NOVO ACORDO DE MUNIQUE?
Tendo assumido o poder na Alemanha, Hitler começou uma campanha para retomar os territórios perdidos na Primeira Guerra Mundial e aumentar seus próprios domínios. Era a chamada política do Lebensraum (espaço vital), projeto expansionista que pretendia reunir todos os povos de sangue alemão em um território único e ampliado. Começou por anexar a Áustria e ocupar a zona desmilitarizada que fora estabelecida nas fronteiras da Alemanha e da França. Depois Hitler se voltou contra a Checoslováquia, exigindo que os checos lhe entregassem a Sudetolândia, região onde uma expressiva população de sangue alemão vivia. A França e a Inglaterra, já preocupadas com a política expansionista de Hitler, mandaram seus primeiros-ministros a Munique para uma conferência com Hitler tentando demovê-lo da sua intenção de invadir a Checoslováquia para tomar deles a referida região, que a propósito, era a mais desenvolvida do país e ocupava um terço do território checo.
Os chanceleres da França e da Inglaterra, Daladier e Chamberlain, respectivamente, concordaram que Hitler convidasse o ditador italiano Mussolini para a conferência, mas não conseguiram convencer o ditador alemão que admitisse também a presença dos representantes do governo checoslovaco. Assim, os líderes das quatro potências decidiram o destino da Checoslováquia sem que o principal interessado participasse das discussões. O resultado foi que a Checoslováquia perdeu um terço do seu território e metade do seu produto interno bruto. Esse acordo, assinado na madrugada de 29 de setembro de 1938, ficou conhecido como o Acordo de Munique, um dos mais vergonhosos episódios da história dos eventos que levou o mundo à sua segunda guerra mundial em apenas uma geração.
Evocamos esse fato porque agora estamos presenciando eventos semelhantes. Trump e Putin, dois arrogantes autocratas se reuniram no Alasca para decidirem sobre o futuro da Ucrânia, e sequer convidaram um representante desse país para saber o que eles andaram discutindo. Sabe-se que os russos, para pararem a sua agressão contra a Ucrânia, querem anexar uma parte do território ucraniano. Aliás, já tomou uma boa parte desse território quando anexou a Criméia. E ao que parece, Trump concorda com essa espoliação.
Assim agem as potências mundiais. Decidem sobre a vida dos outros sem ao menos pedir a sua opinião. Fizeram isso com a Checoslováquia em 1938, e depois Hitler e Stalin repetiriam a receita dividindo entre eles o território da Polônia, o que levou finalmente, a Inglaterra e a França a abrirem os olhos e declararem guerra â Alemanha. William Shirer, repórter e escritor que escreveu uma das mais completas histórias sobre a ascensão e queda do Terceiro Reich, disse em um dos seus trabalhos que a era Hitler/Mussolini/Stalin e outros ditadores desses tempos, foi uma das épocas mais desprezíveis pelas quais a humanidade já passou. Queira Deus que ela não venha a se repetir justamente na nossa época, pois o comportamento dos nossos modernos líderes políticos não está sendo muito diferente dos ditadores que levaram o mundo à Segunda Guerra Mundial. Se naquela época tínhamos Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, etc. hoje temos Trump, Putin, Netanyahu, Maduro etc. Ao que parece, a História não é uma boa professora, pois com ela a gente não está conseguindo aprender nada.