A ESTRATÉGIA DA ENGANAÇÃO
A ESTRATÉGIA DA ENGANAÇÃO
Política é como paixão. Quem se encanta com algum político, por mais errática que seja sua performance como administrador, sempre dirá que ele está certo. A paixão política cega as pessoas da mesma forma os sentidos fazem com os amantes que se envolvem em uma relação romântica. Ás vezes, mesmo presenciando uma traição o amante não se convence de que foi traído e que seu parceiro o enganou. Acontece a mesma coisa com o simpatizante de determinado político. Por mais mal feitos que ele pratique, o apoiador sempre acha que se trata de intriga da oposição. Simpatizantes de Paulo Maluf jamais acreditaram que ele tivesse roubado tanto quando foi prefeito e governador de São Paulo. Petistas nunca aceitaram que Lula fosse culpado pelos crimes de que foi acusado e condenado. Crêem visceralmente que ele é inocente. O mesmo vale para os admiradores do Bolsonaro. O séquito bolsonarista está tão obcecado pelo seu Messias que não consegue ver na sua conduta nenhum vício de comportamento. Nem o fato de ele, depois de condenar tanto a “velha política”, acabar se aliando justamente ao partido mais representativo dela. Lula fez a mesma coisa quando era presidente.Para os bolsonaristas isso era corrupção das grossas. Para eles não é. É estratégia política.
A Petrobrás acaba de anunciar mais um reajuste nos combustíveis. Isso vem acontecendo gradativamente desde o fim do ano passado. A pandemia do Corona Vírus e agora a guerra Rússia-Ucrânia ajudaram a mascarar a crise. Tudo veio a calhar. Por isso ninguém percebeu ainda que o que está acontecendo com a Petrobrás pode ser uma estratégia do governo para forçar a sua privatização. A estatal eleva os preços dos combustíveis até um ponto de ruptura em que a população não agüente mais e vá às ruas pedir uma intervenção. E aí fica fácil vender a ideia de privatizar a empresa.
Não tem sentido um governo que tem se mostrado tão agressivo contra instituições mais fortes dizer que não tem armas para lutar contra uma empresa da qual ele é o maior acionista.
Se quiser, Bolsonaro pode intervir a hora que quiser na Petrobrás e forçar uma baixa nos preços dos combustíveis. Mas isso não lhe interessa, quer política, quer economicamente. Até porque ele precisa de focos de conflito para continuar vendendo aos seus simpatizantes a ideia que o elegeu: a de que ele é um reformador de costumes, um político diferente dos demais, um messias salvador. Assim, suas diatribes contra a Petrobrás bem que pode ser uma estratégia para enganar os incautos.Com isso angaria votos ao mesmo tempo em que preserva uma das maiores fontes de renda do país. Não deixa de ser uma manobra bem sutil: externamente bate no inimigo; internamente faz acordo com ele. Como quem paga a conta somos nós está tudo certo. Convenhamos: talvez nem Maquiavel fosse tão maquiavélico assim.