Quem ficar esperando pela sorte,
Esperará muito e mais um pouco;
A faca cega nunca faz bom corte,
E um bico de pato não fura coco.
Um sambista bom não faz bolero,
A chuva miúda não enche açude;
Se o valente grita “eu não quero”,
Um covarde chora: “eu não pude”.
Galinha canta quando bota o ovo,
Galo trina quando o sol desponta;
O descuidado sempre faz de novo,
Quem convida é que paga a conta.
Ter religião não quer dizer ter fé;
A água suja a gente joga no ralo;
O pé de anjo nunca cheira a chulé
E sapato macio não provoca calo;
Só está certo o que não dá errado;
O mineiro esperto come pela beira;
O marido fiel não quer ser vigiado,
O cão treinado não precisa coleira.
Quem quer faz e sem muito alarde;
Se não quer, espera que outro faça;
A lenha seca logo pega fogo e arde,
Enquanto a verde faz muita fumaça.
Se tudo que é bom costuma ser caro,
O que não presta a gente joga fora;
O cachorro bom nunca perde o faro,
Só alguém que veio pode ir embora,
Quem anda na linha o trem atropela,
Mas quem dela sai acaba sendo preso;
Para o boquirroto não deve dar trela,
Quem quer ir longe não carrega peso.
O inverno é bom se a cama é quente,
E um vinho caro só se bebe em taça;
Mas quem quiser morrer rapidamente,
É só deixar sua vida ficar sem graça.