Uma questão que amiúde tem ocupado a cabeça de quem se envolve com esse tema é quais teriam sido os motivos que provocaram a rebelião de Samael, também conhecido como Lúcifer e Satan, além de outros nomes, porquanto se sabe que ele era um dos anjos preferidos de Jeová Elohin juntamente com Miguel, seu outro queridinho, que tinha o privilégio de ser também um dos entes primevos que saíram da sua primeira manifestação para fora de si mesmo.
Assim, nessa primeira dimensão da realidade manifestada por Deus as hostes celestes eram capitaneadas por essas duas partes dele, uma que representava a sua parte positiva, a outra que fazia o papel de negativa, conquanto nas dimensões celestes elas não tivessem a conotação que tomaram quando ele as manifestou na Terra na forma de atributos dele mesmo. Porque, quando Samael se rebelou contra o seu, digamos Criador, e foi condenado ao exílio cá no nosso planeta, ele se emancipou da personalidade de Jeová e criou para si uma imagem própria que encarnou todos os atributos da parte negativa dele. Mas aqui na Terra esses atributos passaram a ser conhecido como mal, em oposição ao bem, que são os atributos próprios de Jeová Elohin. Samael, passou a ser conhecido por vários nomes, tais como Belzebú, Diabo, Satanás, Lúcifer, Satan, Asmodeus, Tinhoso, Dragão e muitos outros, até para fazer frente para o próprio Jeová Elohin que se ufanava de ter dez bilhões de nomes, embora gostasse mesmo de ser chamado Deus. E Samael, conquanto ficasse conhecido por todos esses epítetos também escolheu o nome Diabo para se tornar conhecido por alguns habitantes da Terra, que lhe prestam culto e até reverência.
Temos para nós que foi isso que levou os nossos doutos teólogos a desenvolver a preciosa ideia de que Deus era único, mas nele conviviam três personalidades distintas que eram o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Três deuses em um ou um Deus em três, o que nunca se chegou a explicar como isso era possível, mas sabemos agora que não era nem uma coisa ou outra, porquanto na verdade Deus havia se desdobrado em setenta e duas partes, que era a sua assembleia de anjos, chamada Shem-amforach, e cada uma de suas partes era um atributo da sua personalidade, que cumpria importante papel na construção do universo e no próprio equilíbrio dele. E Samael também era uma das suas partes, que por ambição, desídia ou mesmo necessidade estratégica do próprio Jeová, que dele se emancipou para constituir um polo negativo na corrente energética que dá vida ao universo, porquanto é sabido que sem mal não haveria bem, o que é o mesmo que dizer que sem o Diabo não precisaríamos de um Deus. Conquanto isso possa soar aos ouvidos fundamentalistas como grosseira heresia cumpre dizer que muitos doutores em teologia já esposaram a tese de que Demo est Deus Inversus, o que quer dizer que o Diabo é a outra cara de Deus, como uma moeda que tem duas faces.
Como já referido, há quem diga que Deus, antes de qualquer princípio que possamos imaginar, era como se fosse um campo de energia que existia dentro de um polo só. Isso significa que ele não tinha a polaridade necessária para fazer circular a sua potência, pois é sabido que toda energia precisa de dois polos, um positivo e outro negativo, para poder circular.
Destarte, na dimensão celeste, quando ainda não havia o mundo físico, as chamadas Ordens angélicas, que eram em número de dez, funcionavam como células pelos quais Deus manifestava a sua potência nessa dimensão. Essa dimensão, por falta de um elemento de recurso linguístico para nomeá-la, quem a descobriu, ou imaginou a sua existência, convencionou chamá-la de mundo da Existência Negativa, se é que algo que é negativo pode ser considerado como existente.
Mas no campo das possibilidades energéticas, que somente a linguagem matemática consegue traduzir, a negatividade é uma realidade tão necessária que se pode dizer que a realidade não seria possível se nela não houvesse um correspondente de cada coisa que existe no mundo real. Destarte, de um mundo além da realidade positiva é que os cientistas dizem que vêm as matérias primas com as quais o universo é construído, sendo nós mesmos uma projeção dessa energia que os acadêmicos chamam de antimatéria, de forma a dizer que existiria, em alguma dimensão desconhecida, uma espécie de cópia perfeita de cada um de nós, feita de matéria radioativa. E se um dia nós, por um acaso só presente nas leis da metafísica, ou por desvelo que as leis naturais possam nos prodigalizar, encontrarmos esse outro eu por aí, será de bom alvitre não se aproximar dele, pois o contato com ele poderá provocar uma explosão capaz de destruir o planeta todo. Isso dizem os doutos nessa ciência que se chama física quântica e longe de nós querer desacreditar o que não entendemos.
