João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Stephen Hawking nos mostra, em seu extraordinário livro “O Universo em Uma Casca de Noz”, que cada pessoa tem seu tempo pessoal, embora um relógio marque o mesmo tempo para todos. Assim, se passássemos a vida dentro de um trem em movimento envelheceríamos menos do que as pessoas que estivessem fora dele nos observando. Essa constatação já havia sido feita por Einstein quando deduziu a sua famosa Teoria da Relatividade.

Então a questão está no movimento. A estática envelhece, a dinâmica retarda o envelhecimento. Mas na vida esse princípio acaba sendo paradoxal. Parece que quando mais rápido andamos, mais depressa o tempo passa. Na ociosidade ele flui mais devagar. Uma pessoa com mil lugares para ir e outras tantas coisas para fazer tem a impressão de que o dia dele tem apenas a metade das horas que teria para um indivíduo que ficasse na cama o dia inteiro.

O certo, porém, é que o tempo flui mais devagar para os corpos em movimento. É o que Hawking nos diz com o paradoxo dos gêmeos. Se um indivíduo que tem um irmão gêmeo for colocado numa espaçonave que viaje pelo universo numa velocidade próxima à da luz, ele envelhecerá menos que o seu gêmeo que ficou na terra. No filme de Steven Spielberg “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” esse paradoxo foi mostrado de uma forma impressionante: seres humanos que haviam sido abduzidos há várias décadas por ETS voltavam à terra com a mesma idade física com que foram capturados.

 

Hawking nos mostra também o quanto o universo pode ser estranho e maravilhoso. E o quanto podemos nos enganar em consequência da relatividade que nele existe. É que a teoria da relatividade não tem somente implicações na conformação do universo físico. Ela também gera questões filosóficas e morais. A implicação moral é a de que não existe nada absolutamente fixo no universo, porque tudo nele é relativo. Nesse sentido desaparece a noção de bem e mal, de exato e falso, de fora e dentro e outras formulações dialéticas que colocamos na composição da nossa visão da verdade. Disso resulta que as bases sobre as quais nossos valores são fundados podem ser tão movediças quanto as areias do deserto. Com isso toda filosofia acaba sendo aquilo que os gregos sempre diziam que era: a procura por uma verdade que nunca será encontrada se colocada em um ponto fixo.

Outro paradoxo: Este universo que parece não ter limites, um dia já foi tão pequeno quanto uma noz. Isso ocorreu há cerca de quinze bilhões de anos. Mas tudo que já existiu nele, tudo que hoje existe e existirá no futuro já estava presente naquele momento em que ele não era maior que do que um ovo de passarinho. Isso traz outros questionamentos: Se o universo teve um começo, isso implica que um dia ele terá um fim? O começo do universo foi o começo de tudo ou apenas o início do tempo? Se foi Deus quem fez tudo isso, o que ele fazia antes de criar o universo? Deus existia antes de criar o universo? Se Ele existia, ou existe independentemente do universo, Ele não pode ter criado outros universos além deste? (antes, durante ou depois deste?).

 

No tempo de vida do universo o surgimento de uma estrela é como a explosão de fogos de artifícios. Brilha por instantes e depois ela se apaga. Pode-se pensar no espaço cósmico como se nele existisse um eterno réveillon. Tempos que se iniciam, tempos que se acabam. As estrelas nascem e morrem. Quando são muitos grandes e morrem, elas se tornam buracos negros. Buracos negros são regiões dentro do espaço-tempo onde a gravidade é tão forte que nem a luz  consegue escapar delas. E a gravidade dentro dele é tão forte que chupa tudo que é matéria em volta dele.

