A POESIA DA ETERNA PRESENÇA
Num universo onde a nossa estrela não brilha
Só existe o silêncio de um buraco negro,
Túmulo e útero do cosmo.
Lá somos todos apenas ausência,
Que não sofrem o constrangimento da indiferença
Que a nossa presença pode causar ao mundo.
Lá só temos duas alternativas a considerar:
Ou seremos expulsos novamente como astros radiantes,
Ou nos recolheremos ao silêncio eterno
Das consciências definitivamente extintas,
Sem esperanças, sem sonhos e sem saudade,
Do tempo em que a nossa luz
Era a vida de um sistema.
Indiferença, esquecimento, insensibilidade:
Este é o inferno de todos os astros,
Cuja vida já se extinguiu
E agora é só uma pequenina mancha amarela
Bruxuleando no passado cósmico
Mas que só pode ser vista no futuro,
Como um mundo que já morreu.
Num ponto qualquer do universo, alguém está observando o nosso sol, e o que ele vê é uma estrela morta. Mas o seu brilho só agora está chegando aos olhos dele. Diante dessa possibilidade, o fenômeno da existência passa a ser uma coisa tão relativa quanto a nossa capacidade de visão. A existência só é real para quem está em relação com ela.
Para nós, vivendo neste mundo, tudo nasce. Mas para quem estivesse observando o nosso mundo daquele ponto de vista, tudo já morreu. Assim, o nosso sol, com o conjunto de planetas girando em volta dele pode ser uma realidade que já deixou de existir há muito tempo, mas a notícia de sua existência só agora está chegando aos seus sentidos.
Essa é uma possibilidade que nos dá muito o que pensar. Para o universo podemos estar vivos e mortos ao mesmo tempo. Estamos vivos para quem a nossa existência é captável pelos seus órgãos sensoriais e mortos, ou não existentes, para quem não capta, com seus sentidos, a nossa existência.
Essa visão da realidade universal é extremamente perturbadora e parece demencial se considerada de um ponto de vista lógico. Como podemos existir e não existir ao mesmo tempo?
No entanto, isso é perfeitamente provável no nível mais íntimo da existência material, que é o nível da física quântica. Ao observar um quantum de energia dentro de um acelerador de partículas, o pesquisador descobre que um corpo que não pode ser localizado no tempo e no espaço não existe no mundo real. Assim, nada pode ser feito, nem pode ser considerado real se não for detectada, pelo observador, a sua presença física.
Essa observação pode ser transportada para o mundo em que vivemos. Nós só podemos existir na dimensão do espaço-tempo. Somos partículas de energia que por força de múltiplas interações ambientais capturou massa e se transformou em um organismo vivo. Mas a nossa vida é um fenômeno energético que só pode ser considerado real enquanto puder ser detectado pelos sentidos de outras pessoas, dentro da mesma dimensão em que vivemos.
Assim podemos dizer: só está vivo quem “aparece” no écran dos nossos sentidos. Quem pode ser detectado no espaço e no tempo em que vivemos. Isso explica por que a indiferença em relação a nós é a pior de todas as desfeitas que alguém nos pode fazer. Quer dizer: a indiferença de uma pessoa que gostaríamos de impressionar é mais dolorida do que a própria hostilidade que ela possa nos mostrar. Porque isso significa que nós não existimos para ela.
Por isso os ditados populares: cresça e apareça. Viver é estar presente. A ausência provoca indiferença. A indiferença é a nossa primeira morte. Nascemos e vivemos para impressionar uns aos outros. Para amar e odiar. Porque isso significa sentir. Porque isso significa estar vivo.
Carpe Diem.