Como um artista tentando
Pintar uma aquarela
Busco fixar em uma tela
Aquilo que estou pensando.
Mas, qual, a imagem fugidia
E tão sutil como a fumaça,
E à medida que o tempo passa
Some um pouco a cada dia.
Por mais que carregue a mão
As cores ela vai perdendo
Pouco a pouco esmaecendo
Até que sobra um borrão
Onde nem se distingue forma,
Só cores embaralhadas
Como tintas misturadas
Sem critério, nexo ou norma.
Quando olho para meu passado,
Vejo os objetos do meu desejo
Postos num quarto de despejo
Como todo descartado.
E ainda bem que isso acontece;
Memórias são como fotografia
Perdendo as cores cada dia
A emoção também arrefece.
O tempo é como um cadinho
Dissolvendo a nossa memória
Descarregando o peso da história
Pelos tropeços do caminho.
E assim tudo se reduz;
Feliz o homem que no fim
Puder se sentir assim
Tão leve como um grão de luz
Deixando pela estrada do viver
A insustentável leveza do seu ser.