Uma questão que amiúde tem ocupado a cabeça de quem se envolve com esse tema é quais teriam sido os motivos que provocaram a rebelião de Lúcifer, porquanto se sabe que ele era um dos anjos preferidos de Elohim Deus Pai, juntamente com Miguel, seu filho dileto. Miguel e Lúcifer tinham o privilégio de serem também as duas primeiras potencialidades celestes que saíram da sua manifestação inicial para fora de si mesmo.
Assim, nessa primeira dimensão da realidade manifestada por Elohim Deus Pai, as hostes celestes eram capitaneadas por essas duas partes dele, uma que podia ser indicada como sua parte positiva, a outra que poderia fazer o papel de negativa, conquanto nas dimensões celestes elas não tivessem a conotação antagônica que assumiram quando se manifestaram na Terra. E há quem diga, como já informamos adrede, que havia uma equivalência de hierarquia entre os dois Elohins filhos que as gônadas sagradas de Elohim Deus Pai primeiro produziram. Pode ser. Afinal, essa trama serviu para costurar várias outras que se escreveram depois para dar uma impressão de continuidade histórica na saga da humanidade como as que se contam sobre Cain e Abel, Jacó e Esaú, Isaque e Ismael e outras que encontram nessa dicotomia entre o bem e o mal a fórmula para o desenvolvimento dos seus próprios enredos.
Acontece que quando Lúcifer se rebelou contra o seu Criador e foi condenado ao exílio cá no nosso planeta, ele se emancipou da personalidade de Elohim Deus Pai e criou para si uma imagem própria que encarnou todos os atributos da parte antagônica
dele. E aqui na Terra esses atributos passaram a ser considerados como mal, em oposição ao bem, que são as qualidades com as quais Elohim Deus Pai gostaria de dotar o seu protótipo humano. Lúcifer, cujo nome de origem era Samael, passou a ser conhecido por vários nomes, tais como Belzebu, Diabo, Satanás, Satan, Asmodeus, Tinhoso, Dragão e muitos outros, até para fazer frente ao próprio Elohim Deus Pai de quem se dizia ter dez bilhões de nomes, embora gostasse mesmo de ser chamado apenas de Deus. E Lucífer, conquanto ficasse conhecido por todos esses epítetos também escolheu o nome Diabo para se tornar conhecido pela maioria dos habitantes da Terra e muitos há que lhe prestam culto e até reverência como o verdadeiro senhor do mundo.
Temos para nós que foi a múltipla personalidade de Elohim Deus Pai que levou os nossos doutos teólogos a desenvolver a preciosa ideia de que Deus era único, mas nele conviviam três pessoas distintas que eram o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sem pensar que estavam fazendo dele um ser com transtorno dissociativo de personalidade, um personagem com três faces, como aquele encarnado por Eva White do famoso livro que também virou um filme de sucesso, ou aquele ícone de três faces que olha para o passado, o presente e o futuro, que aparece nos templos construídos pelos Cavaleiros Templários e é identificado por alguns estudiosos como sendo o demônio Baphomet. Três deuses em um ou um Deus em três, o que nunca se chegou a explicar como isso era possível, mas sabemos agora que não era nem uma coisa ou outra porquanto, na verdade, Elohim Deus Pai havia desdobrado a sua potencialidade única em setenta e duas partes para criar uma espécie de assembleia de anjos chamada Shem-hamphorasch e cada uma de suas partes constituía um atributo da sua personalidade. Esses atributos, cá entre nós chamados de arquétipos, cumpriam importante papel na construção do universo e no próprio equilíbrio dele, como dizia Platão em suas especulações, e isso foi o que serviu para os gregos e os demais povos da Terra criarem as suas concepções sobre os pleromáticos poderes aos quais estamos submetidos.
Lúcifer também era uma das suas partes, uma das mais poderosas e importantes. A ele, Elohim Deus Pai dera a incumbência de segurar o archote que simbolizava a chama da sua Luz infinita, que por definição e vontade dele próprio, seria o veículo que levaria a sua divina energia a todos os cantos do universo para preenchê-lo com a matéria que assumiria massa e forma. Talvez por isso Lúcifer tenha se arrogado tanta importância no processo de construção da realidade universal, que se sentiu no direito de reivindicar uma posição superior nesse mundo de intangíveis energias, ombreando-se inclusive ao próprio Criador.
