Para os mestres cabalistas, existe uma parte do mundo que é ignorado e estranho, onde a nossa mente consciente tem dificuldade para acessar. Isso porque consciência é energia que a nossa alma transmuta em reflexões e estas pertencem à dimensão das coisas manifestas, enquanto essa outra parte do universo, que perfaz cerca de noventa pór cinco de tudo que existe no universo, ainda não está manifesta à nossa consciência, por isso ela nos é desconhecida. Já  nos referimos a esse tema em outra obra de nossa autoria, referindo-se aos estudos realizados pela noética, ramo da filosofia que pretende, através de métodos teóricos-experimentais, encontrar respostas para várias indagações da metafísica, como a existência da alma e a continuidade de alguma forma de vida depois da morte. Com essa finalidade, os pesquisadores têm produzido diversas experiências no sentido de mensurar a relação mútua entre a nossa consciência e o corpo físico, utilizando, inclusive, os conhecimentos trazidos à luz pelos estudiosos da mecânica quântica.1

Segundo o rabino Yerruda Berg, os nossos sentidos não percebem a existência do mundo da Luz Infinita do Criador em razão das nossas limitações físicas e principalmente por força da nossa própria descrença. Porque ele está numa dimensão espiritual que somente com a nossa alma podemos conectar.

Isso porque, nesse mundo de realidades imanifestas, que podemos chamar de mundo espiritual, só as almas têm direito à ingresso. Às vezes sucede que alguém, em algum momento – em razão da sua própria capacidade sensitiva, ou por algum acidente cósmico – consegue estabelecer uma conexão sensível com essa dimensão de Luz. E dessa conexão consegue trazer para o nosso mundo físico alguma informação que ainda não conhecíamos. Mas não foi a mente dessa pessoa que fez essa conexão, mas sim a sua alma. Só ela tem essa possiblidade, porque ela é uma centelha da Energia do Criador. A mente não. A mente é projeção da Luz que ela captura nessa biblioteca cósmica, que é a Luz Ilimitada do Criador, e emite no mundo físico na forma que chamamos de pensamento.

Nesse esplendor capturado está a essência do que chamamos de mente. Por isso entendemos o fenômeno mental como sendo a projeção energética que vem da alma para ativar o cérebro na produção dos pensamentos. Por se manifestar em forma de Luz (produzindo as sinapses), essa energia se confunde com o que chamamos de Espírito. A mente, para os pesquisadores da noética é um epifenômeno, ou seja, consequência de um fenômeno anterior que o antecede. Ela atua por força dessa luminosidade que recebe da sua alma e se transforma em seu Espírito e lhe dá o sentimento do “ser”.

De fato, é o sentimento de “ser” que distingue o ser humano das outras espécies vivas. Esse sentimento se identifica pela capacidade de refletir. Como diz Teilhard de Chardin, essa capacidade se dá pelo enrolamento da energia vital sobre um determinado órgão, que é o cérebro.[2]

Isso quer dizer que o cérebro é uma espécie de dínamo, que fornece a energia que provoca a reflexão, mas ele não é a reflexão. O “eu sou” que caracteriza o ser humano é uma realidade emancipada dele e tem uma identidade própria que podemos chamar de personalidade se quisermos nos manter no mundo físico, ou de Espírito, se quisermos trabalhar com a realidade do mundo sutil. A mente, em relação ao cérebro, é como uma música em relação ao rádio que a toca ou ao músico que a executa. Da mesma forma, a persona que se forma a partir da mente também é uma realidade emancipada dela e sobrevive a ela na forma do seu Espírito, o qual se integra, como energia, na totalidade das reflexões emitidas pela humanidade, como pensa Teillhard de Chardin com o seu conceito da noosfera.

Por isso, também, diz o mestre Shimon Ben Yochai, o grande mestre da Cabalá: “Em três coisas: no espírito, na alma e na vida dos sentidos, nós encontramos uma representação fiel dos mundos superiores. Pois essas três coisas não formam senão um só ser, onde tudo está junto e em unidade. A vida dos sentidos não possui por si mesma luz alguma, mas por essa mesma razão está intimamente ligada ao corpo, para o qual procura os prazeres e o sustento de que ele necessita. Por cima da alma se eleva o espirito que a domina e derrama sobre ela a luz da vida. A alma é clareada por essa luz e depende (em vida) inteiramente do espírito. Depois da morte a alma não pode encontrar repouso, nem estão abertas para ela as portas do Paraíso até que o espírito não tenha ascendido à sua fonte (integrado como energia) para reabastecer-se no Ancião dos Dias por toda a eternidade. ”.[3]

Podemos até dizer que o nosso cérebro funciona como se fosse um computador. Mas ele não é o único que tem essa qualidade. O cosmo inteiro também tem seus “programas”. Cada partícula e cada átomo são criados e controlados por uma “Mente” que exerce sua “Vontade” sobre eles, no sentido de que as leis naturais se cumpram e resultem no que chamamos de universo físico.

