João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Todos conhecemos a velha anedota do país que foi dotado por Deus de enormes recursos naturais e uma beleza geográfica sem igual. E quando Deus foi cobrado por um dos seus anjos a  razão dessa preferência, ele disse: isso é para compensar o povinho feio e ignorante que eu vou colocar para viver lá.

Essa anedota se refere ao Brasil mas não é própria do nosso país. Todos os países que têm muitos recursos naturais e belezas geográficas, mas é contado no rol dos subdesenvolvidos, se encaixam nela. Já ouvi ela ser contada por mexicanos, peruanos, cubanos, vietnamitas e outros povos que vivem em países paradisíacos, mas seus povos são considerados subdesenvolvidos, econômica e culturalmente.  

Lembrei-me dela quando ouvi dizer que Trump quer transformar a Faixa de Gaza em um ressorte de luxo. Qualquer coisa parecida com uma nova Riviera. Faz sentido. A Faixa de Gaza só é feia por causa do povo que mora lá. Como é um povo pobre, feio e subdesenvolvido, pelos padrões ocidentais, eles transformaram um lugar de belas e aprazíveis praias em uma imensa favela. Trata-se de uma feiura que incomoda seus belos e ricos vizinhos israelenses.

Netaniahru, o primeiro-ministro israelense, parece que gostou da ideia do presidente americano e comprou-a com muito entusiasmo. Tanto que ninguém consegue demovê-lo da intenção de liquidar de vez com o povo palestino. Isso é o que justifica a limpeza étnica que ele vem promovendo lá, a qual, diga-se de passagem, os tresloucados terroristas do Hamas deram motivo para iniciar.

Tudo tem sentido. É mais fácil derrubar favelas e transformá-las em condomínios de luxo do que melhorar a vida das pessoas que moram nelas e ajudá-las a eliminar a própria feiura. As coisas não são diferentes por aqui. Se um povo é feio, pobre e subdesenvolvido, menos custoso e rápido é acabar com ele do que promover a sua ascensão, tornando-o bonito, culto e economicamente sustentável. Isso leva tempo, requer muita vontade e disposição, além de um desprendimento considerável que nenhum sistema político-econômico informado pelo lucro e pela ambição pessoal consegue alavancar. Como disse Machado de Assis pela boca de um dos seus personagens, "ao vencedor as batatas", o quer dizer que é melhor que o mais forte sobreviva mesmo que seja a custa da eliminação do mais fraco.

Essa filosofia também é que está guiando Trump na sua guerra contra os imigrantes nos Estados Unidos. É como se um grupo de sem-teto acampasse em frente à nossa mansão, trazendo todo tipo de constrangimento para a nossa abastada vida. Fica mais fácil pedir à polícia que tire esses miseráveis da nossa frente do que tentar fazer alguma coisa para que eles deixem de ser miseráveis. Para onde irão e como sobreviverão não é problema nosso. Só queremos tirá-los da nossa vista.

Já estive na Faixa de Gaza e posso aquilatar o sentimento do povo que vive lá. É claro que eu gostaria de um dia poder passar por lá de novo e ver que aquelas aprazíveis praias se tornaram uma Aruba ou uma nova Dubai. Mas habitada pelo povo que hoje vive lá e não só para mero desfrute de turistas endinheirados. Sem bombas caindo na cabeça deles e todos os dias enterrando milhares de corpos.. 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 08/08/2025
Alterado em 09/08/2025


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras