OS ESTRAGOS DO FURACÃO DÓRIA
A fundação do PSDB após a redemocratização do país foi saudada nos meios políticos como um grande acontecimento. Políticos de envergadura no cenário nacional, fortalecidos na luta contra a ditadura, indicavam que afinal o país estava ganhando uma agremiação com pessoas capazes de conduzi-lo a um futuro promissor. Pelo menos, os nomes dos políticos que fundaram a agremiação indicavam isso: Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Franco Montoro, José Serra, Severo Gomes entre outros, emprestavam ao partido uma aura de credibilidade e esperança que nenhuma outro, até então, havia conseguido.
Essa esperança se confirmou quando Fernando Henrique Cardoso elegeu-se presidente da República e Franco Montoro governador de São Paulo. Os dois mais importantes cargos executivos da nação estavam nas mãos dos tucanos.
Com a saída de Fernando Henrique das disputas eleitorais e a morte de Montoro e Covas, o PSDB ficou desfalcado dos seus melhores nomes. Serra e Alckmin, seus supostos herdeiros, não conseguiram construir densidade política suficiente para ocupar o espaço que eles deixaram. O ninho tucano ficou esvaziado de lideranças, embora o governo de São Paulo ainda continuasse nas mãos deles por algum tempo.
Não bastasse a falta de lideranças a nível nacional, o tucanato teve que conviver com graves problemas internos, provocados principalmente pela disputa de poder. São Paulo, a principal praça forte do PSDB caiu nas mãos do grupo de João Dória, provocando uma cisão que enfraqueceu o partido. Dória, nem de longe possuía a aura dos velhos caciques pessedebistas. Ao contrário, a nível nacional, e mesmo no próprio estado de São Paulo, seu nome virou sinônimo de rejeição. Dessa forma, o PSDB, que sempre foi uma forte opção em todos os pleitos, acabou perdendo posição no cenário nacional.
Dória se elegeu governador em São Paulo na sombra da campanha de Jair Bolsonaro. Pegou carona no trem bolsonarista, impulsionado pela rejeição contabilizada pelo PT com o desastrado governo de Dilma Rousseff. Mas o choque de egos entre o antigo capitão que se tornou presidente e o publicitário que se elegeu governador acabou separando os dois, colocando-os em franco conflito.
A ambição de Dória alijou da disputa pela presidência lideranças emergentes dentro do partido, como o governador gaúcho Eduardo Leite, por exemplo. Além disso, sua alta taxa de rejeição acabou refletindo na campanha do seu vice à sucessão em São Paulo. Rodrigo Garcia não conseguiu nem vaga no segundo turno.
Eduardo Leite e Rodrigo Garcia são as últimas penas do partido tucano. A segunda já caiu. Se o ex-governador gaúcho não conseguir se reeleger no Rio Grande do Sul, o PSDB ficará virtualmente privado de lideranças capazes de herdar o legado dos seus importantes fundadores. O decano Fernando Henrique Cardoso não deve estar nada contente com isso. Já Covas, Montoro, Severo Gomes e outros tucanos que deram charme ao partido devem estar se revirando em seus túmulos.