No filme “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, ganhador do Oscar de melhor filme em 1998, uma companhia inteira de soldados americanos é dizimada pelos alemães em uma batalha na França. Essa companhia tinha como único objetivo resgatar um soldado raso que havia perdido três irmãos na guerra e o alto comando do exército americano quis dar um conforto para a mãe do rapaz, evitando que o seu último filho também morresse. As últimas palavras do comandante da brigada, que também morre realizando a empreitada, ditas ao soldado Ryan foram: “faça por merecer”.
Nessa história muitos homens morreram para resgatar um único homem. Na doutrina cristã um único homem morre para resgatar a humanidade toda. De um ponto de vista lógico isso parece insano, mas uma terça parte da humanidade adota essa crença. Na vida real, Deus nos dá a sua Luz para que todos possamos ser resgatados. Essa Luz está presente na Torá. Por isso a Árvore da Vida tem uma sefirá oculta chamada Daath. Ela é a própria Torá, que Deus deu ao homem para que nela ele encontre o seu próprio reflexo em forma de Luz. Ela corresponde ao arquétipo Sabedoria.
Os maçons, como sabemos, também usam esse simbolismo em sua liturgia. Em todas as suas seções, um exemplar da Torá, ou do livro sagrado da religião do país, precisa estar presente. A Torá, no caso, é como se fosse o correspondente espiritual da Arca da Aliança, que encerra a Luz do Criador na forma escrita. É através dessa Luz que as pessoas podem atingir a iluminação salvadora.
Todas as almas serão resgatadas, como dizem os textos sagrados. Todos seremos resgatados, mas é preciso que façamos por merecer esse resgate. É preciso fazer a nossa parte. Não basta esperar que isso aconteça fatalmente no fim dos tempos, porque não haverá um fim dos tempos. A Energia do Criador é inesgotável e continuará a ampliar o tempo e o espaço cósmico interminavelmente. Quem pensar que pode esperar um apocalipse final para ser resgatado vai esperar eternamente por isso.
Uma antiga anedota popular ilustra bem essa questão. Conta-se que uma grande enchente aconteceu em determinada cidade e todas as casas foram inundadas. Todas as pessoas foram retiradas para lugar seguro pelo Corpo de Bombeiros, menos um indivíduo, que se recusou a deixar a sua casa. Quando as águas começaram a invadi-la ele subiu no telhado e ficou esperando que elas baixassem. As autoridades fizeram de tudo para salvá-lo. Mandaram primeiro um barco para resgatá-lo, mas ele não quis entrar nele. Depois um helicóptero e ele também recusou. Por fim, a casa foi coberta pelas águas e o indivíduo morreu afogado. Ao chegar ao céu ele acusou Deus de não o ter ajudado. Deus lhe disse: “Eu mandei várias pessoas à sua casa para retirá-lo de lá e você não quis sair. Mandei até um barco e um helicóptero. Você recusou. As escolhas foram suas e não minhas. Você não fez por merecer a salvação.”
A Luz do Criador está à disposição de todos nós. Ela é como o sol, que dá calor a justos e injustos.Mas nós precisamos fazer as nossas escolhas. Não podemos somente recebê-la, usufruir e nada dar em troca de um bem tão maravilhoso. É preciso fazer por merecê-la. E o merecimento está na realização do Desejo de Compartilhar as benesses que o Criador nos prodigaliza. Mas para isso temos que vencer também a nossa tendência reativa e adquirir o gosto pela proatividade. Não basta esperar que um Messias venha nos resgatar. Até porque ele já veio e plantou suas sementes no nosso espírito. A nós cabe ir de encontro a ele cultivando essa semente, que a Cabalá define como a semente da proatividade construtiva e benigna.
Como diz a letra da canção composta por Geraldo Vandré, “ Vem, vamos embora, esperar não é saber; quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.