João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


 

Uma questão que amiúde tem ocupado a cabeça de quem se envolve com esse tema é quais teriam sido os motivos que provocaram a rebelião de Samael, cá entre nós conhecido como Lúcifer e Satanás, porquanto se sabe que ele era um dos anjos preferidos de Elohim Deus Pai juntamente com Miguel, seu filho dileto. Miguel e Samael tinham o privilégio de serem também as duas primeiras potencialidades celestes que saíram da sua manifestação inicial para fora de si mesmo.

Assim, nessa primeira dimensão da realidade manifestada por Elohim Deus Pai, as hostes celestes eram capitaneadas por essas duas partes dele, uma que representava a sua parte positiva, a outra que fazia o papel de negativa, conquanto nas dimensões celestes elas não tivessem a conotação antagônica que assumiram quando se manifestaram na terra e há quem diga, como já informamos, que havia uma medida de hierarquia entre os dois Elohins filhos que as gônadas sagradas de Elohim Deus Pai primeiro produziram. Pode ser. Afinal, essa trama serviu para costurar várias outras que se escreveram depois para dar uma impressão de continuidade histórica na saga de um povo, como as que se contam sobre Cain e Abel, Jacó e Esaú, Isaque e Ismael e outras que encontram nessa dicotomia entre o bem e o mal a fórmula para o desenvolvimento dos seus próprios enredos.   

Acontece que quando Samael se rebelou contra o seu Criador e foi condenado ao exílio cá no nosso planeta, ele se emancipou da personalidade de Elohim Deus Pai e criou para si uma imagem própria que encarnou todos os atributos da parte antagônica dele. E aqui na terra esses atributos passaram a ser considerados como mal, em oposição ao bem, que são as qualidades próprias de Elohim Deus Pai. Samael passou a ser conhecido por vários nomes, tais como Belzebu, Diabo, Satanás, Lúcifer, Satan, Asmodeus, Tinhoso, Dragão e muitos outros, até para fazer frente ao próprio Elohim Deus Pai que se ufanava de ter dez bilhões de nomes, embora gostasse mesmo de ser chamado apenas de Deus. E Samael, conquanto ficasse conhecido por todos esses epítetos também escolheu o nome Satanás para se tornar conhecido pela maioria dos habitantes da terra e muitos há que lhe prestam culto e até reverência como o verdadeiro senhor do mundo. 

Temos para nós que foi a múltipla personalidade de Elohim Deus Pai que levou os nossos doutos teólogos a desenvolver a preciosa ideia de que Deus era único, mas nele conviviam três pessoas distintas que eram o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sem pensar que estavam fazendo dele um ser com transtorno dissociativo de personalidade, um personagem com três faces, como aquela Eva White do famoso livro que também virou um filme de sucesso, ou aquele ícone de três faces que olha para o passado, o presente e o futuro, que aparece nos templos construídos pelos Cavaleiros Templários, e é conhecido como sendo o demônio Baphomet.  Três deuses em um ou um Deus em três, o que nunca se chegou a explicar como isso era possível, mas sabemos agora que não era nem uma coisa ou outra, porquanto, na verdade, Elohim Deus Pai havia desdobrado a sua potencialidade em setenta e duas partes para criar uma espécie de assembleia de anjos chamada Shem-hamphorasch e cada uma de suas partes era um atributo da sua personalidade, (cá entre nós chamados de arquétipos), que cumpria importante papel na construção do universo e no próprio equilíbrio dele. E Samael também era uma das suas partes,  uma das mais poderosas e importantes. A ele, Elohim Deus Pai dera a incumbência de segurar o archote que simbolizava a sua Luz infinita, que por definição e vontade dele próprio, seria o veículo que levaria a energia divina a todos os cantos do universo para preenchê-lo com a matéria que assumiria massa e forma. Talvez por isso Samael tenha se arrogado tanta importância no processo de construção da realidade universal, que se sentiu no direito de reivindicar uma posição superior entre os seres celestes, ombreando-se inclusive ao próprio Criador. 