Posta a mesa e expostos os condimentos com os quais se tempera essa salada, voltamos ao tema para dizer que o Arcanjo Miguel e o Arcanjo Samael eram as duas partes mais importante da personalidade de Jeová e tinham o mesmo status de importância no reino dos céus, sentando-se ambos ao lado do próprio Criador. Os dois disputavam a primazia da preferência dele para comandar as hostes celestes. E Jeová escolheu Miguel, o que de pronto provocou a ira de Samael, e por tabela, de um grupo de elohins, partidários dele. E foi exatamente essa polarização entre os dois maiores partidos do céu que resultou na que foi chamada Rebelião de Lúcifer, que em razão disso se tornou o grande opositor de Jeová Elohin e do seu governo. Lúcifer, cujo nome de batismo, como vimos, é Samael, ganhou esse apelido justamente por ser o portador do archote que simboliza a centelha luminosa representativa da luz que transporta a energia divina pelo espaço cósmico, criando as realidades que conhecemos pela palavra processual natureza.
O que pouca gente sabe entretanto, e os analistas políticos, sociólogos e cientistas do comportamento humano sequer suspeitam, é que a verdadeira razão de as pessoas estarem a se matar umas às outras desde o começo da criação tem origem nessa dissensão política que o próprio Jeová provocou com a sua monocrática decisão de nomear Miguel como seu comandante-chefe. Isso porque, mesmo sendo Deus, que tudo pode e sabe, ele não tomou tento das consequências que essa medida iria provocar, primeiro entre suas próprias criaturas celestes, e depois, mais graves ainda, entre a sua própria criação humana. É que em razão disso Samael emancipou-se dele e ganhou vida própria. Tornou-se o seu principal opositor, e foi nesse momento que o bem e o mal foram manifestados no mundo como polos de uma mesma relação, mas que, no entanto, vivem se digladiando pelo controle da corrente sanguínea do universo, cuja circulação passa exatamente pelas veias do ser humano.
A política tem suas nuances e os políticos os seus mistérios que detetive nenhum consegue esclarecer, principalmente quando se trata de uma teocracia com um governo autocrático, como se supõe tivesse sido o Reino dos Céus naqueles tempos. Até porque os gregos ainda não existiam para inventar a democracia e Deus, nesses primórdios do universo, se nos afigura como um autocrata que não permitia nenhuma oposição ao seu governo.
Essa nos parece uma verdade indesmentível, provada já tantas vezes pelos processos de conhecimento mais confiáveis e pelas mídias mais respeitadas, uma vez que Ele mesmo se define como um Deus ciumento e vingativo que se vinga daqueles que estão contra ele e se enfurece contra os seus inimigos, como disse pelo menos um dos seus porta-vozes tidos como oficiais. E se assim consta nas crônicas oficiais, não somos nós que vamos desmentir.
Dessa forma, Samael sabia que só poderia confrontar o Criador através da sua criação. E não poderia fazê-lo pervertendo todas as espécies criadas, porque seu único poder de influência era sobre a consciência do homem. Deus havia feito o homem no sexto dia em que Ele manifestou a sua existência positiva fazendo o mundo. E o colocou naquele jardim para que ele tomasse conta dele e servisse como um companheiro com quem pudesse se comunicar. Porquê ele se sentia muito sozinho nas dimensões cósmicas antes disso e mesmo depois de ter gerado a comunidade angélica ele continuou a sentir muita solidão, já que os anjos, sendo feitos de partes dele mesmo, só refletiam os seus próprios pensamentos. O quer dizer que os anjos não pensavam por si mesmos, assim como as nossas partes não pensam por si próprias e só refletem os desejos do nosso Ego.
É isento de dúvida o fato de que Samael devia saber disso porque ele mesmo era uma dessas partes da personalidade divina. E como às vezes ocorre com os próprios seres humanos ― que foram feitos à imagem e semelhança desses seres celestes ― há ocasiões que facetas da nossa personalidade adquirem vida própria e se descolam dela, Daí se dizer de algumas pessoas que elas são bipolares, ou que sofrem de transtorno dissociativo de identidade, que é outro nome para quem tem dupla ou múltiplas personalidades.
