João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O EVANGELHO DA PODRIDÃO

 

Uma das melhores coisas que a Constituição Republicana de 1891 fez foi separar o Estado da Igreja. O Brasil imperial estava umbilicalmente ligado à Igreja Católica e praticamente toda a vida espiritual, cultural e ética do país era informado pela teologia do Vaticano. O próprio imperador D. Pedro II teve como regente, durante a sua infância, um padre. Diogo Feijó, que além de político (fundou o Partido Liberal), era um respeitado filósofo.

Religião e política sempre estiveram ligados por profundos laços de interesse de parte a parte. Toda a nossa cultura política tem raízes na religião. A Bíblia é um claro exemplo dessa vinculação. Isso sem falar no Alcorão, nas escrituras sagradas do hindus, dos chineses, etc.

Em todos os tempos sempre se procurou desvincular a política da religião. Poucos povos conseguiram. Nem as melhores e mais bem-sucedidas democracias lograram bom êxito nesse mister. Reis, Imperadores, todos os potentados sempre apelaram para o poder divino para justificar suas próprias ambições. Não há acontecimentos políticos relevantes na História que não tenham raízes, ou não tivessem incorporado um elementos de religião em suas causas. Constantino só adotou o cristianismo como religião oficial do Império Romano por razões políticas. Maomé só fundou o Islã como contraponto às crenças pagãs adotadas pelos povos árabes. Martinho Lutero só se rebelou contra a corrupção da Igreja Católica porque ela só beneficiava uma elite que podia pagar por ela. E as guerras religiosas que sobrevieram por causa da sua Reforma é uma prova mais que contundente dessa verdade.

Em nossa opinião esse foi um dos grandes erros do governo Bolsonaro. Ele trouxe novamente para o debate político a questão religiosa com a sua adesão comprometida ao movimento evangélico. Nada contra os adeptos dessa crença, que aliás tem a nossa simpatia, mas não fica nada bem a um dirigente nacional manifestar preferências sectárias, inclusive colocando como condição para ocupar uma cadeira no STF, que o seu indicado fosse “terrivelmente evangélico” como ele disse ao indicar o seu amigo André Mendonça para o cargo.

A recente crise aberta com as divulgação das gravações das conversas entre o pastor Silas Malafaia (que parece ser o mentor da Família Bolsonaro) colocaram em aberto uma questão que até hoje ainda não foi debatida com seriedade: essa questão se resume no seguinte: qual é a linha evangélica seguida pela Família Bolsonaro? Se é a que o pastor Malafaia prega, é preciso fazer algumas reflexões a esse respeito, porque, ao que parece ele segue o chamado evangelho da prosperidade, que ao nosso ver, nada mais é do que uma farisaica e indevida utilização da religião com a específica finalidade de obter lucro ou influência política. Silas Malafaia, Marcelo Crivella, o casal Garotinho e outros membros desse clero são um claro exemplo da contaminação da política por esse ramo da religião avarenta e gananciosa.

Jesus expulsou os vendilhões que fizeram do Templo de Jerusalém um balcão de negócios. E também vituperava os fariseus e os saduceus que transformaram a religião de Moisés em rendosas sinecuras. Seria bom que Bolsonaro e seus seguidores não deixassem os seus bons propósitos serem contaminados por um evangelho podre como os desses novos fariseus. Pois como diz um ditado popular, "diz-me com quem andas que eu direi quem tu és."

 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 22/08/2025


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