Destarte, foi por conta dessa ambição, desídia ou quem sabe, até necessidade estratégica do próprio Elohim Deus Pai, que Samael, que daqui para a frente passaremos a chamar pelo seu nome terrestre, Satanás, o Diabo, dele se emancipou para constituir um polo negativo na corrente energética que dá vida ao universo. Porque é sabido que sem mal não haveria bem, o que é o mesmo que dizer que sem o Diabo não saberíamos da existência de Deus. Conquanto isso possa soar aos ouvidos fundamentalistas e conservadores como grosseira heresia, cumpre dizer que muitos doutores em teologia já esposaram a tese de que Demo est Deus Inversus, o que quer dizer que o Diabo é a outra cara de Deus, como uma moeda que tem duas faces.

Como já referido, há quem diga que Deus, antes de qualquer princípio que possamos imaginar, era como se fosse um campo de

energia que se movimentava dentro de um polo só. Isso significa que ele não tinha as duas pontas necessárias para fazer circular a sua potência, pois é sabido que toda energia precisa de dois polos, um positivo e outro negativo, para poder circular. E energia que não circula não serve para nada, o que quer dizer que se Elohim Deus Pai não fizesse circular a sua, a sua existência também não teria nenhum sentido, como não tem a vida de uma pessoa que se queda inerte por todo o tempo da sua existência.

Destarte, na dimensão celeste, quando ainda não havia o mundo físico, as chamadas ordens angélicas, que eram em número de dez, funcionavam como células pelos quais ele manifestava a sua potência nessa dimensão. Essa dimensão, por falta de recursos linguísticos para nomeá-la, quem a descobriu, ou imaginou a sua existência, convencionou chamá-la de mundo da Existência Negativa, nome extremamente sugestivo, se é que algo que é negativo pode ser considerado como existente. 

Mas no campo das possibilidades energéticas, que somente a linguagem matemática consegue traduzir, a negatividade é uma presença tão necessária que se pode dizer que a realidade não seria possível se nela não houvesse um correspondente de cada coisa que existe no mundo real. Destarte, de um mundo além da realidade positiva é que os cientistas dizem que vêm as matérias primas com as quais o universo das realidades é construído, sendo nós mesmos uma projeção dessa energia que os acadêmicos chamam de antimatéria, de forma a dizer que existe em algum lugar um hiper espaço, onde uma espécie de cópia perfeita de cada um de nós, feita de matéria radioativa, sobrevive. E se um dia nós, por um acaso só possível nas leis da metafísica, ou por desvelo que a mecânica quântica possa nos prodigalizar, encontrarmos esse outro eu por aí, será de bom alvitre não se aproximar dele pois o contato poderá provocar uma explosão capaz de destruir o planeta inteiro. Isso dizem os doutos nessa ciência que se chama física quântica e longe de nós querer desacreditar o que não entendemos. 

Posta a mesa e expostos os condimentos com os quais se tempera essa salada, voltamos ao tema para dizer que os Elohins Miguel e Samael (que agora já é conhecido entre os seres humanos pelo seu nome terrestre, Satanás), irmãos por origem e qualidade, eram as duas partes mais importante da personalidade de Elohim Deus Pai e tinham o mesmo status de importância no reino dos céus, sentando-se ambos ao lado do próprio Criador. Os dois disputavam a primazia da preferência dele para comandar as hostes celestes. Elohim Deus Pai deu preferência a Miguel, o que de pronto provocou a ira de Samael e por tabela de um grupo de Elohins partidários dele. E foi exatamente essa polarização entre os dois maiores partidos do céu que resultou na que foi chamada Rebelião de Lúcifer (outro nome de Samael), que em razão disso se tornou o grande opositor do máximo soberano do universo e do seu governo. 

Como dissemos, Satanás, ou Lúcifer, cujo nome de batismo, como vimos, é Samael, ganhou esse apelido justamente por ser o portador do archote que simboliza a centelha luminosa representativa da luz que transporta a energia divina pelo espaço cósmico, criando as realidades que conhecemos pela palavra processual natureza e dentro dela o que entendemos como matéria.