A Energia que constrói o universo é inteligentemente distribuída e manobrada para que as coisas aconteçam de determinado modo e não de outro. Não há aleatoriedade no universo. Por isso Einstein disse que “Deus não joga dados”. É desse modo que ocorrem as grandes descobertas, as grandes obras do intelecto são realizadas, as formidáveis intuições dos taumaturgos se cristalizam, as ideias geniais são produzidas. Tudo no seu devido tempo e conforme a necessidade cósmica. Prova disso é o engenho construído pelo filósofo e engenheiro grego Herão de Alexandria,  (10 d.C. - 80 d.C.) conhecido pela fórmula que leva seu nome e se aplica ao cálculo do triângulo. Esse artefato mostra como a pressão do ar sobre os corpos pode gerar energia capaz de movimentá-los com a força de muitos cavalos. Esse mecanismo, chamado com o  curioso nome de eolípia, é considerado o primeiro motor a vapor documentado pela história da ciência. Se as condições históricas do século em que Herão viveu fossem as mesmas, a revolução industrial poderia ter ocorrido na Grécia do primeiro século cristão ao invés da Inglaterra do século XVIII. . [4]

           A cripta dos grandes filósofos

O dono da mente que realiza a proeza de realizar grandes descobertas é tido como gênio e o prêmio Nobel é a síntese desse reconhecimento. Mas, na verdade, o melhor título que se poderia dar a ele é o de grande revelador, porque o que eles fizeram é, na verdade, uma incursão em um mundo desconhecido, um mundo que a Cabalá anuncia desde que a humanidade começou a refletir.

Newton, Einstein, Galileu, Platão, Sócrates, Dante, Hawking, Shimon Ben Yochai, todos os pensadores e cientistas, assim como todos os fundadores de religiões, como Moisés, Sidarta Gautama, Jesus, Maomé, Zoroastro, Lao Tse, Confúcio e outros, são algumas dessas mentes que conseguiram conectar-se com o mundo da Luz Infinita do Criador. É nesse sentido que acreditamos ser essa Luz uma verdadeira central de energia que abastece o universo de todas as realidades que nele são criadas.

Essa é a razão de a Maçonaria desenvolver em um de seus graus filosóficos mais avançados, o Trigésimo Segundo, o tema da Cripta dos Grandes Filósofos. Esse grau contém um resumo final do catecismo maçônico. Para os irmãos com algum conhecimento das antigas e modernas filosofias que norteiam o pensamento humano, e que também estejam devidamente informados sobre as crenças e esperanças que fazem o espírito de homem ser o que ele é, não será difícil entender o motivo de essa alegoria da ter sido colocada justamente no grau 32, quando o ensinamento maçônico, no que tange ao seu conteúdo filosófico, é encerrado.[5]

Na Cripta dos Grandes Filósofos iremos encontrar oito colunas, sobre as quais oito bustos, representando os fundadores das grandes religiões que orientam o espírito humano foram colocados. Numa nona coluna, o resultado final dos ensinamentos desses grandes construtores do espírito universal é simbolizado pelo aparecimento da Estrela Flamejante, que simboliza Gnose, Iluminação, Sabedoria etc, como a demonstrar que tudo que procuramos, seja qual for à religião que adotemos, é simplesmente a Verdade contida na Luz Infinita do Criador.[6]

Ainda hoje há quem chame as incursões que essas mentes privilegiadas fazem ao mundo da Luz Infinita do Criador de milagres, mas para a tradição cabalística ( e maçônica) elas são apenas materializações de informações que os grandes taumaturgos e filósofos já vem veiculando há muitos séculos, e que só agora estão sendo colocadas para o nosso conhecimento através de aplicativos desenvolvidos pelas pesquisas científicas modernas. Nós só temos que preparar os nossos cérebros para acionar esses aplicativos, pois ele é o computador específico para esse fim. E a luz da sabedoria brilhará em nossas mentes.

[1] Marilyn; Taylor, Eugene & Lewis, Nola. Toward a Noétic Model of Medicine. Noetic Sciences Review, nº 47, Winter 1998. O termo noética deriva do grego nous, noema e noesis, que se referem à mente, ou alma racional, a inteligência, enfim toda a parte psíquica que comanda a atividade humana em sua experiência física e intelectual. Platão destacava a noesis como a mais elevada atividade mental possível, que estaria ligada diretamente ao plano divino, que era o mundo das formas ideais (arquétipos). Atualmente o termo tem sido usado no campo da psicologia e da ciência neurológica para designar estudos e pesquisas sobre o impacto das crenças e do simbolismo sobre a mente humana e sua influência sobre a realidade em que vivemos. Modernos pesquisadores, como William James, Sigmund Freud, Carl Gustav Jung, bem como cientistas de renome como Albert Einstein, Niels Bohrs, Robert Oppenheimer, Willelm Reich e outros, reconheceram publicamente a influência que a noética, em especial a resultante dos trabalhos publicados por autores espiritualistas como Helena Blavatsky, os teosofistas e principalmente os cabalistas, tiveram sobre suas pesquisas.

[2] Teilhard de Chardin - O Fenômeno Humano, Ed. Pensamento, 1982.

[3] Zhoar, citado, pg. 144

[4] Na imagem o artefato chamado eolípia, inventado por Herão de Alexandria. Fonte Wikipédia Fundation.

[5] Cripta é um local secreto onde segredos são depositados. É o “útero” onde a semente germina e dá nascimento à luz. Por isso a cripta dos grandes filósofos, na Maçonaria, é o local secreto de onde nasce a sabedoria. 

[6] A esse respeito vide o capítulo XVII da  nossa obra “Mestres do Universo”, publicada pela Editora 24x7.