RUGAS E RUSGAS
Me perguntam a razão de eu ter este rosto liso
Com a idade que eu tenho e todo o sofrimento.
É porque eu não deixo que me cheguem à alma,
Mas também porque gosto de saber aonde piso.
Assim, se por fora posso ser um vulcão violento,
Por dentro, eu me mantenho uma lagoa calma.
As linhas das nossas mãos são como um mapa,
Que nelas a mente projeta em forma de traços;
Os sulcos no rosto fazem dele um pergaminho.
Da história que contam nenhum de nós escapa
Neles são expostos os caminhos e descaminhos
Que simbolizam os nossos sucessos e fracassos.
Eu quero viver tanto quanto vivem as tartarugas,
Mas não que o tempo trace sulcos no meu rosto,
Nem estrias tortas nas palmas das minhas mãos;
É por isso que evito as rusgas para não criar rugas,
Pois se umas são traçadas pelo lápis do desgosto,
As outras são esculpidas pelos cinzéis da ambição.