Destarte, foi por conta dessa ambição, desídia do opositor, ou quem sabe, até necessidade estratégica do próprio Elohim Deus Pai, que Lúcifer dele se emancipou para constituir um polo negativo na corrente energética que dá vida ao universo. Porque é sabido que sem mal não haveria bem, o que é o mesmo que dizer que sem o Diabo não saberíamos da existência de Deus. Conquanto isso possa soar aos ouvidos fundamentalistas e conservadores como grosseira heresia, cumpre dizer que muitos doutores em teologia já esposaram a tese de que Demo est Deus Inversus, o que quer dizer que o Diabo é a outra cara de Deus, como uma moeda que tem duas faces.
Tudo isso referimos porque há quem diga que Elohim Deus Pai, antes de qualquer princípio que possamos imaginar, era um campo de energia que se movimentava dentro de uma única dimensão. Isso significa que ele não tinha as duas pontas necessárias para fazer circular a sua potência, pois é sabido que toda energia precisa de dois polos, um positivo e outro negativo, para poder manifestar sua força. E energia que não circula não serve para nada, o que quer dizer que se Elohim Deus Pai não fizesse circular a sua, sua existência também não teria nenhum sentido, como não tem a vida de uma pessoa que se queda inerte sem dar a ninguém notícia de sua presença ativa.
Destarte, foi por causa dessa inexprimível solidão cósmica que Elohim Deus Pai fez sair da sua sagrada personalidade as chamadas ordens angélicas, na forma de seres luminosos que nós conhecemos como anjos. Essas ordens eram em número de dez e funcionavam como células pelos quais ele manifestava a sua potência nessa dimensão a que os doutos deram o nome de Pleroma.
Posta a mesa e expostos os condimentos com os quais se tempera essa salada, voltamos ao tema para dizer que os Elohins Miguel e Lúcifer (que agora também já pode ser identificado pelo seu nome terrestre, Satanás, o Diabo), irmãos por origem e qualidade, eram as duas partes mais importante da personalidade de Elohim Deus Pai e tinham o mesmo status de importância no Pleroma, esse mundo que alguns imaginativos pesquisadores das realidades intangíveis convencionaram chamar de mundo da Existência Negativa. Nesse holozóico universo que só as mais ousadas imaginações conseguem penetrar, os dois disputavam a preferência de Elohim Deus Pai e ele elegeu Miguel, o que de pronto provocou a ira de Lúcifer e por tabela de um grupo de Elohins partidários dele. Criou-se, pois, no Pleroma, dois partidos antagônicos que passaram a disputar o poder e foi essa disputa que resultou na chamada Rebelião de Lúcifer, da qual se deu notícia nas crônicas oficiais.
Como dissemos, Satanás, ou Lúcifer, cujo nome de batismo, como vimos, é Samael, ganhou esse apelido justamente por ser ele o portador do archote que simboliza a centelha luminosa representativa da luz que transporta a energia divina pelo espaço cósmico, criando as realidades que conhecemos pela palavra processual natureza, e dentro dela, o que entendemos como matéria. Por isso há quem diga que ele, Lúcifer, nessas narrativas chamado também de Demiurgo, é o verdadeiro construtor do mundo.
Vá lá se saber. O que ninguém pode provar, ninguém também pode desmentir e dessa fórmula sofismática sobrevivem a grande maioria dos profissionais da mídia e da religião desde que a História começou a ser escrita. O que pouca gente se dá conta, entretanto, e os analistas políticos, sociólogos e cientistas do comportamento humano sequer suspeitam, é que a verdadeira razão de as pessoas estarem a se matar umas às outras desde o começo da Criação tem origem nessa dissensão política que o próprio Senhor de todos os mundos provocou com a sua monocrática decisão de nomear Miguel como seu unigênito filho, desprezando as pretensões de Lúcifer e dos demais entes celestes por ele gerado. Isso, sabemos nós, no seio de qualquer família, ou na política de qualquer país, sempre foi motivo de dissensão e conflito e não é porque estamos falando do sutil reino das potencialidades divinas que ele estaria a salvo desse nefasto resultado, pois onde existe a vontade medra também a ambição e onde ela nasce, a paz torna-se um produto muito escasso.
Destarte, mesmo sendo Deus que tudo pode e sabe, Elohim Deus Pai não tomou tento das consequências que essa medida iria provocar, primeiro entre suas próprias criaturas celestes e depois, mais graves ainda, no seio da sua família humana. É que em razão disso Lúcifer emancipou-se dele e ganhou vida própria como já informado. Tornou-se o seu principal opositor e foi nesse momento que o bem e o mal foram manifestados no mundo como polos de uma mesma relação de atividade, mas que, no entanto, vivem se digladiando pelo controle da corrente sanguínea do universo, cuja circulação passa exatamente pelas veias do ser humano.
