Deus era a existência negativa,
A chamada singularidade pura,
Coisa informe, invisível, escura,
Sem tamanho, qualidade ou cor,
Porém, de infinita temperatura;
Mas nele havia a vontade ativa,
De se tornar existência positiva,
Para usar o que tinha de melhor,
─ O seu imenso e infinito Amor.
Foi então que ele disse: Eu sou!
E foi com essa palavra criadora,
Que Ele liberou a força motora,
Com a qual o universo formou.
Mas em meio daquela pletora,
Da sua imensa energia liberada,
Tudo era uma confusão danada
Sem qualquer mão orientadora.
─ O Caos, como ele se chamou.
Tudo era só a pura relatividade
Naquela explosão de energia;
Com ela o mundo se expandia,
Numa incalculável velocidade,
Que força nenhuma competia.
De repente, naquela confusão,
Surgiu uma certa arrumação,
Que uma nova lei então fazia:
─ Era a lei chamada Gravidade.
E assim o Caos foi organizado:
Galáxias, sistemas planetários,
Os principais e os tributários,
Num desenho bem planejado
Como se fossem uma só vida
Composta de sistemas vários,
Um céu de estrelas milionário,
Peixes nadando em um aquário
Cada um com função definida.
Á medida que tudo ia fazendo,
Todo aquele calor ia baixando,
Céu e a terra iam se formando
E nela matéria viva aparecendo.
Um dia Deus, usando seu Amor,
Concentrado em uma vivência,
Botou na terra uma inteligência
Entre as suas crias escolhendo
Uma delas para ser o dominador.
Deu-lhe sentidos e consciência,
Nasceu então o homem sabido,
Que a tudo pôs nome definido,
De acordo com cada aparência,
Organizando o Caos da Criação.
Assim, o princípio da identidade
Catalogou toda a humanidade,
Tendo o homem na sua regência,
Como Deus lhe dera por função.
Essa ação do Grande Arquiteto,
O grande erro talvez tenha sido,
Pois o homem ficou tão metido
Não soube conservar-se quieto.
Com tal arrogância e destemor
Comeu o fruto do conhecimento.
E foi a partir daquele momento
Por julgar-se perfeito e completo
Que ele se achou igual ao Criador.
Tudo voltou ao começo de novo,
O Caos que havia sido ordenado,
Voltou a ser novamente instalado
Mas desta vez no meio do povo,
Gerando conflito, a dor e a guerra.
E se a matéria encontrou unidade,
Por outro lado a nossa sociedade,
Ainda insiste em quebrar este ovo,
E assim espalhar o Caos pela terra.
Assim, este nosso planeta girante,
Segue o seu rumo indeterminado
Num espaço eternamente alargado
Pela força dessa explosão primeira,
Com a qual este universo começa.
E dentro dela, também sem destino,
O homem é só um eterno peregrino
Tentando consertar a baita besteira,
Que fez dele o protagonista da peça.