O discípulo de um famoso mestre zen, desejando comprovar se o mestre era mesmo sábio, como se dizia, apresentou-se à ele com um passarinho preso entre as mãos e perguntou: “mestre, o passarinho que tenho entre as mãos está vivo ou morto?”
Se o mestre dissesse que o passarinho estava vivo, ele o mataria, esmagando-o; se dissesse que estava morto, ele o soltaria. De qualquer modo mostraria ao mestre o quanto ele podia ser esperto, enganando-o.
Todos os discípulos do sábio se ajuntaram em volta dele para ver como ele resolveria tão intrincada questão. Então o velho sábio respondeu. “Só depende de você o fato desse passarinho estar morto ou vivo.”
Essa metáfora revela uma grande verdade. É, mais ou menos, o que Saint- Exupéry escreveu no seu famoso conto “O Pequeno Príncipe”. Ele disse que nós nos tornamos responsáveis por todos aqueles a quem cativamos, pois quando cativamos, prendemos pelo coração. Essa era uma frase basilar nos anos sessenta. Todo mundo vivia repetindo isso, mesmo sem entender muito bem o que significava. Na verdade, essa frase e essa metáfora são sinônimos de compromisso. Significa que temos responsabilidade com tudo e com todos que, de alguma forma, tem ligação conosco. E o mundo todo está envolvido nessa ligação. O mundo inteiro está enfeixado em nossas mãos, porque, bem ou mal, todos compartilhamos de um pedacinho dele. Se esmagarmos o nosso pedacinho de mundo, se matarmos o nosso passarinho, estaremos contribuindo para a morte do universo inteiro. Edward Lorenz, em seu perturbador ensaio, “Teoria do Caos”, nos mostra como isso acontece, com a curiosa metáfora do Efeito Borboleta. “O simples bater de asas de uma borboleta no Brasil pode causar um tufão no Texas”, segundo essa teoria. E a verdade contida nessa teoria nós mesmos estamos vivendo hoje, com tantas catástrofes ambientais. Não é a natureza que as provoca. Somos nós com o nosso descuido e a nossa ambição de querer domá-la para ela trabalhe para nós. Como ensina a doutrina da Cabala e o ensinamento zen: todas as nossas ações palavras e pensamentos geram consequências. Para nós e para os outros.
Seja como for, o passarinho da fábula está nas mãos de todos nós e a vida ou a morte dele é escolha de cada um, mas a consequência dessa morte recai sobre todos. Deus emancipou o homem quando ele resolveu trocar a sua condição de inocente caseiro do paraíso terrestre por uma mente capaz de pensar por si própria. Isso aconteceu quando Ele disse “ eis que Adão se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal”, Com isso Deus quis dizer que o homem, dali por diante estaria por sua própria conta e risco.
E estamos. O destino do universo está em nossas mãos.