ESTRATÉGIA DE CRASSO
Em 53 a. C, o cônsul Marco Licínio Crasso, um dos três homens mais poderosos do Império Romano, foi derrotado na Batalha de Carras pelo exército parta. A derrota foi computada à teimosia dele. Recusou os conselhos de seus generais e preferiu suas próprias estratégias de combate. Sua derrota precipitou a eclosão de uma sangrenta guerra civil entre os dois cônsules de Roma, Júlio Cesar e Pompeu, que terminou com a vitória de César e o fim da República Romana. Os equívocos de Crasso passaram à história através da expressão "erro crasso", que significa uma falha grosseira de planejamento, ou escolha equivocada de estratégias que provocam consequências trágicas. É o que Bolsonaro vem fazendo com suas diatribes contra o STF e seus ataques contra as urnas eletrônicas. Não que o STF não mereça as críticas que ele tem feito contra os “homens de capa preta”, como ele tem apodado os ministros da Suprema Corte. Na verdade, a qualidade dos magistrados que lá estão nunca foi tão baixa quanto a atual. E o próprio Bolsonaro não contribuiu em nada com as nomeações que fez. Os dois que indicou estão longe de atender os requisitos para ocupar uma cadeira naquele colegiado.
Mas a má qualidade dos magistrados do STF não justifica os ataques de Bolsonaro. Na verdade, o que ele alega ser uma perseguição do Supremo nada mais é que o cumprimento da Constituição que os magistrados vem fazendo. Bolsonaro sabe, pois militou no Congresso por várias legislaturas, que a nossa Constituição é extremamente garantista e favorece francamente os simpatizantes da esquerda. Então não se trata de descarregar baterias contra os magistrados, mas sim de revisar a Constituição.
O ataque sistemático que ele tem feito às urnas eletrônicas é outra estratégia equivocada. Para começar, se esquece que ele mesmo e seus filhos foram eleitos várias vezes por esse sistema. Nunca reclamaram disso. O que parece, e a maioria dos eleitores do país já percebeu, é que essa estratégia é uma modelagem do que Donald Trump tentou fazer nos Estados Unidos. Sabendo que perderia no voto, ele tentou contestar a legitimidade da apuração e com isso incitou seus seguidores a promover um golpe de estado para conservá-lo no poder.
Todo mundo sabe no que deu essa insensatez. Invasão do Capitólio, com perdas de algumas vidas. Trump e seus truculentos seguidores tiveram que se conformar com a derrota e alguns deles certamente pagarão com a perda da liberdade essa aventura amalucada.
O povo americano não caiu no engodo. As instituições daquele país são sólidas e resistiram bem ao golpe de Trump. Esperamos que as brasileiras também o sejam. Chega de golpes. Não somos uma república bananeira que a cada dificuldade política ou econômica precisa de um ditador de opereta para resolvê-la.
Bolsonaro está usando estratégias de Crasso. E com isso, infelizmente, vai acabar entregando de mão beijada a eleição para o Lula.