LULA, BOLSONARO, TRUMP E JESSE JAMES
“Jesse James was a man (Jesse James foi um homem)
And he killed many man (Ele matou muita gente)
He also robbed the Grendale train (Também roubou o trem de Grendale)
He took from the richer and gave to the poorer (Eletirava dos ricos e dava aos pobres)
He’d a hand, a heart and a brain… (Ele tinha mão, um coração e um cérebro)
Balad of Jesse James
Para espantar a insônia que as notícias dos jornais da noite me trouxeram, busquei na minha TV alguma coisa que me ajudasse a dormir. Logo topei com um velho faroeste secreio eu filmado em 1949, protagonizado pelo icônico Jonh Barrymore no papel do “covarde Robert Ford”, pistoleiro que matou o notório bandido chamado Jesse Hudson James, que havia se tornado uma lenda no Velho Oeste americano nos anos que seguiram ao término da guerra civil entre os estados.
Jesse James virou bandido em consequência dos motivos políticos e sociais que se seguiram à Guerra de Secessão. Sua família, como a de muitos outros pequenos fazendeiros do Missouri, foram despojados de suas terras pelo governo do estado, para a construção de uma estrada de ferro. Como represália, Jesse e seu irmão Frank, juntamente com outros despojados, formaram bandos que passaram a atacar os trens da Cia Grendale, concessionária da referida ferrovia.
Jesse James virou uma espécie de Robin Hood do Velho Oeste, porque, segundo algumas fontes midiáticas da esquerda, ele roubava dos ricos para dar aos pobres. Uma típica ideia socialista. Virou mito e até hoje ele é reverenciado pelas esquerdas americanas como um ícone da luta entre o capitalismo selvagem, que só se interessa pelo lucro e a população simples e trabalhadora que só quer condições para sustentar suas famílias.
Jesse James foi assassinado com um tiro pelas costas deferido por um membro da sua quadrilha, chamado Robert Ford. Ele matou Jesse para receber a recompensa que o Estado oferecia para quem o prendesse ou matasse. Na lápide do túmulo de Jesse James seus admiradores mandaram escrever o seguinte epitáfio: ”Aqui jaz Jesse Hudson James, morto pelas costas por um covarde cujo nome não merece ser citado aqui.”
A história de Jesse James é emblemática e pode ser considerada arquetípica. Acontece e se repete continuamente na história da nossa sociedade. Ela reflete a luta entre o capitalismo selvagem, cuja ambição é insaciável e o socialismo utópico de um grupo de sonhadores que pensa resolver os problemas do mundo através da distribuição das riquezas que nem sempre eles ajudaram a construir.
Registramos essa história porque vemos nela um clichê do que estamos vivendo neste momento. De um lado uma elite que só tem cifrões nos olhos e vê no seu adversário um Jesse James que quer despojá-los dos seus lucros para distribuir entre aqueles que, na sua opinião, nada fizeram para merecê-lo. De outro, um grupo de utópicos socialistas que reivindicam pedaços maiores de um bolo que pouco fizeram para ajudar a produzir.
Quem está com a razão é difícil dizer. Cada um tem a sua e merece ser respeitada. O problema é que quando se alteram fatos para provar a teoria, em vez de examinar a teoria para tentar compreender os fatos, a coisa toda vira paranoia. E é exatamente isso que estamos vivendo hoje. A polarização política colocou um escotoma nos olhos dos dois blocos antagônicos, de forma que a intolerância e o ódio passou a comandar os comportamentos de uma tal maneira que ninguém consegue ver mais nada além da sua própria verdade.
Num cenário desses não é comum os personagens perderem o juízo. E muitas vezes acabam traindo suas próprias convicções como parece estar acontecendo com algumas autoridades, que não veem problema em traírem o próprio pais só para prejudicar o adversário, ou magistrados que se tornam verdadeiros ditadores para fazer valer as razões do seu ego desafiado.
Jesse James tornou-se um bandido perigoso e foi perseguido pelo regime, que pagou caro para se livrar dele. Robert Ford, que fez a mão do carrasco, matando-o, tornou-se um pária social, odiado e marcado como um vil traidor. Acabou também sendo assassinado.
Petistas e bolsonaristas, Lula, Bolsonaro, Trump, Putin, Maduro e todos os convictos da sua própria verdade deveriam ver esse velho faroeste que foi filmado há quase cem anos atrás. Quem sabe ele traga um pouco de reflexão madura para pôr um pouco de água nessa fervura que já está queimando uma parte do mundo e ameaça se espalhar por todo o planeta.