Provavelmente isso também deve ter pesado na decisão de Jeová em arrojar Samael para fora do céu. Porque assim como em nós a presença de uma parte com personalidade bipolar, que ora faz uma coisa ora faz outra, e na qual não se pode confiar porque nunca se sabe qual a faceta que está no comando, também Jeová devia se sentir muito incomodado com isso. Samael era como se fosse o seu outro eu. Um ser que se emancipara da sua tutela e estava pensando por si mesmo, agindo por conta própria e, pior que isso, provocando cizânia nas hostes angélicas.
Afinal, todos sabemos que as revoluções começam quando criaturas que vivem numa condição servil começam a ter pensamentos próprios e tomam consciência da sua condição de ser. E nessa condição percebem que não há justiça no fato de uns poderem mais e outros poderem menos. E é daí que nasce o desejo do vassalo em tornar-se igual ao seu suserano, que no fundo, é o motor de todas as comoções políticas e sociais das quais a história da humanidade é feita e não simplesmente a forma pela qual as pessoas ganham a vida, como sustentam os marxistas. E basta descobrir uma que satisfaça os desejos do nosso Ego para que tudo se comece a contestar e a querer mudar.
Segundo o que dizem as crônicas oficiais, o jardim onde Deus pôs o homem para viver como um feliz interlocutor dos seus pensamentos e principal personagem dos seus enredos era como um pomar onde havia todo tipo de frutos, dos quais ele podia comer até se fartar. Como já deixamos notícia, aqui também temos uma metáfora de significado arcano, porquanto o que ela significa é que os tais frutos existentes no tal jardim eram aqueles atributos que o próprio Deus entendera que deveria aportar ao produto máximo da sua criação, qual seja, o homem. Esses atributos são aqueles que Platão chamou de arquétipos, tais quais seriam as qualidades concretas e abstratas presentes no organismo e na mente do homem. Sentimentos de prazer e de dor, estes para guiar os seus comportamentos na praticidade da vida, e os atributos sutis que conhecemos como Bondade, Misericórdia, Sabedoria, Severidade, Coragem, Amor, Beleza e que tais, para compor aquela parte que viria a se chamar de espírito. Esses eram os frutos que medravam da chamada Árvore do Conhecimento do bem e do mal, que os nossos pretensos ancestrais ignoravam que possuíam.
E como agora sabemos, a Árvore do Conhecimento e a Árvore da Vida, eram o próprio corpo físico do homem, onde todos esses atributos estão refletidos. Uma, a do Conhecimento, era o seu cérebro, a da Vida o seu próprio corpo. Daí porque se diz que ele foi feito à imagem e semelhança do seu Criador, com a única diferença que a ele não foram dadas as duas qualidades que fariam dele um verdadeiro Deus, ou quiçá, um anjo, porquanto sabemos que anjos são partes do próprio Jeová Elohin. Essas qualidades eram a consciência e a imortalidade, a primeira entendida como a capacidade de refletir e a segunda a de prolongar a vida ad eternun.
Nesse sentido, as tais árvores, se quisermos entender a verdadeira natureza dessa metáfora, eram o próprio corpo físico do homem, onde todos esses atributos foram refletidos como qualidades do ser humano para animar o modelo chamado pelos acadêmicos de homus sapiens. E o tal fruto do conhecimento nada mais era do que a sua própria mente, ainda não desperta para a consciência do próprio ser que a hospeda. E a imortalidade era o temido fruto que tornaria o ser humano impossível de ser destruído, por isso o temor expresso por Jeová Elohin quando colocou um querubim armado com uma espada flamejante para guardar o caminho para a tal árvore com a intenção de evitar que o casal humano dele também comesse.
Desse ponto de vista tudo se torna mais inteligível, porquanto se sabe que não há nenhum conceito, seja ele de que natureza for, que possa ser desenvolvido fora dos nossos próprios sentidos, e que eles só se manifestam no nosso corpo e só podem ser valorados pela nossa mente.
