O BRASIL DIVIDIDO
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, sugeriu a formação de uma aliança entre estados do Sul e do Sudeste para exercer “protagonismo econômico e político” em contraponto aos demais estados, em especial os do Norte e Nordeste. Essa fala foi feita em um contexto mais amplo, que se referia à reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional, mas foi mal-recebida pela maioria dos governadores da Federação, que se sentiram discriminados pelo governador mineiro.
A declaração provocou também um certo azedume no meio político nacional, principalmente porque acentua a polarização que se instalou no Brasil com o surgimento do bolsonarismo, o qual colocou em evidência uma tendência divisionista que sempre existiu entre os estados, mas que se mascara em função do chamado “espírito bonachão” dos brasileiros, que preferem sempre a composição pacífica do que o acirramento dos conflitos.
Bolsonaro quebrou esse padrão incutindo em uma boa parte da população brasileira uma tendência divisionista que já se observava em certos círculos da sociedade brasileira com o discurso do “nós contra eles”. Esse discurso só não desembocou antes em comportamentos mais radicalizados por força dessa tendência, diríamos, um tanto hipócrita de pensar uma coisa e fazer outra que os nossos políticos sempre adotaram. Mas agora, com a radicalização que o bolsonarismo desencadeou no espectro político nacional, esse pensamento divisionista tem granjeado o apoio de setores radicais da direita conservadora.
O chauvinismo nacionalista dos simpatizantes bolsonaristas se evidencia nas redes sociais pela exacerbada defesa dos estados do sul, cuja economia e qualidade de vida supera os estados do Norte e Nordeste, tido por esses indivíduos como “atrasados e ignorantes”. Zema, em seu infeliz discurso, acentua essa evidência comparando os estados nordestinos e nortistas a “vaquinhas” que produzem pouco e recebem melhor tratamento que as que produzem muito.
Não é que Zema não tenha alguma razão em suas declarações. No contexto geral da sua fala ele estava criticando a política distributivista do governo federal, que tende a promover uma reforma tributária que beneficia de preferência os estados mais pobres – em sua maior parte no Nordeste – em detrimento dos estados mais ricos, que em sua maioria estão no sul do país. Há uma razão lógica e pragmática na sua fala, mas o jeito de colocar as coisas – típica aliás dos bolsonaristas - é que causa desconforto.
Com isso o governador mineiro envenena ainda mais o ambiente político brasileiro que já está profundamente contaminado pela polarização rancorosa e doentia que se instalou no país. E se ele tem pretensões á uma futura candidatura ao Planalto, esse tipo de discurso preconceituoso e extemporâneo não vai ajudá-lo. Parece que ele não aprendeu nada com o exemplo do Bolsonaro, que perdeu as eleições mais pelas asneiras que falou do que pelas burrices que cometeu. Mineiro que é, ele devia saber que o peixe morre pela boca.