A RIQUEZA DO NADA TER
Eu não pretendo só viver para o comer
Porque o correto é comer para o viver;
Assim como não se precisa ter para ser
Mas só o ser é que pode justificar o ter.
Sei que nada, nesta vida, me pertence,
Tudo que nela uso me foi emprestado;
E sendo ela a fatura que sempre vence,
A morte só nos cobra pelo que é usado.
Entretanto, se apenas ter nos estimula,
E tudo fazemos pela mera acumulação,
Um dia se nota que é o que se acumula
Que acaba nos colocando numa prisão.
Na corrida para conquistar a felicidade
Não há quem seja o último ou primeiro,
Todos disputam com igual possibilidade
E a liberdade não se paga com dinheiro.
Ficar rico nunca esteve na minha pauta,
E todos aqueles bens que eu nunca tive,
Nenhum deles, na verdade, me faz falta;
É justo por não tê-los que me sinto livre.
Pois a grande esperança que eu carrego,
É desencarnar com a alma duma criança;
Poder Ir embora sem mágoas nem apego
Sem ver ninguém brigando pela herança.
Não é que ser rico seja crime, ou pecado,
Mas a ambição é pesada como uma cruz;
Por isso, quem quiser ao céu ser elevado,
Que faça a sua alma ficar leve como a luz.