Daí porque se diz que de todos os frutos daquele pomar ― que era seu próprio corpo ― o homem podia se alimentar, menos de um determinado fruto que pendia de uma de suas árvores ― o cérebro ―, o que para bom entendedor quer dizer que o nosso primeiro ancestral podia experimentar todos os prazeres da vida sem sentir nenhuma culpa por isso. E como ainda não tinha um Ego, tudo fazia inocentemente, naquela condição de ignorância inconsciente da pessoa que faz, mas não sabe porque faz. A conclusão que se tira dessa informação é que o homem podia usufruir de todos os seus sentidos menos daquele que só ao próprio Jeová Elohim era lícito utilizar, que era a consciência dos próprios atos. E esse atributo ―que podemos definir como o conhecimento do bem e do mal ― estava alojada precisamente no centro da sua fisiologia, a parte que nós conhecemos como cérebro. Desse fruto, que era a consciência do ser, Jeová Elohin disse que o homem não podia comer, pois se o fizesse morreria. Cumpre esclarecer que Deus não estava dizendo lorotas para Adão, porquanto o que ele queria fazer compreender não era que Adão e Eva morreriam fisicamente, mas sim que morreriam para aquele status de existência que eles tinham, que era semelhante ao dos anjos.
Pois como disse o poeta no seu salmo “ tu o fizestes um pouco menor que os anjos e de honra e glória o coroastes”, o que quer dizer que Adão e Eva, antes de comer o tal fruto eram mais que humanos e ocupavam um lugar de destaque entre as criaturas de Deus. E eram tão inocentes quantos as criaturas angélicas, que agora sabemos, são partes do próprio Javé Elohin. Destarte, a morte, a qual Jeová se referia, era a perda da inocência da qual eram portadores, pois essa sim, desapareceria se eles passassem a ter conhecimento do bem e do mal.
Essa é uma constatação que pode ser feita sem precisarmos dar muitos tratos à bola, porquanto se Deus dissesse que eles morreriam se comessem do tal fruto, sendo ele Deus e Deus não mente nem faz ameaças vãs, então eles deveriam estar mortos logo após o fato, quando, na verdade, não morreram fisicamente, mas apenas das suas inocências foram privados. Conviver, portanto, com a hipótese que Deus teria prolatado uma sentença de morte para esse crime e depois mudado de opinião seria fazer dele um juiz sem convicção, o que não coaduna com a sua majestade.
Por outro lado, vimos também que eles foram expulsos do Éden. E agora que sabemos que as Árvores do Conhecimento e da Vida eram o próprio corpo do casal humano, podemos concluir também que o Jardim do Éden era, na verdade, aquele status de semi anjo que lhes foi conferido por direitos de nascimento. A sua expulsão se refere, pois, à retirada desse privilégio, que consistia num estado de inocência e pureza de alma, qualidades essas que só era inerente à própria comunidade angélica.
Ainda que correndo o risco de sermos prolixos, cumpre repetir, para que não se lance mais trevas do que luz sobre esse assunto, que Adão foi feito exatamente para refletir na terra os atributos do Criador. E principalmente, porque Deus precisava ter na terra alguém com quem pudesse se comunicar. Todos os atributos do Senhor o casal Adão e Eva possuíam, mas eles eram completamente ignorantes dessa condição. Até porque, sendo eles sozinhos naquela parte do mundo onde foram postos para viver, não havia ninguém com quem se pudesse aplicar essas qualidades. Não importa ser bom se não há para quem aplicar essa bondade; e de que vale uma sabedoria que a ninguém serve, ou uma beleza se não há ninguém para apreciá-la? Ou uma misericórdia que não tem onde se exercer, um esplendor que ninguém admira, uma justiça que não tem ninguém nem nada a quem julgar? O próprio Jeová era tudo isso e sentia-se impotente porque não tinha nada nem ninguém sobre quem exercer o seu poder. Por isso fez o universo e o povoou com a vida que existe nele.
Adão e Eva tinham tudo que queriam e precisavam para viverem felizes para sempre naquele jardim sagrado que eram seus corpos glorificados e envolvidos pela luz santificada que envolvia suas formas de seres angelicais. Como nossos índios na floresta, que ainda não tiveram qualquer contato com a civilização, eles eram inocentes como crianças e ignorantes das culpas que a sabedoria do Ego nos impõe. E essa ignorância estava simbolizada pela própria nudez que ostentavam passeando nus pelas alcandoradas trilhas daquele lugar delicioso onde foram postos para morar, sem sentir vergonha, frio ou calor demasiados, nem necessidade de qualquer outra proteção para os seus corpos.
