João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


MENTIRAS ESSENCIAIS, VERDADES INÚTEIS

 

Quantos quilos de carne são produzidos em troca da destruição de um quilômetro de florestas na Amazônia, no Cerrado ou no Pantanal? É uma conta difícil de fazer e por isso mesmo se torna uma pergunta tão difícil de responder que ninguém se dá ao trabalho de nem mesmo tentar.

É mais fácil calcular em quanto aumenta  a conta bancária do pecuarista ou do fazendeiro, o incremento do PIB e a arrecadação dos impostos que daí advém. Por isso os defensores do capitalismo sem controle justificam o seu predatório apetite pela produção em massa e pelo aumento do consumo desenfreado dos seus produtos sem se preocupar com o custo que toda essa ambição por uma ilusão de bem estar provoca. E na mesma esteira de entendimento, os defensores da chamada esquerda progressista, ainda que tenham um olhar mais compreensivo para esse problema, também estão longe de enxergar a verdadeira natureza da questão, porque, na verdade, o que eles querem é o mesmo resultado que os pretensos liberais almejam, ou seja, um nível de consumo mais cada vez maior e com melhor qualidade.

No fundo, capitalistas e socialistas procuram atingir a mesma finalidade. Só a forma de bater essa meta é diferente. Por isso não conseguem enxergar como é inútil e infantil esse conflito entre duas concepções econômicas, porque, no fim de tudo o que vai definir o que está certo ou errado será o resultado que cada uma delas conseguir para o povo.

O que parece indesmentível no comportamento humano é que ele é motivado pelo sentimento que os filósofos chamam de hedonismo. E ele se define pela tendência inata que o nosso organismo têm para buscar o prazer e evitar a dor. Tudo que fazemos tem esse propósito. A forma pela qual o fazemos é da nossa escolha, mas nenhuma outra motivação nos faz sair da cama pela manhã para fazer as coisas que fazemos durante o dia.

O conflito que estamos vivendo hoje é a reação dos americanos contra o avanço dos chineses nos campos da economia e da geopolítica. E estamos sentindo as suas consequências porque elas já chegaram ao nosso país. Na verdade, o que motiva os capitalistas americanos é o perigo que está correndo o seu sistema de vida com a ascensão do sistema chinês. No  caso do Brasil, Bolsonaro e suas dificuldades com a justiça são apenas o “bode da sala”. Uma ilusão que os simpatizantes da ideologia que ele defende criaram para justificar a sua escolha política. Se o ego do Ministro Alexandre de Moraes e os petistas do Lula, num lapso de consciência e humildade, acharem uma forma de tirar esse “bode da sala” sem ferir os seus egos inflados com a ilusão da sua própria verdade, toda essa fervura que a nossa volátil política está apresentado evaporará como um milagre feito por uma manhã de sol.

Mas é difícil renunciar às nossas ilusões porque são elas que fertilizam a nossa consciência. E elas nos fazem crer que são verdades em si mesmas e em razão disso devem ser defendidas como se fossem partes da nossa própria anatomia. E se fossem tiradas de nós seria como se estivéssemos sofrendo aleijões.

Precisamos dessas mentiras essenciais e dessas verdades inúteis para justificar os nossos atos. Pensar no futuro do planeta e numa possibilidade de extinção da raça humana em consequência do  nosso modelo de vida é um problema tão grande que a nossa mente, quando se reporta a ele, tende a diminuir o seu tamanho. E tanto faz que nos leva a pensar que nunca teremos que enfrentá-lo. Por isso preferimos criar conflitos diários sobre concepções políticas, sistemas econômicos, simpatias clubísticas, preferências sexuais e outros assuntos, porque quando o problema é grande demais para a nossa mente, é melhor colocá-lo bem longe da nossa visão psíquica. Assim, podemos dormir sossegados e sonhar com um novo dia sem precisar admitir que ele pode não acontecer.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/08/2025
Alterado em 05/08/2025


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