer as consequências, mas não a causa desses fenômenos. Isso porque, no mundo quântico, cada partícula não carrega informação. Ela tem informação, ou seja, ela é a própria informação. Ela é uma forma de energia que não precisa necessariamente da dimensão do espaço-tempo para manifestar as suas propriedades. Por isso, a informação quântica não pode ser medida de forma independente, mas apenas pode ser detectada e quantificada no interior de um sistema. Foi verificado taambém que o valor de um sistema de informação, no mundo quântico, pode mudar à medida que seu estado muda de acordo com as interações que faz com outra partícula localizada no mundo real. Dessa forma, ele é igual a qualquer corpo que sofre mutações de acordo com as mudanças ambientais. Isso tem sido usado pelos novos teóricos da fisica quântica e sua aplicação no mundo espiritual como prova da possível interação entre espíritos encarnados e desencarnados, e da possível influência que uns poderiam exwrcer sobre outros.
É nesse sentido também que os estudiosos da física quântica veem no comportamento das partículas atômicas um claro exemplo das intuições cabalistas, que afirmam a “Existência Negativa” de Deus como causa da existência do universo real, pois que, segundo a Cabala, o universo físico é resultado das manifestações de Deus no mundo da realidade objetiva. Dessa forma o universo real seria uma consequência da Vontade Divina em gerar um “resultado” da sua potência manifestada. Seria, grosso modo, uma adequação conceitual da fórmula deduzida por Einstein na sua teoria da relatividade, expressa na fómula E=mc².
Destarte, haveria um entrelaçamento quântico entre Deus e a sua criação, ou seja, Entre Ele e todas as realidades universais, inclusive a humanidade. Esta aliás, com mais ênfase, por que ela realiza a parte mais sutil desse entrelaçamento, já que é no ser humano que repercute, em maior escala, a sua influência no mundo real.
Á luz desse princípio, Deus não pode ser entendido no contexto das religiões oficiais, que O veem como uma Entidade que administra um processo do qual somente Ele sabe a finalidade e o resultado. No entanto, Deus, o universo material, a vida e a humanidade, enfim, a totalidade dos atributos do cosmo, visíveis e invisíveis, como um todo, formam um sistema, cujo entrelaçamento é indispensável. E ele só pode ser entendido como um sistema. Por isso, a doutrina cabalística nega a possibilidade de qualquer apocalipse, porque a finalidade de todos os sistemas, como prova a física quântica, é buscar um estado perfeito de equilíbrio, onde toda a entropia que causa a desagregação desaparece.
Esse é o estado que a Cabala chama de TzimTzum, como tal entendido o estado em que toda a potência criadora se concentra em um único ponto, para possibilitar o Ato Criador.
Foi com base nesse conceito que nasceu o movimento Rosacruz, cuja pretensão era a sua aplicação á própria sociedade humana. Basta dar uma lida nos Manifestos Rosacruzes para verificarmos a estreita convergência entre as ideias daqueles místicos pensadores e as que foram expostas neste artigo.
E como sabemos, a maçonaria moderna teve nesse movimento a sua principal fonte de inspiração.