A FÁBULA DOS DOIS BESOUROS
Confesso não ter nenhuma simpatia por Bolsonaro e muito menos pelo Lula. Se alguém me pedisse para criar uma metáfora, no estilo de Esopo ou Irmãos Grimm, para figurar essa disputa insensata entre os simpatizantes desses dois inefáveis personagens, eu os figuraria como dois besouros disputando um monte de estrume.
Todavia, meus sentimentos a respeito dessa loucura que tomou conta do nosso país não me impedem de olhar friamente para esse espectro assustador que envolve o cenário político brasileiro. E não posso deixar de reconhecer que tanto Lula quanto Bolsonaro - mais por seus defeitos do que pelas qualidades - conseguiram amealhar um vigoroso capital político que dificilmente, pelo menos na atual conjuntura, nenhum outro político do país conseguirá igualar e muito menos superar. Isso, talvez só Freud ou Jung consigam explicar.
Se de um lado a bolha bolsonarista conseguiu capturar um vasto contingente de consciências contaminadas por um antigo vírus que foi inoculado no ambiente político brasileiro nos longínquos dias do caudilho Getúlio Vargas – o medo do comunismo - o Lulismo, por sua vez, colocou nos olhos de boa parte da nossa população um grande escotoma que impede que seus simpatizantes enxerguem as mazelas do seu regime.
Ambos, Petismo e Bolsonarismo são organismos contaminados pelo vírus do populismo e do messianismo. E o radicalismo que deles resulta é a febre que provoca nos simpatizantes de um e outro lado um estado de loucura que os leva a atos tresloucados como os que vimos em oito de janeiro de 2023. É uma febre que faz as pessoas assim contaminadas ver no seu adversário um inimigo inconciliável e não apenas um conjunto de concepções diferentes que podem ser contraditas, mas nunca atacadas com violência e ódio.
O que resulta disso tudo é uma campanha de difamação, calúnias, narrativas e ações de ambos os lados, que, às vezes são tão ridículas que nem deveriam ser citadas. Lula, por exemplo, foi processado, condenado e preso por um suposto benefício que teria recebido de uma construtora a quem ele teria favorecido. Na sanha acusatória dos promotores e dos julgadores que trabalharam no caso, eles não tiveram nem o cuidado de escolher o foro correto onde o processo deveria tramitar. O resultado foi a anulação pura e simples do processo, causando um reboliço desnecessário no cenário político brasileiro que gerou as funestas consequências que todo mundo sabe. Isso além de todo o custo que acarretou para os cofres públicos, que no fim somos nós que pagamos.
Bolsonaro, por sua vez, está sendo bombardeado por um rol de acusações que parece não ter fim. Sem entrar no mérito de algumas delas, que podem até ser verdadeiras - como a acusação de tramar um golpe de estado - algumas delas são tão ridículas que nem deveriam ser aventadas. Ele agora está sendo acusado até de importunar baleias. Seja lá o que for esse pretenso delito, isso me parece uma piada de mau gosto. Daqui a pouco os petistas vão acusá-lo de estuprar galinhas, assediar tartarugas, barranquear éguas e cabritas etc.
Quando as paixões políticas chegam ao extremo em que o ódio ao adversário é a principal motivação dos nossos pensamentos e ações, nós nos esquecemos da civilidade e entramos num estado de barbárie. É que estamos observando em todos os segmentos da nossa sociedade. Quem quiser linkar tudo isso com a insegurança que estamos vivendo no momento, não estará cometendo nenhuma impropriedade.