BOLSONARO E O FLAUTISTA DE HAMELIN
O Flautista de Hamelin é um conto escrito pelos Irmãos Grimm. Conta que a cidade de Hamelin, na Alemanha, estava sofrendo com uma infestação de ratos. A proliferação desses animais, como se sabe, foi a grande responsável pela peste negra, pandemia que matou mais de um terço da população da Europa no Século XIV. Grande parte da população de Hamelin contraiu a doença, por isso o prefeito da cidade prometeu uma grande recompensa para quem conseguisse livrar a cidade dessa praga. Foi então que um homem se apresentou dizendo ter a solução para o problema. Como pagamento pediu uma moeda por cada rato que eliminasse. Feito o acordo, ele saiu andando pela cidade tocando uma flauta. E logo uma multidão de ratos começou a segui-lo pelas ruas. Ele os conduziu para o rio que passava pela cidade e afogou a todos.
Mas quando foi receber o pagamento o prefeito se recusou a pagá-lo dizendo ser impossível contar o número dos ratos mortos. Enfurecido, o homem pegou a sua flauta e saiu tocando novamente pelas ruas de Hamelin. Mas dessa vez não foram os ratos que o acompanharam, e sim as crianças da cidade. Elas nunca mais foram encontradas. Hamelin ficou conhecida como a cidade que não tinha ratos nem crianças.
Nesse conto há duas lições a serem aprendidas. Primeiro a de que todo acordo, seja ele feito em que base for, depois de feito, precisa ser cumprido. Segundo, que é preciso tomar cuidado com o som das flautas que são tocadas diuturnamente nos nossos ouvidos. Podemos não ser ratos ou crianças. Mas todos somos suscetíveis à ilusão melíflua que nos são induzidas por políticos e influenciadores que entopem nossa mente com narrativas construídas para explorar os nossos temores, desejos e esperanças.
Transpondo o tema para a nossa realidade cotidiana, podemos dizer que Jair Bolsonaro pode ser comparado ao Flautista de Hamelin. Ele venceu a eleição em 2018 prometendo livrar o país dos “ratos” que devoravam o erário público e espalhavam a praga da corrupção. Se teve sucesso ninguém sabe, mas ele sustenta até agora que sim. Todavia, o povo, na sua maioria, não acreditou nele e não quis pagar o preço que ele almejava, que era a reeleição, com um possível passaporte para uma ditadura. Sua vingança foi diferente da do flautista: ao invés de conduzir os ratos para o rio e afogá-los, ele influenciou uma manada enlouquecida de pessoas para uma invasão aos Órgãos do governo, com a intenção de derrubá-lo.
No conto dos Irmãos Grimm, a vingança do flautista foi a destruição do futuro da cidade, levando embora as suas crianças. No nosso caso o futuro está em perigo, não pela abdução das nossas crianças, mas pelo envenenamento do ambiente político causado pelas flautas bolsonaristas. Ou pela vigarice da maioria dos políticos, que sabem prometer, mas nunca aprenderam a cumprir.