MENTIRAS ESSENCIAIS, VERDADES INÚTEIS
Quantos quilos de carne são produzidos em troca da destruição de um quilômetro de florestas na Amazônia, no Cerrado ou no Pantanal? É uma conta difícil de fazer e por isso mesmo se torna uma pergunta tão difícil de responder que ninguém se dá ao trabalho de nem mesmo tentar.
É mais fácil calcular em quanto aumenta a conta bancária do pecuarista ou do fazendeiro, o incremento do PIB e a arrecadação dos impostos que daí advém. Por isso os defensores do capitalismo sem controle justificam o seu predatório apetite pela produção em massa e pelo aumento do consumo desenfreado dos seus produtos sem se preocupar com o custo que toda essa ambição por uma ilusão de bem estar provoca. E na mesma esteira de entendimento, os defensores da chamada esquerda progressista, ainda que tenham um olhar mais compreensivo para esse problema, também estão longe de enxergar a verdadeira natureza da questão, porque, na verdade, o que eles querem é o mesmo resultado que os pretensos liberais almejam, ou seja, um nível de consumo mais cada vez maior e com melhor qualidade.
No fundo, capitalistas e socialistas procuram atingir a mesma finalidade. Só a forma de bater essa meta é diferente. Por isso não conseguem enxergar como é inútil e infantil esse conflito entre duas concepções econômicas, porque, no fim de tudo o que vai definir o que está certo ou errado será o resultado que cada uma delas conseguir para o povo.
O que parece indesmentível no comportamento humano é que ele é motivado pelo sentimento que os filósofos chamam de hedonismo. E ele se define pela tendência inata que o nosso organismo têm para buscar o prazer e evitar a dor. Tudo que fazemos tem esse propósito. A forma pela qual o fazemos é da nossa escolha, mas nenhuma outra motivação nos faz sair da cama pela manhã para fazer as coisas que fazemos durante o dia.
O conflito que estamos vivendo hoje é a reação dos americanos contra o avanço dos chineses nos campos da economia e da geopolítica. E estamos sentindo as suas consequências porque elas já chegaram ao nosso país. Na verdade, o que motiva os capitalistas americanos é o perigo que está correndo o seu sistema de vida com a ascensão do sistema chinês. No caso do Brasil, Bolsonaro e suas dificuldades com a justiça são apenas o “bode da sala”. Uma ilusão que os simpatizantes da ideologia que ele defende criaram para justificar a sua escolha política. Se o ego do Ministro Alexandre de Moraes e os petistas do Lula, num lapso de consciência e humildade, acharem uma forma de tirar esse “bode da sala” sem ferir os seus egos inflados com a ilusão da sua própria verdade, toda essa fervura que a nossa volátil política está apresentado evaporará como um milagre feito por uma manhã de sol.
Mas é difícil renunciar às nossas ilusões porque são elas que fertilizam a nossa consciência. E elas nos fazem crer que são verdades em si mesmas e em razão disso devem ser defendidas como se fossem partes da nossa própria anatomia. E se fossem tiradas de nós seria como se estivéssemos sofrendo aleijões.
Precisamos dessas mentiras essenciais e dessas verdades inúteis para justificar os nossos atos. Pensar no futuro do planeta e numa possibilidade de extinção da raça humana em consequência do nosso modelo de vida é um problema tão grande que a nossa mente, quando se reporta a ele, tende a diminuir o seu tamanho. E tanto faz que nos leva a pensar que nunca teremos que enfrentá-lo. Por isso preferimos criar conflitos diários sobre concepções políticas, sistemas econômicos, simpatias clubísticas, preferências sexuais e outros assuntos, porque quando o problema é grande demais para a nossa mente, é melhor colocá-lo bem longe da nossa visão psíquica. Assim, podemos dormir sossegados e sonhar com um novo dia sem precisar admitir que ele pode não acontecer.