O que pouca gente sabe, entretanto, e os analistas políticos, sociólogos e cientistas do comportamento humano sequer suspeitam é que a verdadeira razão de as pessoas estarem a se matar umas às outras desde o começo da criação tem origem nessa dissensão política que o próprio Senhor de todos os mundos provocou com a sua monocrática decisão de nomear Miguel como seu unigênito filho, desprezando os direitos de Satanás e dos demais entes celestes por ele gerado. Isso, no seio de qualquer família, ou na política de qualquer reino, sempre foi motivo de dissensão e conflito e não é porque se trata de uma linhagem divina que ela estaria a salvo desse nefasto resultado.  

Destarte, mesmo sendo Deus que tudo pode e sabe, Elohim Deus Pai não tomou tento das consequências que essa medida iria provocar, primeiro entre suas próprias criaturas celestes e depois, mais graves ainda, entre a sua própria criação. É que em razão disso Satanás emancipou-se dele e ganhou vida própria como já informado. Tornou-se o seu principal opositor e foi nesse momento que o bem e o mal foram manifestados no mundo como polos de uma mesma relação de atividade, mas que, no entanto, vivem se digladiando pelo controle da corrente sanguínea do universo, cuja circulação passa exatamente pelas veias do ser humano.

A política tem suas nuances e os políticos os seus mistérios que detetive nenhum consegue esclarecer, principalmente quando se trata de uma teocracia com um governo autocrático, como se supõe tivesse sido o reino dos céus naqueles tempos. Até porque os gregos ainda não existiam para inventar a democracia e Elohim Deus Pai, nesses primórdios do universo se nos afigura como uma espécie de aiatolá que não permitia nenhuma oposição ao seu governo. 

Essa nos parece uma verdade indesmentível, provada já tantas vezes pelos processos de conhecimento mais confiáveis e pelas mídias mais respeitadas, uma vez que ele mesmo se define como um Deus ciumento e colérico que se vinga daqueles que estão contra ele e se enfurece contra os seus inimigos como disse pelo menos um dos seus porta-vozes tidos como oficiais. E se as- sim consta nas crônicas oficiais, não somos nós que vamos des - mentir. 

     Dessa maneira começou essa guerra nos céus, que tem o seu reflexo na terra até hoje. Satanás e sua trupe tornaram-se o símbolo do mal em contraponto à Elohim Deus Pai, que encarna a ideia do bem. Isso explica todo o desenvolvimento posterior que esse conto trouxe para a história humana e o conjunto das suas crenças e explica por que o Miguel, Elohim Filho, muitos séculos depois teria que colocar-se na pele de um ser humano e oferecer-se em sacrifício para, supostamente, dar à humanidade uma chance de se livrar da influência de Satanás, o que muita gente duvida que ele tenha conseguido.

     Nada mais lógico e passível de compreensão, porquanto é assim mesmo que se constrói a História: refilmagens de uma mesma película, com enredos extraídos de outra anterior, o que nos permite dizer que, no fundo, ela é uma espécie de franquia que trabalha um único tema com os mesmos personagens, só variando os ambientes e as diferentes facetas que cada um assume

em face das necessidades do momento. Por isso, o próprio Miguel, Elohim Filho, é identificado com vários personagens que já frequentaram as crenças dos homens, sempre no papel de um redentor, assim como Satanás, que já reencarnou em muitos atores desse filme, não por acaso identificados com políticos e líderes religiosos ou sociais inconformados, que promovem sangrentas carnificinas para fazer valer as suas tortas concepções de mundo. 

     Tudo isso não é de se estranhar porquanto, como disse um conhecido cientista, o universo pode ter várias histórias prováveis. Isso quer dizer que existem vários planos de existência, onde as mesmas coisas podem estar acontecendo, mas levando a diferentes resultados. Assim, num desses universos, Miguel, no papel do personagem que conhecemos como Jesus, pode não ter sido crucificado. Quem sabe Pilatos, ao invés de simplesmente lavar as mãos e deixar que os fariseus o levassem para o Calvário, preferiu soltá-lo e botar na cruz o hipócrita líder do Sinédrio, o inefável Caifás? Da mesma forma podemos pensar que o vaidoso autocrata chamado Júlio César não foi assassinado e morreu de velhice no seu Domus Augustiano, lá no Monte Palatino. Destarte, num outro universo a Alemanha ganhou a guerra, Tiradentes não foi enforcado, o Titanic chegou à Nova Iorque e Jack, o Estripador, não foi um assassino em série, mas sim um grande filantropo que fundou asilos, construiu hospitais e deu abrigo a milhares de sem-teto londrinos ao invés de estripar prostitutas nos becos escuros da Londres vitoriana.

