João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Minha formiga estava achando ruim
A forma como vivia dentro de mim,
Por isso resolveu procurar trabalho;
Estava louca para deixar o borralho,
Pôs uma gravata e vestiu um terno,
Foi procurar comida para o inverno.
 
Porém a cigarra que vivia em mim,
Gostava muito de ser e viver assim,
E sem desejo de mudar ou crescer,
Em meu coração ela foi se esconder.
Ali passou todo o inverno á espera,
De que viesse de novo a primavera.
 
Ela esperava que a formiga voltasse
Trazendo a comida que encontrasse    
Para cumprir uma promessa que fiz,
Que um dia seríamos um casal feliz;
A cigarra, cantando as suas canções,
E a formiga cuidando das provisões.
 
Pois a felicidade então me parecia,
Uma vida com segurança e alegria,
Em que se pudesse comer e cantar.
E se ambos eu conseguisse ganhar 
Poderíamos gozar nossa felicidade
Vivendo entre o sonho e a realidade.
 

Mas o mundo sempre nos modifica
E quem vai se esquece de quem fica.
Para a cigarra, a formiga era “careta”,
Para a formiga, cigarra só faz “treta”,
Porque a primeira só vivia cantando,
Mas a segunda somente trabalhando. 
 
Assim fiquei em meio à uma guerra:
O feroz conflito entre o céu e a terra;
Pois se a cigarra alegra meu coração
É a formiga quem me fornece o pão.
Elas vivem em minha mente a brigar
E não sei a qual delas razão devo dar.
 
É a formiga que me comanda de dia,
E não me permite nenhuma fantasia;
Porém à noite, a cigarra toma conta,
E toda a minha seriedade desmonta;
E se de dia eu só ando em linha reta,
Viro a noite como um bêbado poeta.
 
Era muito difícil viver dessa forma,
Fatiado entre a liberdade e a norma,
O sonho de ser e a ansiedade de ter,
A necessidade rude e o doce prazer,
Dividindo a vida numa eterna briga, 
Da alma cigarra no corpo da formiga.

 

 E foi em face deste conflito imenso
 Que acabei encontrando o consenso
 Entre o meu adulto e minha criança;
 A nenhuma delas eu dei  a liderança
 Porque que de ambas muito preciso
 Pois uma é o prazer e a outra o juízo.
 

Cheguei assim à inaudita conclusão,
Que alma é lazer, corpo é profissão;
Deus os fez mutuamente inclusivos
Para que possamos continuar vivos.
De dia é pegar no batente com garra

Para, à noite, poder sair para a farra.
 
E é assim que aprendi a levar a vida,
Dividindo-me entre o prazer e a lida.
Nenhum deles reclama mais de mim.
Se de dia sou yang, de noite sou yin,
Porque, para que tudo possa vir a ser,
É preciso equilibrar trabalho e lazer.
 

 

 

 

 

 

 

 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 24/05/2025
Alterado em 28/05/2025


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