Me perguntam a razão de eu ter este rosto liso
Com a idade que eu tenho e todo o sofrimento.
É que não deixo que eles me cheguem à alma,
Mas também porque gosto de saber aonde piso.
Assim, se por fora posso ser um rio turbulento,
Por dentro, eu me mantenho uma lagoa calma.
As linhas das nossas mãos são como um mapa;
Nelas a mente tudo projeta em forma de traços;
Os sulcos no rosto fazem dele um pergaminho,
Da história que contam nenhum de nós escapa.
Neles são expostos os caminhos e descaminhos
Que simbolizam os nossos sucessos e fracassos.
O elixir da eterna juventude pode ser que exista,
Mas a sua fórmula, quem a tem, não fez patente.
Por isso ninguém conhece qual o seu composto.
A cirurgia plástica pode até enganar nossa vista,
Mas quem não hospedar a juventude na mente,
Sempre haverá de mostrar a sua idade no rosto.
Eu quero viver tanto quanto vivem as tartarugas,
Mas não que o tempo trace sulcos no meu rosto
Nem estrias tortas nas palmas das minhas mãos.
É por isso que evito rusgas para não criar rugas,
Pois se umas são traçadas pelo lápis do desgosto,
As outras se esculpem pelos cinzéis da decepção.