Evidentemente, eles não foram feitos para viver eternamente. Não seria esse o propósito de Deus, porquanto se sabe que ele queria que os seres humanos enchessem a terra, e se fossem eles imortais, hoje o planeta já teria explodido de tanta gente. Daí é que nos parece óbvia que a informação que o Senhor deu a Adão, de que morreria se perdesse a sua inocência não se referia a uma morte física, pois esta, quando bem lhe apetecesse poderia ser provocada com a simples instalação de uma gripe, a provocação de um enfarto, um acidente qualquer que lhes tirasse a vida, que de ordinário se sabe que as vidas humanas são tão frágeis quanto os seus motivos de orgulho. Por isso é que entendemos que a morte a que o Senhor se referiu para Adão, como já se disse, era a morte da sua inocência, da sua condição de pessoa inconsciente de qualquer juízo de valor, e a sua passagem para uma fase na qual os pensamentos e comportamentos começassem a ser valorados segundo critérios que ultrapassam a mera razão dos sentidos.
Destarte, foi essa a estratégia que Samael usou para se vingar de Jeová, que o exilara para o mundo da escuridão da matéria, desvestindo-o da luminosidade com que fora revestido quando saiu, radiante, da energia emitida pelo Criador.
Há que se reconhecer que a estratégia de Samael para provocar na consciência do homem uma disposição para desobedecer às ordens de Jeová é a que mais se coaduna com as proposições lógicas que envolvem essa história, porquanto é bem aceito hoje entre as pessoas que pensam e não somente acreditam, que a espécie humana não nasceu pronta e perfeita do cadinho do Senhor. E que não foi obtido a partir de um boneco feito de barro e água, cozido no fogo e animado com uma lufada de ar soprado nas suas narinas, como está escrito que foi, ou pela pronúncia do Verdadeiro Nome de Deus no seu ouvido como sustentam outras fontes.
E que, na verdade, antes de sermos o que somos, criaturas que pensam e refletem sobre os seus pensamentos, nós éramos como os demais animais, e pouco a pouco, conforme as estratégias de sobrevivência desenvolvidas pela nossa espécie fomos ganhando configurações mais complexas em nossos cérebros e evoluindo em nossas estruturas fisiológicas até chegarmos ao que somos hoje.
Nesse sentido, há quem diga que o que se conhece como pecado original, estranhos termos que se cunhou para dar fumos canônicos à uma ação natural do processo de evolução da vida, nada mais é que a aquisição, por uma espécie em particular, o homem, da capacidade de refletir, o que aconteceu em algum momento da sua evolução pela adição de uma camada a mais de neurônios em seu cérebro animal, distinguindo-o das demais espécies.
Trazemos essa hipótese à baila para compatibilizar o pensamento de quem crê com o pensamento de quem acha que pode saber. Por que entre a crença e o saber é que se constroem todas as histórias, e é assim que se faz a sabedoria. Primeiro se intui o que pode ser, depois se tenta comprovar se é mesmo assim. Da mesma forma que a técnica vem antes da ciência, a imaginação vem antes do conhecimento e obraria em erro quem dissesse que na sua sabedoria não existe uma forte composição imaginativa como estrutura.
Se o homem foi criado a partir de um molde de barro, por artes mágicas, ou foi transposto de uma matriz animal por foros de uma evolução natural que contempla todos os seres vivos não é coisa que se possa afirmar, mas tanto pode ser uma coisa como outra. O que não se aconselha é hospedar em nossas mentes qualquer incômodo por conta disso, porquanto seja uma coisa ou outra, sempre ficará o dito de que para quem acredita nessas coisas nenhuma explicação é necessária e para quem não acredita nenhuma explicação é suficiente. E nenhuma certeza sobre esse assunto, se algum dia ela vier à tona, nos fará melhor ou pior do que somos, já que essa crença é pura escolha nossa e nada tem a ver com a nossa origem.
Mas como esta história foi contada com fumos de sobre naturalidade, vamos continuar nesse rumo. Voltemos à imagem de Samael, na figura de um dragão-serpente, enrodilhada em volta de uma árvore carregada de apetitosos frutos, a mesma árvore que os imaginosos taumaturgos hindus chamaram de Kalpavriksha, árvore divina plantada pelo Deus Indra no jardim da cidade de Amaravati, o que nos mostra que o tema é de amplidão mundial e alguma razão há de ter nessa coincidência. E vamos deixá-lo aqui, em pleno trabalho de convencimento, a sussurrar no ouvido da nossa mãe Eva aquelas palavras que dizem que ele disse e levou à perdição. Á ela e ao papai Adão.
(continua)
Excerto do conto "A Árvore e o Dragão", no prelo para publicação.