          Isso nos dá asas para muita imaginação porque não estamos falando de fantasias, mas sim de ciência, já que tudo é provável matematicamente. Com essa ideia podemos imaginar um mundo sendo construído em diversas etapas, como num álbum de desenhos. Faz-se um modelo e nele vamos superpondo traços até chegar a algo que definitivamente nos agrade. Ou então, como na produção de um desenho animado, em que a ação dos personagens provém de uma série de desenhos concatenados, superpostos um ao outro para criar uma ilusão de movimento.

      E num desenho animado tudo é possível. Por isso talvez Elohim Deus Pai se pareça mais com um Mauricio de Souza, um Ziraldo ou um Walt Disney em sua prancheta do que com um patriarca barbudo e austero como o figuram as imagens que a mídia religiosa oficial faz dele. Ou então como na figura que dele fazem os maçons, que o pintam como um arquiteto com um esquadro e um compasso na mão desenhando os contornos do universo.  Pode ser. A imaginação é livre, não paga imposto e quem não a usa desperdiça o mais precioso tesouro que a vida nos dá.

De todo esse imbróglio a conclusão que se tira é a de que a guerra entre o bem e o mal começou no céu e foi trazida para a terra com a infeliz decisão de Elohim Deus Pai de transformá-la numa colônia penal para os anjos rebeldes. E que, pelo menos por aqui, Samael Satanás estava ganhando, pois além de implantar no planeta um núcleo populacional com a sua marca, também fez questão de omitir por completo para essa população qualquer menção de quem era o seu próprio Criador e a quem ele mesmo devia reverência. E com isso, Elohim Deus Pai, desconhecido e ignorado na terra era como alguém que não existia.  

Por essa e por outras é que pensamos que a finalidade pela qual Elohim Deus Pai resolveu criar o homem Adão foi a de ter, na terra, uma criatura que o tornasse conhecido no seio da sua própria criação. Quer dizer, alguém que lhe servisse de agente e propagador dos seus atributos. Mas não só, ao que parece. Além desse objetivo, digamos, midiático, queremos crer que ele também precisava de alguém para defender os seus interesses no planeta, porque, como vimos, ele tinha por aqui um rival já bastante ativo que estava desenvolvendo um reino paralelo em lugares não muito distante daquele jardim onde ele criou o homem Adão e o pôs para morar. 

Disso sabemos por que as próprias crônicas oficiais informam que antes de Elohim Deus Pai ter produzido o seu protótipo de ser humano já havia por aqui criaturas semelhantes ao homem, ainda que de etnia diferente da do nosso pai Adão.  não se pode tomar essa informação como uma “fake news” porquanto são as próprias crônicas oficiais que atestam que Cain, o amaldiçoado filho de Adão e Eva, após ser expulso da presença de Elohim Deus Pai, encontrou em terras a nascente do Éden uma esposa. Daí que, a não ser que essa mulher fosse sua própria irmã, ou um rebento oriundo de algum irmão (cujo assento não consta dos relatos oficializados), que sentou praça e constituiu família em algum lugar distante daquele em que Adão gerou sua prole, há que se admitir que a família do nosso presumível ancestral primevo já tinha uma considerável concorrência habitando no planeta. E, presumimos nós, essa concorrência ostentava já uma civilização bastante avançada, pois que costumava registrar em caracteres cuneiformes gravados em tabuinhas de barro tudo que rolava nas suas terras.

 

 

 

( Do romance A Forma do Homem), no prelo para publicação

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 19/06/2025
Alterado em 20/06/2025


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