João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


HERÓDOTO E O POVO DE UM OLHO SÓ

 

Heródoto foi um historiador grego que nos legou uma extensa obra sobre a vida dos antigos povos que habitaram a Ásia e a Europa. A leitura dos seus relatos pode nos levar a entender muita coisa do que acontece hoje. Parece que elas não mudaram muito desde então.

Claro que ele, como todos os historiadores, deve ser lido com as devidas reservas. Até porque, sendo um ser humano, Heródoto pensava e vivia com um. Quando não temos informações suficientes para descrever um fato, nós preenchemos os espaços vazios com suposições, fantasias, imaginações e deduções, porque o nosso cérebro, uma máquina que trabalha vinte e quatro horas por dia, morreria se ficasse sem matéria prima para processar.

É assim que geramos as nossas narrativas, muitas vezes, apondo sobre os fatos a visão que temos sobre eles, mesmo sem tê-los visto, ou mesmo obtido informação de fonte fidedigna. E geralmente, as nossas narrativas são construídas em cima dos nossos desejos, o que quer dizer que nós narramos os fatos do jeito que gostaríamos que eles fossem e não como são verdadeiramente.

Isso não quer dizer que estamos mentindo. Apenas estamos dizendo o que queremos que seja. Para os outros isso pode ser "fake news", mas para nós é verdade.

Heródoto, em sua obra, descreveu o mundo que ele vivia e observou. Claro que a maioria dos fatos que relata ele não presenciou. Mas ele era honesto e sempre citava as suas fontes. Assim, muito do que ele conta são resultado das fantasias e das superstições que os povos da sua época cultivavam. Por isso encontramos na sua obra informações sobre povos tão estranhos como os Egípodes, povo que tinha pés de cabra, e os Issedons, povo que tinha um olho só e costumava degolar seus mortos para usar seus crâneos como taças para beber vinho.

Nada há de estranho nisso porquanto se sabe que os povos antigos acreditavam na existência de seres tão estranhos, como ciclopes, monstrengos de um olho só, e centauros, criaturas que eram humanas da cintura para cima e animais da cintura para baixo, o que de resto não deve ser computado como fantasias, já que há quem diga que só a forma mudou, pois o homem hoje passou sua parte animal para cima e a humana para baixo.

Bem. Como dissemos, a nossa História, em grande parte, é composta por narrativas urdidas com base em fantasias, deduções, suposições e principalmente, crenças e desejos do narrador de que as coisas fossem como ele gostaria que fosse e não como são. Estão aí para provar isso os nossos livros sagrados e todos os nossos livros de História. Mas se  podemos acreditar que Deus parou o movimento do sol no céu para que os exércitos de Josué pudessem derrubar os muros de Jericó, também podemos crer em Heródoto quando fala da existência, no seu tempo, de um povo que tinha um olho só.

Até porque talvez ele não estivesse relatando fantasias e superstições, mas sim tendo uma premonição, já que, ao que parece, esse povo talvez não existisse naquele tempo, mas existe hoje, vivendo em terras abaixo da linha do Equador.

É um povo heroico que vive numa terra que é considerada um berço esplêndido, onde plantando tudo dá. Mas pelo que se vê no seu comportamento, tem um olho só porque metade só enxerga o que há no lado esquerdo e a outra metade o que há no lado direito. E por causa disso nunca se entendem e vivem brigando entre si para impor ao outro a sua estereotipada visão das coisas. E não conseguem fazer com que o seu país vá para a frente, porque quando dois burros puxam a mesma carroça, cada um para um lado, não há meios de fazê-la sair do lugar.

 

 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/07/2025
Alterado em 17/07/2025


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras