CACHAÇA DO POETA
Sem o auxílio de esquemas
Sem juízo e sem arrego,
E sem qualquer embargo
A folha em branco é uma taça
Onde pingam meus sentimentos
Em doses grandes e pequenas
Na forma de um líquido negro
Denso, viscoso e amargo
Que rola rápido, às vezes lento
Por costume ou por pirraça,
Na forma informe de poemas.
Bom se a tinta fosse um destilado,
Que eu pudesse derramar a esmo,
E depois tomar com muito prazer
Sem angústias ou questionamentos
Sobre o que está certo ou errado
No rumo dos meus pensamentos.
E assim sem mais ser ou não ser,
Nem vergonha de ficar embriagado
Eu poderia, enfim, morrer,
De tanto beber a mim mesmo.