Será que também não somos como estrelas? Nascemos, brilhamos por um determinado tempo e depois apagamos? As estrelas morrem quando o combustível do seu núcleo se esgota. Nós também. É como se tivéssemos combustível para brilhar um determinado tempo e cobrir um certo espaço. E será que alguns de nós, em razão da sua grandeza pessoal, quando morre também não se torna um “buraco negro”? Não se diz que certos mortos vivem sempre nos influenciando? Heróis, arquétipos, deuses, entidades ou mitos, que mesmo mortos para o nosso tempo, ainda continuam nos influenciando, como estrelas mortas, mas cujo brilho ainda afeta nossos olhos? Os espíritas não acreditam que os mortos podem influenciar a vida dos vivos?

 

Há quem diga que as teorias científicas a respeito do nascimento e do desenvolvimento do universo são heréticas. Que elas contradizem e destroem as verdades da religião. Que torna o homem ateu. Essa não me parece ser uma ideia digna de ser adotada como verdadeira. Quem assim pensa só consegue ver o universo a partir do próprio umbigo. É, na verdade um tremendo egoísta que só consegue enxergar as coisas a partir da sua própria perspectiva. Para um sujeito com esse tipo de  crença, é natural que não acredite na relatividade, porque acreditar nela implicaria em ter que admitir que a sua verdade não é a única possível em um plano espacial que admite uma multiplicidade de imagens alternativas e possíveis. E todas concomitantemente verdadeiras. Essa é a posição do religioso dogmático e impassível a tudo que não esteja de acordo com os livros da sua religião. Uma posição estática, incompatível com um universo em eterno movimento.

 

Por outro lado, também não há nada de errado com a religião. Os nossos livros sagrados não estão errados e as visões que serviram de base para as verdades religiosas não são meras alucinações sofridas por indivíduos em estados alterados de consciência, como parecem acreditar os racionalistas empedernidos.

Quem sabe a ciência e a religião não estejam dizendo a mesma coisa, mas apenas usando linguagens diferentes? Será que os livros sagrados, ao falarem de anjos, demônios, milagres, não estão falando de energias e leis que regem e produzem os acontecimentos universais? E se os Fótons, Táquions, Férmions, Bósons, P-Branas, Hadrions, Léptons, Quarqs, Elétrons, etc. (nomes que os cientistas dão às forças e aos componentes que formam a matéria universal), fossem chamados de Querubins, Elhoins, Aufanins, Serafins, Malaquins, Aralins, Chasmalins, etc, como faz a Cabalá com as entidades que os mestres dessa doutrina acreditam serem os responsáveis pela construção do universo físico, que diferença faria? Mudariam de identidade? Se os anjos fossem energias em movimento, eles deixariam de ser só por causa do nome que nós lhe damos?

Aliás, que diferença há entre uma visão que vê o universo saindo de dentro de um átomo carregado de energia, e outra que vê o mundo como luz saindo das trevas? Dessa forma, para quem se coloca em posição de acompanhar a relatividade do universo, ler a Bíblia, as escrituras sagradas dos hindus, ou outro livro sagrado qualquer que se aventure a criar uma cosmogonia, é um exercício semelhante ao de ler Stephen Hawking ou outro autor do gênero que consiga falar de um assunto tão complexo numa linguagem acessível a um leigo.

E dessa forma se consegue perceber que as visões da religião e as pressuposições da moderna ciência física e astrológica podem, muito bem, se encaixar umas nas outras.
Nesse sentido, nós também somos estrelas e um passeio por dentro de nós mesmos acaba se tornando uma viagem fantástica por um universo não menos maravilhoso. Se quisermos ver em tudo isso a mão de Deus basta olhar de um certo ângulo. Deus está dentro dele e fora dele. Até onde podemos vê-lo, são os olhos da ciência e da razão que falam. Depois, quando os nossos olhos o perdem de vista, só poderemos segui-lo com a visão do espírito. Para além de tudo isso é que começa a verdadeira fé.

 

( Excerto do cap 1 do livro "A Estrela Flamejante", no prelo para publicação)

 

 

 

 

 

 

 

 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/01/2024


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