A CONSPIRAÇÃO DOS TRAPALHÕES
As trapalhadas do Didi(Renato Aragão), Dedé (Dedé Santana) Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro Faccio Gonçalves), eram engraçadas e tornavam os nossos domingos mais amenos e divertidos. Já as trapalhadas da trupe do Bolsonaro poderiam ser se não fossem trágicas e não denunciassem as personalidades das pessoas que governaram o país durante quatro anos. O que poderia ser mais hilário do que um grupo de conspiradores que se reúne para tramar um golpe de estado e filma a própria reunião? Pois foi isso que os bolsonaristas fizeram.
Aliás, a conspiração bolsonarista lembra um antigo e divertido filme estrelado por Peter Sellers, de 1959, chamado o Rato que Ruge. Nesse filme um pequeno país em grave crise financeira declara guerra aos EUA. Seus governantes acreditam que, ao perderem a guerra, receberão ajuda para reerguer o país, como aconteceu com o Japão e a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. O que eles não contavam é que seus soldados armados com arcos e flechas acabassem vencendo a guerra porque no dia da invasão era feriado nos Estados Unidos e não havia ninguém para repelir os invasores. Daí o caricato ditador não sabia o que fazer com a sua conquista. Ainda bem que isso não aconteceu no dia oito de janeiro de 2023, mesmo que, semelhante ao filme, não houvesse autoridades de plantão em Brasília naquele dia para impedir os invasores de cometer todo aquele vandalismo.
É claro que Bolsonaro e seus ministros sabiam muito bem o que fazer em caso do seu golpe dar certo. Uma nova ditadura militar, com o ex-presidente como ditador, seria o destino do Brasil. Só não vingou porque os principais comandantes das Forças Armadas não caíram no canto de sereia dos bolsonaristas.
Do que nos livramos com a derrota do Bolsonarismo! Além das trapalhadas que essa trupe armou durante o seu governo, ficamos sabendo, pelo vídeo divulgado pela Polícia Federal, com quem estávamos lidando. Com um presidente que inventa conspirações e propaga falsas informações com uma veemência de advogado numa tribuna, usando uma linguagem chula, imprópria e francamente vergonhosa para o máximo mandatário de uma nação. E um corpo ministerial que o acompanha, também usando palavrões e expressões de baixo calão que envergonhariam até um público de cabaré.
Que Bolsonaro nunca teve uma postura condigna com o que se exige de um chefe da nação é de conhecimento público. Aliás, ele nunca fez questão disso. Ao contrário, fazia questão de se mostrar bronco e malcriado, talvez porque pensasse que essa era a imagem que o faria simpático junto às massas. Mas até isso lhe seria perdoado se ele tivesse feito um governo que agradasse a maioria da população brasileira. Porque não há oposição que consiga desconstruir resultados. Principalmente quando se tem a máquina pública na mão, como era o caso dele. E em política é o que conta. Só ideologia não enche barriga.
É claro que nesses episódios existe um componente de perseguição política que salta aos olhos de quem analisa tudo com olhos imparciais. É o próprio inimigo que está conduzindo os inquéritos. Não pode haver isenção quando a própria vítima julga o seu agressor. Se Alexandre de Morais tivesse alguma ética, deveria declarar-se incapaz de atuar nesse caso. Mas Bolsonaro sabia disso, pois como ele mesmo disse, se perdesse, poderia sair do Planalto algemado. Ainda não foi, mas corre esse perigo. Agora ele e seus companheiros trapalhões terão que enfrentar a sua via crucis. É o destino de quem faz más escolhas na vida.