A política tem suas nuances e os políticos os seus mistérios que detetive nenhum consegue esclarecer, principalmente quando se trata de uma teocracia com um governo autocrático, como se supõe tivesse sido o reino dos céus naqueles tempos. Até porque os gregos ainda não existiam para inventar a democracia e Elohim Deus Pai, nesses primórdios do universo se nos afigura como uma espécie de aiatolá que não permitia nenhuma oposição ao seu governo. Essa nos parece uma verdade indesmentível, provada já tantas vezes pelos processos de conhecimento mais confiáveis e pelas mídias mais respeitadas, uma vez que ele mesmo se define como um Deus ciumento e colérico que se vinga daqueles que estão contra ele e se enfurece contra os seus inimigos como disse pelo menos um dos seus porta-vozes tidos como oficiais. E se assim consta nas crônicas oficiais, não somos nós que vamos desmentir.
Dessa maneira começou essa guerra nos céus, que tem o seu reflexo na Terra até hoje. Lúcifer e sua trupe tornaram-se o símbolo do mal em contraponto à Elohim Deus Filho e sua trupe de anjos, que encarnam a ideia do bem. Isso explica todo o desenvolvimento posterior que esse infausto conflito pleromático trouxe para a história humana e o conjunto das suas crenças. E explica também porque Miguel, o unigênito filho de Elohim Pai, muitos séculos depois, teria que colocar-se na pele de um ser humano e oferecer-se em sacrifício para, supostamente, dar à humanidade uma chance de se livrar da influência dessa horda luciferina, o que, aliás, muita gente duvida que ele tenha conseguido, pelo menos até agora.
Nada mais lógico e passível de compreensão, porquanto é assim mesmo que se constrói a História: refilmagens de uma mesma película, com enredos extraídos de outra anterior, o que nos permite dizer que, no fundo, ela é uma espécie de franquia que trabalha um único tema com os mesmos personagens, só variando os ambientes e as diferentes facetas que cada um assume em face das necessidades do momento. Por isso é que o próprio Elohim Miguel é identificado com vários personagens que já frequentaram as crenças dos homens, sempre no papel de um redentor, assim como Lúcifer, que já reencarnou em muitos atores desse filme, não por acaso identificados com políticos e líderes religiosos ou sociais inconformados, que promovem sangrentas carnificinas para fazer valer as suas tortas concepções de mundo.
De todo esse imbróglio a conclusão que se tira é a de que a guerra entre o bem e o mal começou no Céu e foi trazida para a Terra com a infeliz decisão de Elohim Deus Pai de transformá-la numa colônia penal para os anjos rebeldes. E que, pelo menos por aqui, Lúcifer estava ganhando, pois além de implantar no planeta um núcleo populacional com a sua marca, também fez questão de omitir por completo para essa população qualquer menção de quem era o seu próprio Criador e a quem ele mesmo devia reverência. E com isso, Elohim Deus Pai, desconhecido e ignorado na Terra, era como alguém que não existia.
Por essa e por outras é que pensamos que a finalidade pela qual Elohim Deus Pai resolveu criar o homem Adão foi a de ter um agente que o tornasse conhecido no seio da sua própria Criação. Quer dizer, alguém que lhe servisse como propagador dos seus atributos. Mas não só, ao que parece. Além desse objetivo, digamos, midiático, queremos crer que ele também precisava de alguém para defender os seus interesses no planeta, porque, como vimos, ele tinha por aqui um rival já bastante ativo que estava desenvolvendo um reino paralelo em lugares não muito distante daquele jardim onde ele criou o homem Adão e o pôs para morar.
Disso sabemos porque as próprias crônicas oficiais informam que antes de Elohim Deus Pai ter produzido o seu protótipo de ser humano já havia por aqui criaturas semelhantes ao homem, ainda que de etnia diferente da do nosso pai Adão. Não se pode tomar essa informação como uma “fake news” porquanto são essas mesmas postagens que atestam que Cain, o amaldiçoado filho de Adão e Eva, após ser expulso da presença de Elohim Deus Pai, encontrou em terras a nascente do Éden uma esposa. Daí que, a não ser que essa mulher fosse sua própria irmã, ou um rebento oriundo de algum irmão (cujo assento não consta dos relatos oficializados) que sentou praça e constituiu família em algum lugar distante daquele em que Adão gerou sua prole, há que se admitir que a família do nosso presumível ancestral primevo já tinha uma considerável concorrência habitando no planeta. E, presumimos nós, essa concorrência ostentava já uma civilização bastante avançada, pois que costumava registrar em caracteres cuneiformes gravados em tabuinhas de barro tudo que rolava nas suas terras. E se não fossem esses registros, dizem, as crônicas oficiais não teriam sido escritas e nós não teríamos nem matéria para subsidiar a nossa imaginação sobre o que aconteceu nesses vetustos tempos da nossa origem.