Desde que nasce, para todo ser humano,
Uma sentença de morte já vem prolatada.
Mas a gente não sabe nem o dia ou o ano,
Que essa pena capital deve ser executada.
Mas eu, e se Deus não fizer muita questão,
De mandar executar logo essa minha pena,
Quero registrar um embargo de declaração,
Pois na verdade não entendi esse esquema.
Afinal, se vou morrer e depois reencarnar,
Tudo para melhorar a minha nota na vida,
Porque, nesta mesma, eu não posso tentar
Dar uma acertada na minha folha corrida?
Pois esse negócio de reencarnações várias
Parece uma pedagogia muito burocrática;
Exigir que tantas vidas sejam necessárias
Para aprender o que devia ser uma prática.
Se Deus fizesse toda essa coisa bem feita,
Não precisava se dar a esse baita trabalho
De fazer primeiro uma criatura imperfeita,
Para depois corrigir aos poucos, no malho.
Mas é assim que Deus vai nos moldando:
Nos jogando na terra sem muito requinte,
Depois, pouco a pouco, nos ir cinzelando,
Como se Ele fosse um Leonardo da Vinci.
Para mim essa estratégia é muito esquisita,
Porque tudo podia ser feito de uma vez só.
É triste estar aqui, agora tão cheio de vida,
E daqui a pouco me tornar um monte de pó.
Principalmente quando a vida é boa e bela,
É uma barrra saber que estamos morrendo.
Perceber que a vida é uma espécie de vela,
Que alguém só está apagando e acendendo.
A razão dessas muitas chegadas e partidas,
Senhor, é o motivo deste meu requerimento;
Esclareça porque eu devo viver tantas vidas,
Se tudo pode ser feito num único momento;
Porque a Ti eu confesso com todo respeito:
De morrer, posso jurar que não tenho medo;
Mas eu trocaria as luzes a que tenho direito,
Por uma apenas, que não apagasse tão cedo.